O Estado de São Paulo, n. 44.688, 23/02/2016. Economia, p. B3

Mercado tem reação positiva à Lava Jato

Nova fase da operação da Polícia Federal, desencadeada ontem, ajudou a Bovespa a fechar em alta de 4,07%, enquanto o dólar recuou 1,94%

Por: Suzana Inhesta / Fabrício de Castro

 

Os mercados financeiros viveram ontem um dia de otimismo no Brasil, com notícias favoráveis vindas do exterior, principalmente da China, e, no cenário interno, a reação positiva aos desdobramentos da Operação Lava Jato, que iniciou uma nova fase. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em alta de 4,07%, aos 43.243,85 pontos.O dólar, por sua vez, fechou em queda de 1,94%, cotado a R$ 3,9417.

Foi o segundo dia útil consecutivo de queda do dólar à vista em relação ao real (-2,66% no período).

“O exterior, com a melhora do petróleo e as notícias vindas da China, justificam a queda do dólar ante o real. Mas o movimento de ‘compra de Brasil’ é potencializado pela Lava Jato.

Isso vale para o câmbio e também para a Bovespa”, disse Cleber Alessie Machado, operador da H. Commcor DTVM.

No caso da Lava Jato,a avaliação do mercado é que a decretação de prisão de João Santana, que cuidou do marketing das campanhas da presidente Dilma Rousseff, complicam ainda mais o governo. No limite, ações contra a chapa formada por Dilma e Michel Temer, que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (STE),podem em tese ter mais chances de sucesso.

“A volatilidade ainda está forte, mas notícias que deixam o impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff, mais perto são aplaudidas pelo mercado de capitais”, disse João Augusto Salles, analista da Lopes Filho.

Do lado internacional, o que influenciou o mercado, segundo o economista- chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo da Silveira, foi uma mudança de percepção de risco com a possibilidade de alterações na política no mercado de capitais da China, após o anúncio de novas medidas para o setor imobiliário e troca do diretor da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários (CSRC) do país.

Silveira lembrou ainda que o resultado ruim do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que mede a atividade nos setores industrial e de serviços, que atingiu o menor nívelem13 meses, traz a expectativa de novos estímulos por parte do Banco Central Europeu (BCE). Além disso, as valorizações dos preços das commodities no mercado internacional, em especial os do petróleo, também deram o tom positivo à Bolsa brasileira. O petróleo Brent para abril negociado em Londres fechou em alta de 5,09% ontem,enquanto em Nova York houve valorizações de 6,20% no barril do petróleo para entrega em março.

Dentre os destaques de alta na Bovespa, as ações preferenciais( PN,sem direito a voto)da Petrobrás subiram 13%e as ordinárias (ON,com direito a voto) tiveram alta de 16,14%.As preferenciais (PNA) da Vale, por sua vez, registraram crescimento de 8,17%, enquanto as ordinárias (ON) subiram 11,07%.

Entre os segmentos, os papéis de empresas do setor financeiro foram destaque. “O cenário não é dos melhores, mas os bancos estão melhorando sua eficiência operacional,diversificando receitas e criando robustez para sua tesouraria”, explicou Salles, da Lopes Filho. Itaú Unibanco PN subiu 4,04%; Bradesco ON, 5,56% e PN, 5,23%, Banco do Brasil ON avançou 4,61%e as units (ativos compostos por mais de uma classe de papéis,como uma ação e a um bônus, por exemplo) do Santander, 4,32%.

Já Bradespar ON teve alta de 11,74% e BB Seguridade ON registrou ganhos de 4,30%. Para Salles, o movimento das ações da Bradespar está relacionado ao da Vale, e o da BB Seguridade ao balanço financeiro apresentado ontem, que trouxe um bom resultado.

 

Perspectiva

“A volatilidade ainda está forte, mas notícias que deixam o impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff, mais perto são aplaudidas pelo mercado de capitais.” João Augusto Salles ANALISTA DA LOPES FILHO