O Estado de São Paulo, n. 44.684, 19/02/2016. Metrópole, p. A13

Conta zika, papa admite o uso de contraceptivo

Francisco, porém, voltou a condenar aborto;OMS sugere abstinência após viagem

 

O papa Francisco classificou ontem como crime autorizar o aborto a mulheres afetadas pelo vírus da zika, como chegou a sugerir um executivo das Nações Unidas, mas considerou a contracepção um mal menor, em declarações à imprensa a bordo do avião que o levou do México de volta para a Itália.

“O aborto não é o mal menor, é um crime. É o que a máfia faz”, afirmou o pontífice, que precisou que é melhor nesses casos “evitar a gravidez, o que não é algo mau em absoluto”. O pontífice fez uma clara distinção entre o aborto e os métodos contraceptivos e citou o papa Paulo VI (1963-1978), que autorizou o uso da pílula a religiosas do Congo que temiam ser violentadas por bandos armados do país.

“Nãosepodeconfundiromal que representa evitar a gravidez com o aborto. O aborto não é um problema teológico. Matar uma pessoa para salvar a outra é uma maldade humana, não um mal religioso”, insistiu o chefe da Igreja Católica. “Peço ainda aos médicos que façam de tudo para descobrir as vacinas contra esses mosquitos (Aedes aegypti), que transmitem esses males. Que se trabalhe para isso”, concluiu o papa.

O pontífice não falou diretamente em preservativos, condenados pela Igreja, que prega que a contracepção é errada porque nada deveria impedir a possível transmissão da vida. No entanto, esse é o único método para evitar a transmissão pelo sêmen, conforme especialistas.

 

Abstinência. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu ontem que todos os homens e mulheres que retornam de regiões onde há transmissão do zika devem adotar “práticas sexuais seguras ou considerar a abstinência por um período de, pelo menos, quatro semanas”.

Em um guia chamado “A prevenção da potencial transmissão sexual do zika”, a organização também acrescentou que as pessoas que “vivem” nessas áreas “devem considerar práticas sexuais seguras ou abster se da atividade sexual”, sem especificar por quanto tempo. Às gestantes, sugere-se abstinência “durante toda a gravidez”.

Essas recomendações têm por base o fato de que a maioria das infecções por zika é assintomática e a transmissão sexual do vírus pode ser possível, embora as evidências disso se limitem a dois casos. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS