O Estado de São Paulo, n. 44.692, 27/02/2016. Política, p. A10

Dilma estica viagem oficial a Santaigo

No dia do aniversário do PT, presidente decide voltar ao País apenas na noite de hoje, e não à tarde, para se reunir com empresários chilenos

Por: Rodrigo Cavalheiro

 

A presidente Dilma Rousseff estendeu sua estada no Chile, onde faz visita oficial à presidente Michele Bachelet, para atender a um compromisso com empresários e economistas chilenos - o que dificulta sua ida à festa de 36 anos do PT nesta noite, no Rio. A previsão era de que ela voltasse às 13h de hoje, para chegar a tempo às comemorações de seu partido, mas vai retornar às 21h, conforme agenda divulgada ontem à noite pelo Planalto. A agenda não prevê a participação de Dilma na festa. O tempo de deslocamento de Santiago até Brasília é de quatro horas.

A visita oficial da presidente a Michele Bachelet pegou a diplomacia dos dois países de surpresa. O sub-secretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe, Paulo Estivallet, teve a confirmação apenas na semana passada. Ele atribuiu a pressa na concretização da visita a um segundo semestre apertado na agenda de Dilma, com os Jogos Olímpicos e a presença na reunião das Nações Unidas. “O fato de o Chile ter conseguido organizar uma recepção em tão pouco tempo mostra a amizade entre os dois países”, afirmou o diplomata.

Foram convocados 25 empresários brasileiros para acompanhar a delegação. Era prevista uma reunião privada deles com Dilma no fim da tarde de ontem. Na manhã de hoje, será a vez de empresários chilenos, em menor número, ocuparem a agenda da presidente. Não ficou claro por que os dois grupos não participaram do mesmo encontro, se um dos motes da viagem é a integração e a presidente costuma encurtar ao máximo seus compromissos no exterior.

Na posse do argentino Mauricio Macri, em dezembro, Dilma chegou meia hora atrasada e saiu antes do almoço oficial. Ficou mais tempo nos voos entre Brasília e Buenos Aires do que em solo argentino. Na Cúpula do Mercosul em Assunção, no mesmo mês, ficou três horas no país.

Depois de se reunir com os empresários chilenos, ela visitará a secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, e debaterá com analistas econômicos.

Em entrevista ao jornal chileno Mercurio, Dilma sentiu-se à vontade para defender o ajuste fiscal criticado por boa parte de sua base política. Destacou que foram cortados R$ 134 bilhões em 2015 e projetou outros R$ 23,4 bilhões este ano. Na mesma entrevista, ela elogiou parte da oposição. Militantes petistas, no entanto, têm usado as redes sociais para criticar o governo por ter contribuído para a aprovação de um projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que flexibiliza a exploração do pré-sal por empresas estrangeiras.

Dilma foi informada de que as críticas do PT contra o ajuste serão ampliadas neste fim de semana, fator decisivo para afastar-se da celebração.

 

PDT. No dia 22 de janeiro, Dilma resolveu fazer um afago ao PDT, seu antigo partido, ao participar da reunião do diretório nacional da legenda.

O partido transformou o encontro num ato contra o impeachment da petista. Durante a sua fala, a presidente fez ainda uma homenagem ao ex-governador Leonel Brizola e lembrou que incluiu recentemente o nome do fundador do PDT no livro dos Heróis da Pátria. Morto em 2004, Brizola completaria 94 no dia 22.

Enquanto participava do ato, a presidente ouviu da plateia gritos de “volta para casa” e “vem, Dilma”. Durante o evento, chegou a afirmar que se sentia entre “amigos” .

 

Amizade

“O fato de o Chile ter conseguido organizar uma recepção em tão pouco tempo mostra a amizade entre os dois países”

Paulo Estivallet

DIPLOMATA

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Presidente convida deputada tucana para conversa

Por: Daiene Cardoso / Daniel Carvalho

 

Num gesto de aproximação com a oposição, a presidente Dilma Rousseff convidou a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) para uma conversa na próxima quarta- feira, no Palácio do Planalto. O pretexto para o encontro será as ações de combate ao zika vírus.

