O Estado de São Paulo, n. 44.688, 23/02/2016. Política, p. A8

PF aponta 'possível' relação com Lula

Relatório da Polícia Federal analisa anotação ‘Prédio (IL)’ ao lado do valor R$ 12 milhões com a suspeita de que se refere ao Instituto Lula

Por: Ricardo Brandt / Andreza Matais / Mateus Coutinho / Fausto Macedo

 

A Polícia Federal apontou “possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em práticas criminosas” em relatório de 44 páginas anexado ao inquérito da Operação Acarajé - 23.ª etapa da Lava Jato. O documento complementa pedido de buscas do delegado Filipe Hille Pace, que analisa a anotação “Prédio (IL)” encontrada em celular do empresário Marcelo Odebrecht ao lado de valor superior a R$ 12 milhões.

“Em relação à anotação “Prédio (IL)”, a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica faça referência ao Instituto Lula. Caso a rubrica “Prédio (IL)” refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva.”

O documento pede “parcimônia” no tratamento a ser dado pelos investigadores à investigação de documento que cita o ex-presidente. “O possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional.”

O delegado aponta para uma planilha com anotações “possivelmente idealizada por Marcelo Bahia Odebrecht”. “Revelam, a partir do que foi possível apurar em esfera policial, o controle que o dirigente máximo do Grupo Odebrecht tinha sobre a destinação de recursos, à margem da lei, ao Partido dos Trabalhadores.”

O relatório faz menção, ainda, ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015 na Lava Jato.

“Há, em anotação do celular de Marcelo Bahia Odebrecht menção a palavra “Prédio”. Na nota, a palavra está acompanhada de “Vaca”, sendo que a conclusão alcançada foi a de que seriam disponibilizados recursos a João Vaccari Neto.”

 

‘Valor quebrado’. O documento pontua a composição do montante de R$ 12,42 milhões supostamente destinado à construção do Instituto Lula - três vezes o valor de R$ 1.057.000,00 (3.171.000,00), acrescidos dos valores de R$ 8.217.000,00 e 1.034.000,00.

“As investigações policiais conduzidas na Operação Lava Jato demonstraram que a negociação de vantagens indevidas, quando se referiam a transferências bancárias no exterior ou disponibilização do recurso em espécie, permaneciam, geralmente, em números inteiros (...). Não é crível que o agente corrompido solicitasse a disponibilização, em espécie, de valores quebrados, tal como R$ 1.057.000,00. Valores ‘quebrados’ foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de porcentuais - no caso dos contratos da Petrobras - e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas precisamente”. / RICARDO BRANDT, ANDREZA MATAIS, MATEUS COUTINHO e FAUSTO MACEDO

 

Inquérito

Inquérito da Polícia Federal investiga se obras realizadas no sítio em Atibaia, frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram pagas por empreiteiras investigadas na Lava Jato.

 

TRECHO

‘‘Valores quebrados’ foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de porcentuais e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas presicamente...

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Instituto do ex-presidente afirma que informações ‘não procedem

Em nota, entidade ligada a Lula declara que sede ‘nem existia em 2010’ e funciona em ‘sobrado adquirido em 1991’

 

O Instituto Lula informou por meio de nota que as informações contidas no relatório da Polícia Federal anexado ao inquérito da Operação Lava Jato “não procedem”. Documento com 44 páginas apontam “possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em práticas criminosas”.

O relatório analisa a notação “Prédio (IL)” localizada no celular do empresário Marcelo Odebrecht ao lado do valor superior a R$ 12 milhões. A suspeita é de que IL faça referência a Instituto Lula. “O Instituto Lula foi fundado em 2011. Ou seja, nem existia em 2010. Ele deu continuidade ao Instituto Cidadania, e funciona, como o Instituto Cidadania funcionava, em um sobrado adquirido em 1991. Caso a reportagem do Estado de S. Paulo, ou o delegado vissem a data de criação do IL ou a data da construção da sua sede veriam que a suposição não procede”, diz a nota.

O relatório da Polícia Federal em que o instituto é citado inclui uma recomendação para que o possível envolvimento do ex-presidente na investigação seja tratado com “parcimônia”, sem que as autoridades deixem de cumprir seu “mister constitucional”.

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Em vídeo do partido, PT faz desagravo a líder sem citar Dilma

Programa de 10 minutos fala nos que hoje ‘tentam manchar a história de Lula’; PT e governo já esperam ‘panelaços’

Por: Vera Rosa / Igor Gadelha

 

O programa de televisão do PT que será exibido hoje em cadeia nacional faz um desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No vídeo de cerca de 10 minutos, o partido afirma que setores da sociedade e da oposição estão desrespeitando as regras e caluniando o petista.  A presidente Dilma Rousseff foi convidada a gravar, mas alegou problemas de agenda e não aparece no vídeo. O governo e o PT foram informados de que haverá “panelaços” hoje à noite, na hora da exibição do programa.

