O Estado de São Paulo, n. 44.669, 04/02/2015. Política, p. A4

Planalto entra na blindagem a Lula e avaliza CPIs para investigar tucanos

Crise. Com medo da criação da CPI da Bancoop, que poderá apurar a relação da família do ex-presidente com o condomínio Solaris, no Guarujá, governo e PT propõem comissões centradas em casos suspeitos das gestões do PSDB em São Paulo e em Minas Gerais

Por: Daniel Carvalho / Daiene Cardoso

 

Diante do aumento da pressão da oposição sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT, com o aval do Palácio do Planalto, tenta blindá-lo no Congresso e evitar que as investigações da Operação Lava Jato afetem o governo da presidente Dilma Rousseff.

A estratégia para proteger Lula passa pela coleta de assinaturas para criação de duas CPIs na Câmara que têm governos tucanos como alvo, bem como a distribuição para deputados de uma cartilha editada em três línguas com a defesa do partido e também do ex-presidente petista e a utilização do plenário da Câmara e do Senado como tribuna de defesa dele.

Anteontem, o PT deu início a campanha, no rádio, na TV e na internet, para defender Lula. A partir de agora, o partido terá o reforça do Planalto e da base de Dilma, apesar de, em privado, ministros e assessores da presidente reconhecerem que as explicações dadas pelo ex-presidente para as suspeitas contra ele foram insuficientes até agora e deixaram muitas perguntas sem respostas.

As medidas da blindagem têm como primeiro objetivo responder ao plano da oposição de apresentar requerimentos para convocar Lula para depoimentos e de criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários (Bancoop) e sua relação com o PT. A mulher de Lula, Marisa Letícia, teve a opção de compra de uma unidade no condomínio Solaris, no Guarujá (SP), investigado pela Lava Jato e pelo Ministério Público paulista.

 

Oposição. Após o carnaval, deputados petistas passarão a coletar assinaturas para criar as CPIs da máfia da merenda escolar, com foco no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e da Mineração, com foco no senador e ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB).

A primeira pretende investigar denúncias de superfaturamento e pagamento de propina em contratos de merenda escolar em São Paulo, que envolvem secretários do governo tucano e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Fernando Capez (PSDB).

Já a outra CPI pretende se debruçar sobre apuração do Ministério Público de Minas Gerais que investiga como a mineradora Samarco conseguiu autorização do governo estadual para a construção da barragem de Fundão, que rompeu em novembro do ano passado.

Em reunião com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, para a condução de Afonso Florence (BA) à liderança do partido na Câmara, deputados receberam uma cartilha intitulada “Em defesa do PT, da verdade e da democracia”, editada em português, inglês e espanhol. O material foi publicado no fim do ano passado.

O presidente do partido pediu que os deputados petistas saíssem em defesa de Lula em discursos e na internet.

A ordem foi obedecida de imediato e gerou mais discussão que as avaliações a respeito da visita da presidente Dilma Rousseff ao Congresso, no dia anterior, na tentativa de estabelecer diálogo para levar adiante propostas polêmicas como a reforma da Previdência e a recriação da CPMF. “Respeitem a história do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, bradou o ex-líder da bancada Sibá Machado (AC).

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Oposição critica PT por defesa a ex-presidente

Por: Isabela Bonfim

 

A oposição criticou ontem a estratégia do PT de defender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. O presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), disse que essa não deve ser a pauta do Legislativo. “No que depender de mim, não vou trazer esse caso para o embate político. Lula é investigado pela área competente e ele vai poder se defender das acusações”, afirmou.

Segundo senador, neste momento o Congresso deve ser um espaço de debate de propostas para sair da crise.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que “assuntos de polícia devem ficar com a polícia”. Ele criticou o fato de senadores petistas terem anteontem feito a defesa de Lula logo após a presidente Dilma Rousseff ter discursado na Câmara.

“No outro plenário, a presidente veio com tom de apoio e conciliação.

Minutos depois, no Senado, não fizeram uma referência à vinda da presidente ao Congresso e partiram para a agressão a senadores do PSDB e ao ex-presidente Fernando Henrique.” O Ministério Público paulista intimou Lula e sua mulher, Marisa Letícia, a depor, como investigados, sobre um tríplex no Guarujá (SP). / ISABELA BONFIM

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MP apura se mudança foi para sítio de Atibaia

Fotógrafo que trabalhou para empresa de transporte ouviu de dirigente que objetos de Lula foram para o local

Por: Andreza Matais/ Fábio Fabrini / Daiene Cardoso

 

O Ministério Público Federal requereu à empresa Granero Transportes documentos sobre a mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua família do Palácio da Alvorada para São Paulo ao deixar o governo, no fim de seu segundo mandato.  O objetivo é confirmar se a empresa levou parte dos objetos pessoais do petista para um sítio em Atibaia (SP). Esse seria mais um indício de que a propriedade pertence ao ex-presidente, embora esteja em nome de empresários amigos de sua família e sócios de um de seus filhos.

A primeira informação sobre o envio da carga para Atibaia foi publicada pelo Estado em 2011. Um prestador de serviços da transportadora, ouvido pelo jornal nos últimos dias, confirmou que o refúgio no interior paulista foi um dos destinos.

O sítio é investigado na Operação Lava Jato por suspeita de que as empreiteiras OAS e Odebrecht pagaram por reformas no local, o que seria uma compensação por contratos obtidos em órgãos públicos. Há indícios, segundo os investigadores, de que o ex-presidente ocultou patrimônio.

