O globo, n. 30.147, 20/02/2016. País, p. 4

Dirigentes da OAS trataram de reformas para Lula, diz revista

Em troca de mensagens, obras em sítio e no Guarujá seriam para o ‘chefe’

O dono da empreiteira OAS, José Adelmário Pinheiro, mais conhecido como Léo Pinheiro, e o funcionário da empresa, Paulo Gordilho, trocaram mensagens por telefone sobre as reformas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia, dois imóveis relacionados ao ex-presidente Lula que são investigados na Operação LavaJato, segundo reportagem da revista “Veja” que será publicada hoje.

Uma das trocas de mensagem foi publicada pelo site da revista na noite de ontem, ao divulgar a capa da publicação. De acordo com a “Veja”, na época da reforma do sítio, em 2010, Paulo Gordilho escreveu a Pinheiro:

“O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se (puder) marcar com a Madame, pode ser a hora que quiser.”

Pinheiro responde ao funcionário: “Amanhã, às 19hs. Vou confirmar. Seria bom também ver se o do Guarujá está pronto”.

Gordilho replica: “Guarujá também está pronto”.

Léo Pinheiro finaliza: “Em princípio, amanhã às 19h”.

Sitio em Atibaia.

“Projeto da cozinha do chefe está pronto”, diz funcionário ao dono da OAS em mensagem de 2010

A troca de mensagens reforça a tese de que obras realizadas pela OAS no tríplex 164-A do edifício Solaris, no Guarujá (SP), e também no sítio de Atibaia, que pertence aos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, na verdade tinham como beneficiário final o expresidente Lula.

Procuradores que investigam o caso acreditam que a “madame” mencionada na troca de mensagens seria a mulher de Lula, Marisa Letícia. O “chefe” seria Lula. Depois que a reforma do imóvel do Guarujá veio à tona, o ex-presidente, que já havia pagado por boa parte de uma cota no edifício, desistiu de adquiri-lo.

Em depoimento ao Ministério Público, um gerente da loja Kitchens, especializada em itens de cozinha, afirmou que o executivo da OAS Paulo Gordilho foi pessoalmente encomendar e pagar os móveis da cozinha e da área de serviço do sítio em Atibaia.

Donos do sítio, Bittar e Suassuna são sócios de Fábio Luís, filho do ex- presidente Lula. Em nota divulgada no fim de janeiro, o Instituto Lula confirmou que Lula usava o espaço em momentos de lazer, mas escreveu que “a tentativa de associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do ex-presidente”.

 

Caso de Cunha na pauta de julgamento do STF

Análise do processo de investigação sobre Renan, por outro lado, é adiada

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal ( STF), liberou ontem para a pauta de julgamentos o inquérito que investiga se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu propina no valor de US$ 5 milhões para permitir a contratação de navios-sonda pela Petrobras. Com isso, Cunha pode virar réu ainda este mês. No mesmo dia, o ministro Edson Fachin determinou a retirada de pauta do inquérito que investiga se a empreiteira Mendes Junior pagou pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem uma filha.

A data do julgamento do caso de Cunha ainda será marcada pelo presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski. A previsão de Zavascki é que o inquérito de Cunha seja analisado pelo plenário do tribunal ainda em fevereiro. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia e, se os ministros a aceitarem, Cunha responderá a uma ação penal. Depois de analisada a denúncia, o STF deverá decidir se afasta ou não Cunha da presidência da Câmara e também do exercício do mandato, conforme pediu Janot.

Parte do inquérito contra Cunha foi subsidiado por depoimentos do lobista Fernando Baiano no contexto da Operação Lava-Jato. Segundo o delator, Cunha recebeu sua parte nos desvios da Petrobras não só em dinheiro, mas também em créditos para usar aviões particulares fretados por lobistas ligados ao esquema. Cunha também responde a outro inquérito no STF por suposta participação no esquema desvendado pela Lava-Jato. A investigação mais recente trata das contas abertas na Suíça em nome do parlamentar.

FALHA PROCESSUAL

O inquérito sobre Renan estava liberado para a pauta do Supremo desde o início do mês, aguardando Lewandowski marcar a data do julgamento. No caso, o plenário também decidiria se transformaria o inquérito em ação penal ou se o arquivaria. Ontem, diante de uma petição da defesa alegando que houve falha processual, Fachin decidiu tirar o inquérito da pauta. O relator encaminhou os autos para a PGR, que deverá emitir um parecer sobre a suposta falha no processo. Em seguida, Fachin decidirá que providência tomará.

Renan é acusado de falsidade ideológica, uso de documento falso e peculato. O caso veio à tona em 2007 e, na época, levou à renúncia de Renan da presidência do Senado.

O presidente da Câmara disse que não comentaria a liberação de seu inquérito. Segundo aliados, Cunha estranhou a coincidência na liberação de seu caso para a pauta e a saída do processo contra o presidente Renan Calheiros.

— Vamos ver o que o Lewandowski vai falar — provocou um aliado de Cunha.