“Já tentaram anular o resultado das eleições, não conseguiram. Aí, pediram para recontar os votos. Queriam ganhar no tapetão, mas não deu certo. Quiseram, então, instalar uma comissão do impeachment na marra. Tiveram que mudar o plano. Agora, atacam e caluniam o presidente Lula. Desrespeitam todas as regras para chegar ao poder a qualquer custo”, diz o programa, assinado pelo marqueteiro Edson Barbosa.

No vídeo, o PT destaca que os que hoje tentam “manchar a história” de Lula não conseguirão o seu intento. “Os que tentam manchar sua história, Lula, são os mesmos de ontem, os preconceituosos que nunca aceitaram suas ideias e suas origens”, narra um locutor. Na tela aparecem, então, vários recortes de jornal mostrando a trajetória do ex-presidente.

 

Privacidade. O programa diz que a privacidade de Lula está sendo invadida e manifesta solidariedade a seu principal líder. “Tudo isso passa, Lula. A luta é antiga e vamos vencer novamente, porque você permanece sendo a voz de um país pobre que se fez forte, que se fez novo. Isso é o que importa, isso é o que fica.”

Lula não menciona as acusações e investigações das quais vem sendo alvo. O petista faz um discurso otimista, mas admite erros. “As pessoas que falam em crise, crise, crise repetem isso todo dia e ficam minando a confiança do nosso País. (...) É verdade que erramos, mas acertamos muito mais e podemos melhorar (...). Temos tudo para voltar a crescer”, afirma o ex-presidente, após citar avanços de governos petistas, que, segundo ele, incomodam gente que não gosta de “dividir a poltrona dos aviões” com os mais pobres.

Embora a presidente não apareça, a propaganda do PT cita conquistas dos governos “Lula e Dilma”, como o Bolsa Família e a inclusão social.

No vídeo, o PT também questiona “por que tanto ódio” contra o partido. “Erros se corrigem, dificuldades passam, o povo sabe disso”, diz. A legenda afirma que todo mundo tem o direito de defender suas ideias, mas que tem horas que é preciso ser “maior que nós mesmos”. “A hora não é de defender as bandeiras que separaram, é de reunir forças para fortalecer o Brasil”, conclama o partido. /VERA ROSA e IGOR GADELHA

 

PARA LEMBRAR

Duda Mendonça admitiu caixa 2

Em depoimento à CPI dos Correios em 2005, o marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, confessou ter recebido R$ 10,5 milhões em uma conta nas Bahamas, chamada Dusseldorf, como parte do pagamento pela campanha nacional do PT.

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Haddad declara que sua campanha não é investigada

Por: Ricardo Galhardo / Juliana Diógenes

 

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), usou uma frase do delegado Filipe Pace, da Polícia Federal no Paraná, para dizer que a campanha que elegeu o prefeito Fernando Haddad (PT) em 2012, sob o comando de João Santana, não é alvo de suspeitas.

“O próprio delegado deixou claro que não há indícios de ilegalidade nos pagamentos feitos a João Santana, no Brasil”, diz uma nota enviada pela Secom.

O delegado disse ontem que “a gente não está investigando campanha eleitoral”.

De acordo com a Secom, todos pagamentos feitos ao publicitário em 2012 ocorreram com “moeda nacional corrente” e foram declaradas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Sobre o pedido de prisão de Santana, Haddad disse em entrevista à Rádio Estadão na manhã de ontem que “às vezes, é constrangedor” estar exposto por ter vida pública, mas acrescentou que faz parte do jogo democrático prestar esclarecimentos. “Não podem pairar dúvidas sobre o comportamento de ninguém que está na vida pública e, às vezes, é constrangedor, mas é da vida. Você que está na vida pública escolheu uma exposição”, afirmou o prefeito.

“A pessoa que está envolvida na vida pública, não é o caso dele, ele presta serviço para partidos e políticos, está sujeita a um tipo de investigação que é da democracia.”

O petista cobrou que seja assegurado a João Santana o direito de defesa, o que “muitas vezes não é observado”. “Às vezes, a gente fica um pouco preocupado se o direito dos investigados está sendo respeitado. Se estiver, não tem o que dizer.”

Para o petista, as campanhas municipais de 2016 serão “muito melhores” sem as doações de empresas. “A pior coisa é a mistura do dinheiro com política. Política tem de ficar longe do dinheiro” disse Haddad.

 

Alerta

“A pessoa que está envolvida na vida pública, não é o caso dele (João Santana), ela está sujeita a um tipo de investigação que é da democracia”

Fernando Haddad

PREFEITO DE SÃO PAULO