O globo, n. 30143, 16/02/2016. País, p. 4

PT reúne conselho político e não debate as acusações contra Lula

Documento apresentado, porém, prega defesa como ‘ tarefa prioritária’

Por: Thiago Herdy

THIAGO HERDY E

DIMITRIUS DANTAS (*) 
opais@oglobo.com.br

 

- SÃO PAULO- O presidente do PT, Rui Falcão, negou ontem que a defesa do ex- presidente Lula tenha sido pauta da reunião do Conselho Político da Presidência do PT — que reuniu governadores, dirigentes, intelectuais e aliados para discutir conjuntura econômica e ataques ao partido em um hotel em São Paulo. Entretanto, apresentou aos conselheiros documento no qual propõe como “tarefa prioritária neste início de 2016 a montagem de uma poderosa bateria de ações, recursos, debates e mobilizações de solidariedade a Lula”.

Na manhã de ontem, cerca de uma hora antes do evento, Falcão já havia antecipado que “um dos temas prioritários” da reunião seria a “escalada de ataques contra o ex- presidente Lula”. Mas, em entrevista depois do encontro, disse que o assunto não fora pauta da reunião.

— Isso não ocorreu, isso não estava na pauta, isso não foi mencionado — afirmou.

O texto levado por Falcão aos conselheiros trata as denúncias contra o petista como “um ataque a todo projeto de Nação que se assente na busca de justiça, igualdade, liberdade”, e afirma se tratar da “confissão maior, pelas elites golpistas, de que não conseguirão impor o retorno de uma dominação excludente”. O documento não entra no mérito das acusações contra o ex- presidente e poderá sofrer adendos até o encontro de aniversário do partido na próxima semana, no Rio.

Lula participou do encontro, ao lado dos governadores Camilo Santana ( CE), Wellington Dias ( PI) e Tião Viana ( AC); do prefeito de São Paulo Fernando Haddad; do ex- ministro Gilberto Carvalho e de intelectuais e escritores ligados ao PT, como Emir Sader, Fernando Morais e Eric Nepomuceno. Estiveram presentes, ainda, sindicalistas e economistas colaboradores do PT.

 

“INVERSÃO DE VALORES”

Questionado sobre as acusações relacionadas ao uso por Lula de um sítio em Atibaia ( SP), reformado por empreiteiras investigadas na operação Lava- Jato, Falcão classificou as denúncias como “infundadas” e ilações sem fundamento”.

— O sítio tem escritura, nome de proprietário, e o proprietário faculta a visita a este sítio a quem ele quiser. Principalmente ao ex- presidente Lula, com quem um dos proprietários praticamente foi criado, desde sua infância — disse, mencionando o empresário Fernando Bittar, um dos donos do sítio, de acordo com o registro do cartório de imóveis de Atibaia, no interior de São Paulo.

Segundo Falcão, atribuir o sítio a Lula seria “inversão de valores e uma inversão dos fatos”.

— As pessoas têm que provar que são inocentes. No caso, embora a escritura esteja registrada em cartório em nome de outra pessoa, o presidente Lula é que tem que provar que não é dele? — reclamou.

Perguntado se os indícios levantados até agora seriam indicativos de problemas na relação de Lula com o imóvel, Falcão respondeu:

— São ilações sem fundamento, direcionadas contra uma pessoa.

Depois da reunião de ontem, a maioria dos conselheiros do PT preferiu não comentar as denúncias que envolvem Lula, argumentando que o encontro teria sido mais pautado por uma política econômica voltada para o crescimento. O governador do Piauí, Wellington Dias, comentou apenas que considerava “rasteiro o ataque à família” do ex- presidente.

— Nesse ramo que a gente vive, estamos preparados para trabalhar muito, apanhar muito e estar sempre animado — disse, com sorriso sem graça.

 

DIRETRIZES ECONÔMICAS

A Polícia Federal e o Ministério Público investigam se Lula seria o real beneficiário das melhorias no sítio de Atibaia pelas construtoras OAS e Odebrecht, investigadas pela Operação LavaJato. Documentos da Presidência apontam que Lula visitou o lugar 111 vezes entre janeiro de 2012 e o início deste ano. O endereço também recebeu parte da mudança do expresidente quando ele deixou o Planalto, no início de 2011. A assessoria de Lula vem argumentando que “qualquer tentativa de associá- lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular sua imagem”.

Um documento com diretrizes para retomar o crescimento econômico, discutido entre os participantes, também deve ser levado para debate no aniversário do partido. Entre as propostas estão pedido de redução da Selic e aumento do crédito. (* Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)