O Estado de São Paulo, n. 44.688, 27/02/2016. Política, p. A13

Valec é alvo de operações por fraudes em ferrovias

Camargo Corrêa entrega evidências contra ex-presidente da estatal sobre obras de construção das vias de integração Norte-Sul e Oeste-Leste

Por: Andreza Matais / Fábio Fabrini / Fausto Macedo

 

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta, 26, a Operação O Recebedor, que investiga um esquema de corrupção envolvendo grandes empreiteiras na construção das ferrovias Norte-Sul e de Integração Oeste e-Leste (Fiol). A ação foi feita a partir de informações obtidas pela Operação Lava Jato nos acordos de colaboração firmados pela Camargo Corrêa e seus executivos.

As investigações revelaram práticas de corrupção, formação de cartel e lavagem de dinheiro ilícito obtido por meio de superfaturamento das obras públicas. Somente no Estado de Goiás foi detectado desvio de R$ 630 milhões nas obras, considerando-se somente trechos da Ferrovia Norte-Sul. Dezenove empreiteiras envolvidas nas obras foram alvo de mandados de busca e apreensão, incluindo Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Junior, Serveng, Constran, OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Melo e CR Almeida.

Nos depoimentos de colaboração, os executivos da Camargo Corrêa entregaram provas contra o ex-presidente da Valec, a estatal das ferrovias, José Francisco das Neves, o Juquinha. Ele foi afastado do cargo, em 2011, por suspeita de corrupção, na “faxina” da presidente Dilma Rousseff, e já responde a ação por lavagem de dinheiro supostamente advindo do esquema de corrupção.

Conforme as colaborações, Juquinha teria recebido R$ 800 mil em propina da Camargo. Indicado à presidência da Valec em 2003 pelo PR - partido do deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), seu padrinho político -, Juquinha precisou do aval do ex-senador José Sarney (PMDB-AP) para assumir o cargo na estatal.

A Camargo, que é alvo da Lava Jato, já anunciou acordos de colaboração com o

Ministério Público Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por meio dos quais se comprometeu a devolver mais de R$ 800 milhões aos cofres públicos. Pelo envolvimento especificamente no esquema de cartel e corrupção na Valec, os executivos da construtora acordaram o pagamento de R$ 65 milhões.

Os investigadores concluíram que empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e mais duas empresas sediadas em Goiás, indicadas por Juquinha, usadas como fachada para maquiar a origem lícita para o dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.

O nome da operação é referência à defesa apresentada por Juquinha na operação Trem Pagador, que investigou desvios nas mesmas obras. Seus advogados alegaram que, “se o trem era pagador, o alvo não era o recebedor”. Juquinha foi preso na ocasião.

Campanhas. O procurador Hélio Telho disse acreditar na possibilidade de envolvimento de políticos no esquema de corrupção nas ferrovias ou formação de caixa 2 para financiamento de campanhas. “Talvez tenha (envolvimento de políticos).”

As investigações da Trem Pagador a cargo da Procuradoria de Goiás mostraram que um vasto patrimônio atribuído a Juquinha e avaliado em R$ 60 milhões, foi posto em nome do ex-dirigente, parentes e laranjas

 

Goiás

R$ 630 mi é o valor desviado nas obras de construção do trecho da Ferrovia Norte-Sul no Estado de Goiás, segundo a Polícia Federal, em esquema de corrupção envolvendo empreiteiras.

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Empreiteiras afirmam estar ‘disponíveis’

Por: Andreza Matais / Fábio Fabrini / Fausto Macedo

 

A Odebrecht declarou que nada foi apreendido em sua sede no Rio. Em nota, reafirmou que está, “a bem da transparência, assim como seus executivos, à disposição das autoridades.” O Grupo Galvão sustentou que a PF estava atrás de contratos e documentos “relativos a eventuais negócios com empresas” com as quais não tem “nenhuma relação comercial”. “Nada foi apreendido”, afirmou.

A Queiroz Galvão também informou que não foram encontrados documentos “de interesse da investigação” em seu escritório, em São Paulo. A empreiteira se disse “à disposição das autoridades”.

A Barbosa Melo negou envolvimento em irregularidades e também destacou que a PF não localizou material útil ao inquérito nas buscas. A Mendes Júnior e a Constran alegaram que não se pronunciam sobre investigações em andamento.

O Estado não conseguiu localizar José Francisco das Neves, o Juquinha, e não obteve contato com Serveng e CR Almeida. A OAS não retornou a e-mail enviado para sua assessoria de imprensa. / A.M., F.F. e F.M.