O Estado de São Paulo, n. 44.668, 03/02/2015. Metrópole, p. A13

País já tem 404 casos de microcefalia confirmados

Há 3.670 em investigação, 126 só em SP;Brasil e EUA fecham parceria contra zika

Por: Isadora Peron / Luísa Martins

 

O Ministério da Saúde e os Estados confirmaram até esta terça-feira, 2, 404 casos de microcefalia (ante 270 na semana passada), 17 deles associados ao zika vírus. Estão sob investigação 3.670 relatos suspeitos. Enquanto isso, os governos brasileiro e americano avançaram em uma parceria para vacinas e tratamentos.

O novo boletim do ministério, divulgado nesta terça, aponta ainda 709 casos notificados e descartados. Ao todo, 4.783 relatos suspeitos de microcefalia foram registrados. Foram notificadas 76 mortes após o parto ou durante a gestação. Dessas, 15 foram investigadas e confirmadas para microcefalia (5 tiveram identificação do zika no tecido fetal). Outras 56 continuam em investigação.

A Região Nordeste concentra 98% dos municípios com casos confirmados. E Pernambuco lidera em confirmações (153) e cidades afetadas (56).Outro destaque é São Paulo, que notificou 126 casos, 101 em investigação.No boletim da semana passada, o Estado só havia notificado 18 casos em investigação.

 

Dilma. A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Marcelo Castro, ainda fecharam nesta terça-feira, 2, a parceria com os Estados Unidos para combater o zika vírus. A agenda estratégica inclui cooperação para pesquisas sobre diagnósticos, vacina e tratamento.

Enquanto Dilma discursava na cerimônia de abertura do ano legislativo no Congresso Nacional (a epidemia de zika foi um dos pontos centrais), Castro conversava, por videoconferência, com a secretária de Saúde dos Estados Unidos, Sylvia Burbell – ambos “se comprometeram em acelerar as investigações em curso sobre as infecções”, conforme nota divulgada pelo Ministério da Saúde.

Sylvia também assegurou a Castro que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) está à disposição. Para aprofundar a agenda estratégica, ficou acertada para o dia 20, no Brasil, uma reunião entre técnicos. Ainda ficou definida a criação de um grupo de pesquisadores do Instituto Butantã e do National Institute of Health para criar vacinas e produtos terapêuticos. No discurso aos parlamentares, Dilma citou que a parceria entre os dois centros de pesquisa já trabalha na vacina contra a dengue.

 

Mutirão e TV. Segundo a presidente, a rede de saúde está preparada para garantir atendimento rápido e eficiente às crianças afetadas e suas famílias. “A rede que já estávamos implementando para atendimento às pessoas com deficiência no SUS (Sistema Único de Saúde) será ajustada para lidar com a epidemia e, se necessário, ampliaremos o serviço e a oferta de equipamentos”,complementou,salientando que “não faltarão recursos”.

A presidente divulgou ainda duas datas, ainda neste mês, de ações que buscam eliminar os focos de proliferação do mosquito.

No dia 13, “a primeira grande operação” terá a participação de 220 mil pessoas das Forças Armadas. A partir do dia 19, “envolveremos estudantes de todo o Brasil nesta guerra em favor da saúde e da vida”. Além disso, afirmou ela, todos os prédios do governo federal estão passando por um processo de limpeza para eliminar possíveis criadouros.

As ações e o mutirão farão parte do pronunciamento que Dilma Rousseff fará hoje, às 20h20. Na fala, que terá pouco mais de seis minutos, a presidente pedirá a mobilização de toda a população na “guerra” contra o Aedes aegypti. /COLABOROU TÂNIA MONTEIRO

 

Pedido de apoio

Dilma disse que eliminar o zika “será uma das prioridades neste ano” e, para isso, “conta com a sensibilidade do Congresso Nacional”

Órgãos relacionados:

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Rápida urbanização deu condições para avanço do‘Aedes’

Por: Artur Timerman

 

Há 30 anos convivemos no Brasil com epidemias de dengue e, desde então, tentamos combater, sem sucesso, o seu vetor, o mosquito Aedes aegypti. Agora passamos simultaneamente por três epidemias: dengue, chikungunya e, mais recentemente, zika, transmitidas pelo mesmo Aedes aegypti, inseto extremamente bem equipado biologicamente para habitar ambiente urbano em países tropicais, requerendo o calor e a umidade característicos desses ambientes tropicais.

A falta de sucesso no combate ao mosquito se deve, em grande parte, à urbanização do País. Na década de 70, somente 20% da população era urbana; hoje acumulam-se em nossas cidades 90% da população.

Esse rápido processo propiciou megalópoles desprovidas das condições mínimas de saneamento básico, como abastecimento e armazenamento de água, coleta e tratamento de esgoto.

São cidades impermeabilizadas, sem política de captação das águas das chuvas.Nesse contexto, o Aedes aegypti foi muito bem recebido em nossas cidades; a urbanização trouxe-lhe todas as condições para sua efetiva multiplicação.

Mesmo após 30 anos de “convivência” com epidemias de dengue, onde de uma forma ou de outra houve inúmeras campanhas em que se enfatizaram as formas de combate ao mosquito dentro das casas, observamos como resultado ter, em 2015, a maior epidemia de dengue da história do Brasil. A luta contra o mosquito é uma política de redução de danos; ele não será erradicado. Mas não será efetivo o combate ao mosquito, a longo prazo, caso não repensemos o modelo de urbanização vigente.

 

É PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DENGUE E ARBOVIROSES