A iniciativa da presidente ocorre um mês após ela ser vaiada no Congresso, durante a abertura do Ano Legislativo, ao defender a volta da CPMF e a reforma da Previdência.

Na ocasião, a deputada tucana conseguiu desconcentrar Dilma ao interromper seu discurso por três vezes. “O Brasil não consegue cuidar do seu povo”, gritou a tucana quando Dilma pregava a adaptação do sistema de saúde para atender crianças com microcefalia. Incomodada com as interrupções, a petista respondeu que sabia do engajamento da deputada com a causa e disse esperar que ela contribuísse na busca de soluções com “boas ideias”.

Mara foi orientada pelo PSDB a se limitar a levar propostas e não avançar em outros assuntos, como o impeachment. A deputada disse que levará as demandas da população com deficiência e a preocupação com a geração de crianças vítimas do zika vírus. “Não quero que ela me use por uma questão política. Meu foco é específico na saúde e quero contribuir. E me parece que ela está preocupada com a mesma coisa que eu”. / DAIENE CARDOSO e DANIEL CARVALHO

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Resolução do PT pede resgate da política econômica de Lula

Documento do partido defende diretrizes do ex-presidente e explicita divergências entre a sigla e o Palácio do Planalto

Por: Ricardo Galhardo / Vera Rosa / Luciana Nunes Leal

 

Na pior crise de seus 36 anos, o PT demarcou ontem as diferenças em relação ao governo Dilma Rousseff e pediu a volta da política econômica levada a cabo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião do Diretório Nacional, o PT aprovou um conjunto de resoluções que escancaram as divergências entre partido e governo, irritando o Palácio do Planalto.

Após sete horas de debates, o partido lançou o Plano Nacional de Emergência para a área econômica, que propõe 22 medidas para combater a crise, entre elas o uso das reservas internacionais do País para retomar o crescimento econômico e a criação de novos impostos. “Vivemos, de fato, uma encruzilhada entre o passado e o futuro”, diz o documento “O futuro está na retomada das mudanças”.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o objetivo do texto é resgatar as bandeiras econômicas de Lula. “A lógica das propostas é retomarmos, nas condições atuais, o que era o núcleo da política econômica do governo Lula”, disse ele. “Qual o problema de ter opinião divergente da do governo? O próprio PMDB não apresentou um plano econômico?”, emendou Jorge Coelho, um dos vice-presidentes do PT, numa referência ao documento do PMDB intitulado Uma Ponte para o Futuro.

Em uma resolução política sobre a conjuntura, também aprovada ontem, o PT expõe críticas à política econômica de Dilma. “O PT não aceita que o caminho para o equilíbrio fiscal seja pavimentado por sacrifícios do povo trabalhador”, diz a resolução. “É inadmissível que projetos de reforma fiscal impliquem cancelamento de direitos, arrocho salarial ou enfraquecimento do nosso projeto de inclusão social.”

As desavenças não se resumem à área econômica. Em um terceiro documento, a cúpula petista conclama a militância a participar de uma campanha em defesa da Petrobrás e contra o projeto que tira da estatal a exclusividade na exploração do pré-sal. A proposta recebeu sinal verde do Senado, na quarta-feira, com apoio do governo.

“Nós somos favoráveis à manutenção integral da lei do pré-sal instituída no governo Lula. Vamos lutar com nossa bancada na Câmara para que o que foi aprovado no Senado seja derrubado”, disse Rui Falcão.

Na noite de ontem, o Planalto divulgou agenda que não prevê a participação da presidente na festa de 36 anos do partido, marcada para hoje à noite. Dilma está no Chile e sua assessoria alega que o horário pode ficar apertado para que ela compareça ao ato político, ao lado de Lula. Na prática, porém, ela ficou contrariada com as críticas do PT e chegou a cancelar sua participação no evento. “Não tem essa crise. Se ela não puder vir, deve enviar uma nota”, disse o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.

