O Estado de São Paulo, n. 44.688, 23/02/2016. Política, p. A10

O 'Patinhas' que elegeu sete presidentes

Publicitário das principais campanhas petistas sempre manteve reserva sobre valores recebidos por trabalhos vitoriosos

Por: Luiz Maklouf Carvalho

 

João Santana, marqueteiro

“Como é que você me reduz a 10% do que eu valho?”, brincou o marqueteiro João Santana com o também marqueteiro, escritor e amigo Marcelo Simões. Falavam ao telefone, tempos atrás. Simões havia afirmado, em uma reportagem, que Santana ficou milionário. “Bota aí uns US$ 50 milhões, para mais”, disse.

A cogitação foi informada ao próprio Santana, antes da publicação, mas ele limitou-se a rir e a resmungar uns palavrões sobre a inconfidência do amigo. Reclamou depois, a seu modo, com a tirada dos 10%. Nunca desmentiu o valor, nunca disse que era menos, ou que era mais.

O silêncio sempre foi a resposta quando perguntas do tipo foram feitas - ou a Santana, ou à sua esposa e sócia Mônica Moura, que é quem cuida dessa e de quase todas as questões práticas e administrativas que envolvem o marqueteiro e suas empresas. “São números confidenciais, que só interessam à empresa”, já afirmou a empresária a respeito.

 

Imóveis. O fato é que João Santana - que cobra caro - fez um sólido patrimônio imobiliário. Tem um bom apartamento em um bairro chique de Salvador, uma casa de oito quartos na praia de Interlagos, na Bahia, outra casa confortável na praia de Trancoso, uma fazenda em Tucano e outra em Barreiras, cidade vizinha.  Mais recentemente, segundo a Polícia Federal, comprou, em São Paulo, um apartamento estimado em R$ 3 milhões. Viaja com frequência para o exterior, sempre com Mônica, principalmente Nova York e Paris. “Adoro essas duas cidades e já não sou um turista acidental”, já disse.

Os números disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral mostram que nas principais campanhas do PT, entre 2002 e 2014, a Polis Propaganda e Marketing, de Santana, recebeu R$ 229 milhões. Desses, R$ 140 milhões das campanhas da reeleição de Lula (2006), e as duas de Dilma Rousseff (2010 e 2014).

Em janeiro do ano passado João Santana informou que, além da Polis, com sede em Salvador, existem quatro outras empresas internacionais: a Polis Argentina (Buenos Aires e Córdoba), a Pólis América (Panamá), a Polistepeque (El Salvador) e a Polis Caribe (República Dominicana, onde o casal estava trabalhando, na candidatura à reeleição do presidente Danilo Medina, quando teve a notícia dos mandados de prisão). Os valores recebidos nas campanhas internacionais nunca foram informados.

Além das três eleições presidenciais no Brasil, João Santana já venceu outras quatro, elegendo ao todo sete presidentes em cinco países: Mauricio Funes (El Salvador, 2009). Danilo Medina (República Dominicana, 2012), José Eduardo dos Santos (Angola, 2012) e Hugo Chávez e Nicolas Maduro (Venezuela, 2012).

Baiano da cidade de Tucano, no sertão, onde seu pai foi prefeito, da Arena, João Cerqueira de Santana é avô de quatro netos, dois para cada filho, um casal. Fez 63 anos em 5 de janeiro passado.

É capricorniano - dos que levam essas coisas a sério. Já contou, por exemplo, que mantém uma relação espiritual com o físico italiano Ettore Majorana, morto e/ou desaparecido em 1938, com 32 anos. “Tenho uma relação misteriosa e cotidiana com ele”, revelou, a sério, em uma entrevista em meados de 2013.

 

‘Patinhas’. Ganhou seus primeiros 15 minutos de fama como letrista da banda Bendegó, nos anos 70. Era Patinhas, então, apelido que ganhou na escola por muito cioso com o caixa do grêmio. Teve uma atirada experiência com música, drogas e a contracultura.

Eram tempos da ditadura. Virou jornalista - também do jornal alternativo Boca do Inferno, que foi fechado pela repressão. Passou por alguns veículos da grande imprensa - como a revista Veja e o jornal O Globo.

João Santana é coautor da reportagem que revelou o motorista Eriberto França - peça-chave para provar a ligação entre o presidente Fernando Collor de Mello e seu tesoureiro de campanha, PC Farias, que acabou levando ao impeachment do hoje senador. “Testemunha chave” foi publicada em 1.º de julho de 1982, na revista IstoÉ. J. Santana Filho era diretor da sucursal da Brasília.

Ganhou o Prêmio Esso da Reportagem daquele ano, com os colegas Augusto Fonseca e Mino Pedrosa. Depois disso é que abandonou o jornalismo para virar marqueteiro - primeiro trabalhando com Duda Mendonça, e depois em voo solo.

