Estado de São Paulo, n. 44.684, 19/02/2016. Economia, p. B3

Tombini descarta corte de juros no curto prazo

Presidente do BC disse que ‘quadro inflacionário não permite falar em distensão monetária’; próxima reunião do Copom será em 3 de março

Por: Célia Froufe

 

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini,afastou de forma clara ontem a possibilidade de a instituição vira cortar juros no curto prazo. Essa percepção já havia sido captada por alguns economistas do mercado financeiro que estiveram reunidos com representantes da autoridade monetária, incluindo Tombini, nos últimos dias, como registrou o ‘Broadcast’, serviço em tempo real da ‘Agência Estado’, terça-feira.

“Nessas circunstâncias, não há que se falar em espaço para distensão monetária”, afirmou na noite de ontem em entrevista à GloboNews. “O quadro inflacionário não permite falar em distensão monetária”, reforçou na sequência, acrescentando que as próximas decisões de política monetária serão tomadas depois dos dados que saírem nas próximas semanas.

O próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcado para os dias 1.º e 2 de março. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) apenas será conhecido no dia 3.

Tombini ressaltou que o mercado financeiro espera desinflação de três pontos porcentuais este ano e que o BC conta com uma redução ainda maior, já que a intenção é levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para baixo do teto da meta de 6,5% este ano. Segundo ele, a desinflação projetada para o primeiro semestre pelo BC é de dois pontos. “Um pouco para baixo, um pouco para cima”, disse.

Questionado sobre se o BC estaria mais preocupado com a queda da economia ou com a disparada dos preços, Tombini respondeu que a missão da instituição é controlar a inflação, ao lado de garantir a estabilidade financeira. “Naturalmente, a economia desempenhando como está, é uma força desinflacionária, há também inércia”, citou Tombini.

PIB do BC. Com relação à forte queda do IBC-Br em 2015 (ler mais na pág. B4), divulgado ontem, Tombini confirmou que a economia brasileira passou por uma contração no ano passado. Ele afirmou, porém, que o IBC-Br é um índice usado para o consumo interno do BC, e não é uma proxy do Produto Interno Bruto (PIB), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Saberemos em março o PIB de 2015”, lembrou.

Ele disse também que no fim do mês o BC vai atualizar sua projeção para o PIB de 2016, cuja última estimativa, de dezembro, é de -1,9%. Segundo Tombini, a revisão deve ser para baixo. O presidente do BC ressaltou, porém, que o mercado tem números maiores de contração. Para ele, o Brasil deve ver a retomada do crescimento “mais para o fim do ano”. “Devemos entrar em 2017 com algum crescimento no Brasil.” Durante a entrevista, Tombini também disse que ninguém gosta de contração econômica e enfatizou que, no BC, o olhar é sobre a inflação. Tombini enfatizou que o hiato do produto tem “força desinflacionária forte”.

“Veremos resultados sobre a inflação acumuladaem12 meses já a partir de fevereiro”, afirmou. Segundo ele, o Brasil tem se ajustado em várias dimensões, como a do setor externo, e também com a correção dos preços administrados.

 

Cenário

“Naturalmente, a economia desempenhando como está, é uma força desinflacionária, há também inércia.” “Devemos entrar em 2017 com algum crescimento no Brasil.”

Alexandre Tombini

PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

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CGU fará auditoria ‘preventiva’ em 26 estatais este ano

Programa, que começou no ano passado com quatro estatais, tem como foco tentar detectar e prevenir fraudes

Por: Mariana Durão

 

A Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Eletrobrá se a Eletronuclear estão na lista de 26 empresas estatais que serão auditadas neste ano pela Controladoria- Geral da União (CGU). O objetivo será avaliar os programas de compliance (integridade ou governança) adotados por essas companhias para prevenir, detectar e remediar fraudes e atos de corrupção. A CGU acaba de concluir os relatórios de análises piloto realizadas em 2015 no Banco do Nordeste (BNB), Eletronorte, Furnas e Correios.

A ação preventiva para fortalecer as organizações estatais foi motivada pelo estouro do escândalo de corrupção na Petrobrás, apurado na Operação Lava Jato. A Eletronuclear também é alvo de uma investigação da Polícia Federal para apurar um suposto esquema de pagamento de propina nas obras de Angra 3.

As instituições a serem auditadas pela Controladoria foram selecionadas para compor um espectro dos diferentes setores em diferentes estados e regiões do país. Cerca de 50 pessoas deverão compor as equipes de auditoria. A previsão é que até o final do ano todos os relatórios com resultados sejam publicados.

Resultados. Nas primeiras quatro auditorias, foram analisados 15 pontos, como o comportamento da alta administração, a eficácia de uma instância interna responsável pelas políticas de compliance e de canais de denúncia. A CGU apresentou um diagnóstico com propostas de melhorias às empresas.

A ideia é fazer um acompanhamento sistemático para verificar se houve evolução na área de governança. O relatório da CGU aponta que os Correios, por exemplo, não têm um Programa de Integridade constituído e aprovado pela alta administração. A estatal adota medidas para mitigar casos de corrupção e irregularidades, mas sua aplicação “se dá de maneira esparsa e não integrada”.

Além disso, o monitoramento das políticas de integridade é feito de forma dispersa por várias áreas. A Controladoria recomenda a elaboração de um Plano de Ação Geral, após a estruturação de setores responsáveis pela governança como o Departamento de Compliance e Gestão de Risco.

Em Furnas, a CGU considerou o programa de compliance incipiente, embora haja um engajamento da presidência da empresa no desenvolvimento de um programa integrado de integridade e ética. A companhia apresentou um plano de ação que deverá ser implementado até dezembro.