O Estado de São Paulo, n. 44.669, 04/02/2015. Política, p. A5

Moura volta a acusar Dirceu em depoimento

Empresário contou à Justiça detalhes da indicação de Renato Duque para a Petrobrás

Por: Fausto Macedo / Ricardo Brandt

 

O empresário e lobista Fernando de Moura refez ontem seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal de Curitiba, e voltou a afirmar que o ex-ministro José Dirceu foi o responsável pela indicação de Renato Duque para a Petrobras.

Moura disse ter ouvido do ex-ministro da Casa Civil (gestão Lula) a confirmação de indicação, em 2003, do então diretor de Serviços da Petrobras, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como o braço do PT no esquema de arrecadação de propinas em contratos da estatal. Duque está preso desde 2015 por corrupção e lavagem de dinheiro.

“Nomeei hoje o Duque.” Foi assim que Dirceu teria comunicado ao lobista a nomeação do diretor de Serviços feita por sugestão do empresário Licínio Rodrigues, da empreiteira Etesco. A informação foi dada a Moura, segundo o delator, em um jantar na casa da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB). “No dia 1.º de fevereiro de 2003, teve uma recepção na casa da Roseana Sarney, que ela fez um jantar para o pai (o ex-senador José Sarney), que tinha sido indicado Presidente do Senado”, afirmou Moura. “Ele (Dirceu) estava ao lado da piscina com mais cinco pessoas. Fui cumprimentá-lo, fui abraçá-lo. Quando abracei o Zé, ele me disse ‘nomeei hoje o Duque’. Isso no dia 1.º de fevereiro”, disse.  Moura afirmou que, posteriormente, o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, explicou como foi a discussão para indicação, em reunião na antessala da Casa Civil.

Moura foi ouvido pela segunda vez pelo juiz da Lava Jato, na ação penal em que é réu ao lado de Dirceu. No primeiro interrogatório, no dia 22, ele não apontou o ex-ministro como responsável pela nomeação de Duque. Dois dias depois, ele afirmou ao Ministério Público Federal que mentiu por se sentir “ameaçado”.

Segundo Moura, o primeiro acerto de propinas foi de 3% em contratos das plataformas P-51 até a P-56 da Petrobras. “Quem levou o Renato Duque para a

Casa Civil, para apresentar para o José Dirceu fui eu”, disse. Moura afirmou que Duque recebia valores de propina, determinados por Dirceu, e que havia uma divisão entre o PT nacional e o paulista.

 

Dilma. O empresário disse que a presidente Dilma Rousseff participou da reunião no início do governo Lula, em 2003, em que foram definidas as indicações políticas de diretores de estatais que ficariam responsáveis pela arrecadação de valores para o partido. “Foi feito uma reunião ao lado da sala do ministro da Casa Civil entre o José Eduardo Dutra, que foi indicado presidente da Petrobras, o Luis Gushiken, que era da Secretaria de Comunicação, o Delúbio Soares, a Dilma Rousseff, que era ministra de Minas e Energia, o Sílvio Pereira e foram analisados todos os nomes que seriam indicados para cargos de diretoria”, afirmou.  O Estado não conseguiu contato com Silvio Pereira. O PT nega as acusações e afirma que as doações à sigla foram legais.

 

Defesa

Em depoimento na semana passada, o ex-ministro José Dirceu negou que tenha indicado Renato Duque para cargo na Petrobrás e que tenha recebido propina.

Órgãos relacionados:

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Vaccari fica em silêncio na CPI e recebe vaias

 

Munido de habeas corpus, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto não prestou juramento prometendo falar a verdade e anunciou que permaneceria em silêncio ontem durante depoimento à CPI dos Fundos de Pensão da Câmara. Ele foi vaiado por beneficiários de fundos de pensão que estavam presentes na reunião.

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Delator cita participação de Aécio em esquema

Por: Fausto Macedo / Ricardo Brandt

 

O empresário e lobista Fernando Moura afirmou ontem, em seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal de Curitiba, que o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), teve participação em um esquema de desvios de verbas na estatal de Furnas.  Segundo ele, o tucano recebia “um terço” da propina desviada. O restante tinha como destino o PT de São Paulo e o PT nacional.

Conforme disse Moura, logo após a eleição presidencial de 2002, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva, foi feita uma reunião para discutir as nomeações para cargos em diretorias de autarquias e empresas públicas estratégicas da administração.   Segundo ele, uma das diretorias era a de Furnas (estatal de geração de energia), apontada como cota do senador Aécio Neves (PSDB), então governador de Minas Gerais.

Moura relatou que os indicados para as diretorias deveriam ter 20 anos de casa. “Tinha de ser funcionário da casa para poder receber essa indicação”.

A reunião ocorreu em novembro de 2002. “Levei pro Zé (Dirceu) o nome do Dimas Toledo, que continuasse na diretoria de Furnas. Ele (Dirceu) usou até uma expressão comigo. ‘O Dimas não, porque, se o Dimas entrar em Furnas até como porteiro, vai mandar em Furnas, está lá há quatro anos, é uma indicação que sempre foi do Aécio’. Passado um mês e meio ele (Dirceu) me chamou e falou: ‘Qual a sua relação com Dimas Toledo?’ Eu falei, estive com ele três vezes, achei ele competente, cara profissional. O Zé me disse. ‘Porque esse foi o único cargo que o Aécio pediu pro Lula, então, você vai lá conversar com Dimas e diga que a gente vai apoiar a indicação dele.”

Moura disse que “foi conversar com o Dimas”. “Na oportunidade, ele (Dimas) me colocou, da mesma forma que eu coloquei o caso da Petrobrás, em Furnas era igual. Ele falou ‘vocês nem precisam aparecer aqui, vocês vão ficar é um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio’.”

 

Defesas. A assessoria de Aécio rebateu, em nota: “Essa declaração requentada e absurda repete uma vez mais a velha tentativa de vincular o PSDB aos crimes cometidos no governo petista. O PSDB jamais fez qualquer indicação para o governo do PT. O senador Aécio Neves não conhece o lobista, réu confesso de diversos crimes, e tomará todas as providências cabíveis”.

Dimas Toledo, afirmou, por meio de nota, que “repudia com veemência as declarações feitas pelo senhor Fernando Moura a seu respeito, por serem absolutamente inverídicas”. De acordo com ele, “é lamentável que no desespero de buscar credibilidade perdida no meio de diversas contradições e inverdades, o delator insista no uso da mentira para confundir autoridades e tumultuar importante investigação em curso no País”.  / F.M. e R.B.

Senadores relacionados:

  • Aécio Neves