 

Imagens. Fotógrafo que trabalhou para a Granero em 2011, registrando imagens da mudança, Orípedes Antônio Ribeiro afirmou, em duas entrevistas, que alguns caminhões levaram objetos do Alvorada para Atibaia.  Ele explicou que fez imagens da chegada dos caminhões apenas em São Bernardo do Campo (SP), onde o ex-presidente mantém um apartamento, mas que um dos dirigentes da empresa lhe relatou, na ocasião, que outros veículos foram para o sítio no interior paulista. “Não fiz o sítio, mas sabia que para lá foram presentes que ele (Lula) ganhava de outros governos. Obra de arte era em Atibaia, vinho caro.”

Orípedes afirma que, na época, perguntou para um dos responsáveis pela empresa para onde iriam os 11 caminhões. “Estava na época com o Emerson (Granero, diretor executivo da transportadora) fazendo as fotos (em São Bernardo). Perguntei e me disseram que tinha ido para Atibaia”, acrescentou.

A Granero foi contratada para fazer a mudança pelo governo. O Estado questiona a transportadora há oito dias sobre os locais da entrega. A empresa alega que os dados estão em seu arquivo morto e que os entregará ao Ministério Público.

O Instituto Lula não respondeu a questionamentos sobre a mudança. O ex-presidente já confirmou que frequenta o sítio em dias de descanso.  Uma parte da área está registrada em nome de Fernando Bittar e a outra, de Jonas Suassuna. Ambos são sócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho do petista. As duas frações, contíguas, não são divididas por cerca ou muro.

 

Destino

“Não fiz o sítio, mas sabia que para lá foram presentes que ele (Lula) ganhava. Obra de arte era em Atibaia, vinho caro”

Orípedes Antônio Ribeiro

FOTÓGRAFO QUE REGISTROU A MUDANÇA

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Uma história de amizade que virou moradia

Relação do ex-presidente Lula com empresário Roberto Teixeira chegou a ser alvo de inquérito

Por: Adriano Ceolin

 

O provérbio “amigos, amigos, negócios à parte” não vale para a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o fim dos anos 1980, ele e seus filhos se utilizam de amizades para emprestar ou adquirir imóveis. Quase sempre, nos negócios, surge alguma relação que gera suspeita de órgãos de fiscalização.

Na semana passada, o Ministério Público decidiu que vai ouvir o ex-presidente sobre o negócio envolvendo um apartamento tríplex no Guarujá (SP) construído pela OAS Empreendimentos. Por meio de nota, Lula confirmou que visitou o imóvel ao lado do então presidente da empresa, Léo Pinheiro.

Há 18 anos, Lula teve de explicar à Polícia Civil e ao MP como comprou um apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, com a ajuda do advogado Roberto Teixeira. Compadre do ex-presidente, ele ajudou Lula a adquirir dois outros imóveis na cidade.

Em 1989, Teixeira ficou conhecido nacionalmente por emprestar uma casa para Lula morar quando ele disputou pela primeira vez a Presidência da República. Entre 1996 e 2001, Teixeira ajudou Lula a adquirir três imóveis em São Bernardo do Campo. Em todos os casos, há o envolvimento de empresas em situação falimentar para as quais Teixeira prestou serviços advocatícios.

Moradia oficial dos Lula da Silva, o apartamento de cobertura no edifício Green Hill foi comprado por sugestão de Teixeira. Ele trabalhava para Dalmiro Lorenzoni, dono da empreiteira que fez o prédio.  Em 1998, o Ministério Público abriu um inquérito para apurar um suposto crime de sonegação fiscal envolvendo Lula, Teixeira e a empresa. Na oportunidade, suspeitou-se que a incorporadora foi beneficiada por uma decisão da prefeitura de São Bernardo do Campo, anos antes, em 1991, quando administrada pelo PT. Então prefeito interino, Djalma Bom (PT) revogou a desapropriação de uma área de 3,3 mil da empresa de Dalmiro.

Quatro anos depois, parte da área legalizada foi comprada pelo então vice-presidente nacional do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh. Um ano depois, em 1996, Lula comprou um apartamento em construção pela mesma Construtora Dalmiro Lorenzoni Construções.

Lula comprou o imóvel de Luiz Roberto Satriani, que prestava serviços de terraplenagem para Dalmiro. Em 1997, questionado na época, Satriani afirmou que vendeu o apartamento porque não tinha dinheiro para pagar o restante das parcelas.

Aberto a pedido do Ministério Público em 1998, o inquérito policial só foi encerrado em 2003, quando Lula já havia tomado posse como presidente da República e Greenhalgh era deputado federal. Por conta disso, os autos foram remetidos para o Supremo Tribunal Federal.  Um ano depois, a Procuradoria-Geral da República solicitou o arquivamento e o STF atendeu ao pedido. Em 2005, o caso foi arquivado. Nem Teixeira nem Lorenzoni sofreram ações. Ontem, procurados pela reportagem, Lula e Greenhalgh não quiseram se manifestar. Lorenzoni não foi encontrado.

 

Defesa. Procurado pela reportagem, o advogado Roberto Teixeira afirmou, por meio de nota, que “nunca houve intermediação” de imóveis para Lula. “Atuo como advogado do presidente e foi nessa condição que o orientei na aquisição dos imóveis”, disse.  Sobre negócios com empresas em situação falimentar, Teixeira afirmou que “não houve nenhum problema jurídico na aquisição dos imóveis”. Teixeira afirma ainda ser alvo de “um claro movimento que busca atacar” sua “honra”.