O Estado de São Paulo, n. 44.688, 23/02/2016. Política, p. A12
Delcídio adia volta e nega chantagem
Por: Vera Rosa
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou ontem que tem uma “defesa consistente” e negou a intenção de fazer delação premiada, em troca de uma possível redução de pena, caso seja condenado. “Todo mundo que me conhece sabe que eu nunca chantageei nem ameacei ninguém e não vou mudar depois de velho”, disse Delcídio ao Estado. “Eu posso ser tudo, menos chantagista. Isso não condiz com o comportamento que sempre tive”.
Ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, Delcídio foi solto na sexta-feira, depois de 86 dias preso, sob acusação de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Ele ainda não retornou às atividades e não sabe quando voltará, pois espera esclarecimentos sobre as restrições impostas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, como a obrigatoriedade de recolhimento noturno e a proibição de conversar com outros investigados.
Ao Estado o senador declarou que, nos próximos dias, pretende dar os últimos retoques no pronunciamento que fará no plenário. “Vou fazer essas coisas com muita calma. Mas vou marcar posição. Minha defesa é muito consistente e eu estou confiante”, comentou Delcídio.
Questionado se teria cartas na manga para pressionar colegas a absolvê-lo no Conselho de Ética, o senador mostrou contrariedade. “Você acha que eu, dependendo do Conselho de Ética, vou para cima do Senado? O que é isso? Eu tenho responsabilidade”, comentou.
Em dezembro, a Rede e o PPS protocolaram representação no Conselho, com apoio do PSDB e do DEM, para cassar o mandato de Delcídio por quebra de decoro parlamentar. Se isso ocorrer, ele perde o foro privilegiado de julgamento no Supremo e o seu caso passa a ser analisado pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, que tem fama de ser duro com investigados da Lava Jato.
O PT ameaça expulsar Delcídio, mas a decisão final não será tomada agora. Na reunião do Diretório Nacional petista, marcada para sexta-feira, no Rio, a tendência é que o partido prolongue a suspensão do senador, fixada inicialmente em 60 dias.
“Não existe o fator preocupação em relação a Delcídio”, amenizou o presidente do PT, Rui Falcão. “É um direito dele fazer sua defesa e ver qual o melhor caminho.”
CAE. Apesar das manifestações hoje mais cautelosas, o desejo na bancada do PT e no Palácio do Planalto é que o senador abra mão da presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das mais importantes do Senado, para a colega Gleisi Hoffmann (PT-PR).
O argumento é que, com o gesto, ele sairia dos holofotes e evitaria constrangimentos para o partido e o governo. “Vou conversar com o partido, com tranquilidade”, observou Delcídio, sem querer adiantar os próximos passos.
Diabético e com gastrite, o senador passou ontem por consulta com um clínico geral e deverá fazer novos exames médicos ainda hoje. Ele também lê e relê trechos da Bíblia e voltou a folhear o livro Jerusalém - A Biografia, de Simon Sebag Montefiore.
Delcídio telefonou ontem para vários senadores, negando estar fazendo ameaças para não ser cassado. A todos, disse que especulações nesse sentido não passam de “babaquice”.
“Não existe o fator preocupação em relação a Delcídio. É um direito dele fazer sua defesa”
Rui Falcão, presidente nacional do PT, sobre a possibilidade de expulsão do senador
Exames
O senador e ex-líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS) decidiu adiar o retorno ao Senado. Delcídio, segundo pessoas próximas, deverá realizar ao longo da semana uma bateria de exames médicos.