Falcão desautorizou o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, que disse ao Estado não fazer questão da presença de Dilma na festa. “Isso não reflete a opinião do conjunto do partido. Foi um momento de irritação.”

Apesar das críticas, a cúpula petista aprovou texto reiterando apoio a Dilma no processo de impeachment no Congresso.

 

‘Impeachment preventivo’. O PT também fez uma defesa veemente de Lula, alvo de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Um dos trechos da resolução política aprovada sustenta que a oposição quer o “impeachment preventivo” de Lula, na tentativa de barrar sua eventual candidatura em 2018.Na avaliação do PT, o regime de “delações sem prova, vazamentos seletivos e investigações unilaterais, tão marcante na Operação Lava Jato”, ameaça a “legalidade democrática”.

 

“A lógica é retomarmos o que era o núcleo da política econômica do governo Lula”

Rui Falcão, presidente nacional do PT

Órgãos relacionados:

  • Senado Federal
  • Câmara dos Deputados
  • Congresso Nacional

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Após mal-estar, governo reconsidera pré-sal

Palácio do Planalto vai trabalhar para derrubar na Câmara projeto de Serra, mesmo após ter negociado substitutivo
Por: Ricardo Galhardo/ Vera Rosa / Luciana Nunes Leal

 

Diante da resistência do PT, o governo vai trabalhar para derrubar na Câmara dos Deputados o projeto do senador José Serra (PSDB-SP), aprovado no Senado, que desobriga a Petrobrás de ser a operadora única e manter uma participação mínima de 30% nos consórcios de exploração da camada pré-sal.

“Quem está apostando em racha entre o PT e o governo pode tirar o cavalinho da chuva”, disse o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, após participar, nesta sexta, 26, da reunião do Diretório Nacional do partido, no Rio. “Nenhum governo cala a boca do PT”. O capítulo sobre o papel da Petrobrás elevou a tensão entre o PT e o Planalto e foi um dos principais temas do encontro petista.

Wagner desembarcou no Rio com a missão de amenizar o mal-estar. “Eu não vim de bombeiro, até porque ninguém bombera. Mas, quem gosta de ver o circo pegando o fogo, não vai ver isso”, afirmou ele.

 

Serenar. A portas fechadas, o ministro disse aos dirigentes do PT que o projeto aprovado no Senado foi um “mal menor” porque a proposta de Serra era “um liberou geral”, mas ouviu queixas dos companheiros de partido, para quem o governo capitulou.

“Eu disse para eles: ‘Gente, pelo amor de Deus. O que for erro nosso, vamos lá... Mas o governo não mudou nada. Quem puxou para derrotar a urgência do projeto do Serra? Quem segurou um ano esse projeto? Na medida que a gente perdeu a urgência, que a votação ia acontecer, nós fomos para o menos ruim”, declarou.

Desde quarta-feira, quando Wagner e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, negociaram com o relator do projeto, Romero Jucá (PMDB-RR), um texto alternativo, abrindo mão de manter a Petrobrás como operadora única do pré-sal, a insatisfação do PT com o governo atingiu o auge.

“Eu acho que tem gente ficando apavorada fora de hora. Eu saudei muito a posição do PT de fazer uma campanha em defesa da Petrobrás. E disse aos companheiros: quem defendeu a partilha e a operação única da Petrobrás fomos nós. Foi o nosso governo”, destacou Wagner. Na mesma linha, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, tentou jogar água na fervura. “O governo precisa do PT e o PT precisa do governo”, comentou.

O texto acordado prevê que Conselho Nacional de Política Energética “oferecerá à Petrobrás a preferência para ser o operador dos blocos a serem contratados sob o regime de partilha de produção”. A versão de Jucá não garantia o direito de preferência, uma vez que dizia que o CNPE “poderá oferecer” à estatal o direito de preferência. / V.R., R.G. e L.N.L.

Senadores relacionados:

  • José Serra
  • Romero Jucá

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  • Câmara dos Deputados
  • Senado Federal