Título: Vaccarezza em apuros
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 02/10/2011, Política, p. 6

Nos últimos meses, líder do governo e Planalto repetiram a cena que começa por um gesto afoito do deputado e termina com uma reprimenda da presidente

Cândido Vaccarezza (PT-SP) assumiu a liderança do governo no último ano de Lula à frente do Planalto. Deputado de primeiro mandato ¿ foi eleito em 2006, ainda embalado pelo prestígio político da hoje senadora Marta Suplicy (PT-SP) ¿ , evoluiu rapidamente na carreira de articulador da bancada petista na Câmara. Em janeiro de 2010, chegou ao seu ápice na Casa, substituindo Henrique Fontana (PT-RS) no papel de principal negociador do Planalto com os deputados aliados. Na campanha de reeleição para a Câmara, abusou do bom humor, tendo como principal jingle a música Macarena, trocando o nome no refrão pelo próprio nome. Depois de algumas trapalhadas nesses primeiros nove meses de governo Dilma, o mesmo refrão passou a ser entoado também no gabinete presidencial: "Êêêê, Vaccarezza!".

O apoio incondicional da presidente Dilma no início do ano começa a dar lugar ao desgaste e à falta de paciência. Entre os principais auxiliares palacianos, Vaccarezza passou a ser visto como alguém que age por motivação própria, desatento na defesa do Executivo e ressentido por não ter sido escolhido ministro de Relações Institucionais. Dilma escolheu Ideli Salvatti e não gostou de saber que ele se colocou como ministeriável, buscando apoio junto à bancada do PT ¿ inclusive no grupo que o preteriu por Marco Maia (PT-RS) na eleição para a Presidência da Câmara.

A condução dos trabalhos também passou a ser questionada. Durante o debate sobre a regulamentação da Emenda 29, Vaccarezza opinou que o recurso extra para a saúde poderia vir da liberação dos jogos de azar. Dilma ficou furiosa, ligou para Ideli e disse a ela que Vaccarezza teria de voltar atrás. O ministro da secretaria-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, também vocalizou a posição da presidente. "O governo não tem posição favorável em relação (à legalização) ao jogo. Não achamos que seja uma fonte saudável" disse ele. Vaccarezza nunca mais tocou no assunto.

Ajuda amiga Outro ponto que provocou urticárias no Executivo Federal foi a eleição do representante da Câmara para o Tribunal de Contas da União (TCU). Dilma procurou manter-se neutra o máximo possível, embora demonstrasse afinidade com a candidatura de Ana Arraes (PSB-PE). Vaccarezza expressou simpatia pelo amigo pessoal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), parlamentar que é visto com profunda reserva no Planalto. Especialmente após a votação do Código Florestal, quando o comunista apresentou vários pontos no relatório contrários aos interesses do governo. "Qualquer deputado, inclusive do PT, poderia até apoiar o Aldo. Vaccarezza não, porque ele é líder do governo. Seus gestos serão sempre institucionais", alertou deputado petista.

A mais recente discórdia envolveu o recém-nascido PSD, partido que tende a aproximar-se do governo federal. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a nova legenda na terça-feira à noite. No dia seguinte, Vaccarezza anunciou que convidaria o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP), para o próximo almoço de líderes da base aliada. "Ele precisa ser menos afoito, as coisas não são assim", reclamou um assessor palaciano. Para esse interlocutor, o que mantém Vaccarezza no cargo é a ausência completa de opções na bancada de deputados para promover a substituição. "Tem que ser alguém do PT, mas quem? Dilma olha, olha e desanima com as alternativas existentes", completou o auxiliar.

Vaccarezza assegura que não corre riscos no cargo. "Eu jamais faria algo ou me posicionaria de forma contrária aos interesses do governo na Câmara", assegurou. Ele disse que não fez campanha para Aldo e garante que jamais ouviu uma bronca da presidente Dilma Rousseff. "Ela nunca gritou comigo", declarou ele, ao Correio.

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