O Estado de São Paulo, n. 44.688, 23/02/2016. Metrópole, p. A20

Vacina antidengue entra na última fase

Produto do Butantã será testado em 17 mil voluntários; ministério investirá R$ 100 mi

Por: Juliana Diógenes

 

O governo federal assinou ontem contrato com o Instituto Butantã para financiamento da terceira e última fase da pesquisa clínica para a vacina da dengue. O Ministério da Saúde vai investir R$ 100 milhões nos próximos dois anos para o desenvolvimento do imunizante. A vacinação de um grupo de voluntários teve início ontem, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Além dos recursos do Ministério da Saúde, estão sendo analisados R$ 100 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Outros R$ 100 milhões podem ainda ser investidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Ao todo, 17milvoluntários de 13 cidades nas cinco regiões do Brasil vão participar dos estudos clínicos, que devem durar um ano. Os pacientes serão acompanhados por cinco anos, mas a expectativa do Butantã é poder colocar a vacina no mercado em 2018.

Nesta etapa da pesquisa, dois terços dos voluntários serão vacinados e um terço receberá placebo – uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem efeito.

Com base nos exames coletados, a intenção é descobrir se quem foi vacinado ficou protegido e se quem tomou placebo contraiu a doença.

A vacina contra a dengue, que será desenvolvida pelo Butantã em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, tem potencial para proteger contra os quatro tipos de vírus da dengue com uma dose.

Ela será produzida com os vírus vivos, mas geneticamente enfraquecidos, de modo a não provocar a doença. “Vamos conseguir produzir vírus para até 100 milhões de doses por ano. Mas vamos ter capacidade de finalizar a vacina em 30 milhões de doses porque a parte de finalização precisa de uma série de investimentos”,afirmou o diretor do Butantã, Jorge Kalil.

 

Zika. Presente na cerimônia, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil dá “passos significativos”na direção do desenvolvimento de uma vacina da dengue e a preocupação do governo é também com a zika. “O desafio é chegar à vacina contra o vírus da zika. Um dos caminhos é esse,de transformar a vacina da dengue de tetravalente (contra os 4 tipos de vírus) em pentavalente, que cobriria também zika, ou desenvolver uma exclusiva para esse fim”, disse.Esses estudos, porém, estão em estágio inicial.

A presidente anunciou ainda R$ 8,5 milhões para financiar o desenvolvimento de pesquisas do soro contra o zika, que seria destinado a grávidas infectadas pelo vírus como objetivo de evitar a transmissão para o bebê.

Segundo Kalil, o desenvolvimento do soro pode ser “muito mais rápido” pela tradição da instituição em pesquisas sobre soros antivírus e antitoxinas.

O secretário estadual da Saúde,David Uip,disse que os estudos da vacina contra zika estão focados nas duas frentes sinalizadas por Dilma e disse que não faltarão verbas para estudos que levem ao desenvolvimento.

 

Corrida. A nova fase de testes da vacina do Butantã foi anunciada no mesmo dia que a concorrente Sanofi/Pasteur colocou seu produto em circulação nas Filipinas (mais informações ao lado). Para especialistas, a concorrência ajuda a acelerar o desenvolvimento da vacina nacional,que tem potencial superior. O infectologista Esper Kallas,da USP,aponta que a vacina estrangeira tem limitações que não a tornam ideal para ser aplicada no Brasil:depende de três doses, com seis meses de intervalo; tem eficácia média em torno de 65 % (mas com variação por sorotipo); é indicada para pessoas entre 9 e 45 anos; e é cara, em torno de ¤ 20 a dose (cerca de R$ 90)./ COLABOROU GIOVANA GIRARDI