 

‘Para mais’

US$ 50 mi é o valor da fortuna do marqueteiro João Santana, segundo seu amigo, o também marqueteiro Marcelo Simões, que, em entrevista, afirmou sobre o patrimônio de Santana: “Bota aí uns US$ 50 milhões, para mais”. Santana nunca desmentiu o valor, se era menos ou mais.

 

Clientes.

A presidente Dilma Rousseff com João Santana e o ex-presidente Lula em reunião durante o 2º turno da campanha presidencial da petista, em 2010, ano vitorioso para Dilma

 

CRONOLOGIA

1970

Faculdade

Universitário de Jornalismo, é repórter em Salvador e letrista do grupo Bendegó, com Gereba Barreto e José Ventura dos Santos (o Kapenga). Assina como “Patinhas”.

 

1980

Jornalista

É repórter da sucursal da revista Veja, em Salvador, e chefe de redação do Jornal do Brasil, em Brasília. Depois, assume o cargo de assessor da Prefeitura de Salvador (durante a gestão Mário Kértesz), de 1986 a 1988.

 

1990

Marqueteiro

Diretor da sucursal da Istoé, em Brasília. Ganha o Prêmio Esso de Reportagem de 1992. Abandona o jornalismo e vira marqueteiro.

 

1994

Primeira campanha

Santana começa a trabalhar com o marqueteiro Duda Mendonça. Sua primeira campanha vitoriosa é a de Garibaldi Alves (PMDB) ao governo do Rio Grande do Norte.

 

1996

Celso Pitta

Trabalha, para Duda Mendonça, na campanha que elege Celso Pitta prefeito de São Paulo.

 

1998

Argentina

Campanha vitoriosa de Manuel de La Sota, para governador de Córdoba, Argentina, com Duda Mendonça.

 

2000

Palocci

Atua na campanha vitoriosa do petista Antônio Palocci à prefeitura de Ribeirão Preto, com Duda Mendonça. É então que conhece Lula e outros dirigentes petistas.

 

2001

Rompimento

Rompe com Duda Mendonça na pré-campanha da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

 

2002

Delcídio

É responsável pela campanha vitoriosa de Delcídio Amaral (PT) para senador de Mato Grosso do Sul.

 

2003

Romance

Lançamento do romance Aquele sol negro azulado.

 

2004/2005

Exterior

Trabalha em campanhas na Argentina.

 

2005/2006

Pós-mensalão

A pedido do então presidente Lula, assume sua campanha à reeleição pós-mensalão.

 

2008

Marta

Faz a campanha de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo. Perde para Gilberto Kassab.

 

2012

Haddad

Comanda a publicidade da campanha vitoriosa do então candidato petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

 

2014

Dilma

Responsável pela campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, reassume a função durante a campanha à reeleição da presidente.

Senadores relacionados:

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Carros antigos, lancha e vida de ostentação

Zwi Skornicki, empresário representante da Keppel Fels

Por: Alfredo Mergulhão / Constança Rezende

 

Admirador de carros antigos e de luxo, o empresário Zwi Skornicki ficou ontem sem sua coleção de automóveis na Operação Acarajé, a 23.ª fase da Lava Jato. As imagens divulgadas pela Polícia Federal mostram dez veículos que foram recolhidos, entre eles, um Alfa Romeo Spider, um Mercedes-Benz 280 SL Pagoda e um Porshe 911 Targa 1978. O engenheiro também teve recolhidas obras de arte e uma lancha.

Os automóveis foram apreendidos nos imóveis do empresário, no Rio e em Mangaratiba, onde os policiais levaram um iate da marca italiana Ferretti. O barco foi adquirido na empresa Elo Náutico, do empresário Milton Strauss.

“Meu relacionamento com ele (Skornicki) é mais comercial que de amizade. Mas o considero uma pessoa séria. É um homem muito inteligente”, disse Strauss. Ele não revelou o modelo nem o preço do iate comprado por Skornicki, mas as embarcações da marca custam de R$ 3 milhões a R$ 20 milhões.

Em fevereiro do ano passado, o engenheiro teve parte do seu acervo apreendido na Lava Jato. Ao todo, foram 48 obras de arte avaliadas em mais de R$ 10 milhões.

Com 42 anos de atuação na área de petróleo e gás, Skornicki foi diretor superintendente da Odebrecht Perfuração Limitada e sócio de Alfeu Valença, ex-presidente da Petrobras, durante sete anos, na consultoria Conpet.  Desde 1988, possui a Eagle do Brasil, em sociedade com a mulher, Eloisa, e o filho Bruno. A empresa funciona em um prédio comercial na Rua da Quitanda, no centro do Rio. O endereço é o mesmo da Keppel Fels, estaleiro que Skornicki representa no Brasil.

De acordo com a força-tarefa da Lava Jato com base em relatório da Receita Federal, o patrimônio de Skornicki aumentou 35 vezes entre 2003 e 2013. De R$ 1,8 milhão, passou para R$ 63,2 milhões nesse intervalo.