O globo, n. 30140, 13/02/2016. País, p. 3

EM RÁPIDA PROLIFERAÇÃO

Por: ANDRÉ DE SOUZA E RENATA MARIZ

 

ANDRÉ DE SOUZA E RENATA MARIZ

opais@ oglobo.com. br

 

-Brasília-Em dez dias, o número de casos confirmados de microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso central relacionados com o vírus zika mais que dobrou, passando de 17 para 41 (crescimento de 141,18%). O total de casos de microcefalia confirmados — independentemente de haver relação atestada com o vírus — cresceu 14,36%: eram 404 em 2 de fevereiro e agora são 462 em todo o país. Os números foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde.

O boletim mostra que o número de casos de microcefalia notificados no país chegou a 5.079, dos quais 3.174 foram registrados em 2015 e 1.905, já este ano. Deste total, os casos ainda em investigação passaram de 3.670 no boletim anterior para 3.852. Os descartados pelos especialistas eram 709 há dez dias, e agora são 765. O boletim de 2 de fevereiro apontava 4.783 notificações, o que inclui todos os casos confirmados, descartados e em investigação.

 

NORDESTE TEM MAIS CASOS

A microcefalia é uma malformação em que os bebês nascem com a cabeça menor que o normal. Em geral, leva ao retardo mental. O aumento de casos de microcefalia atinge principalmente o Nordeste. Exames feitos por laboratórios ligados ao Ministério da Saúde comprovam a associação entre a microcefalia e o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chicungunha. A Organização Mundial de Saúde (OMS), no entanto, diz que esta relação entre zika e microcefalia ainda não está oficialmente comprovada.

A maioria dos 41 casos confirmados de zika com relação com a microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso central estão em Pernambuco (33). Em seguida vêm Rio Grande do Norte (4), Paraíba (2), Ceará (1) e Pará (1). Amapá e Amazonas não têm registro de casos suspeitos de microcefalia.

Os 462 casos confirmados de microcefalia ou outras alterações no sistema nervoso central (ainda sem ligação confirmada com o zika) estão distribuídos por 175 municípios de 13 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Pernambuco tem o maior número (167), seguido por Bahia (101), Rio Grande do Norte (70), Paraíba (54), Piauí (29) e Alagoas (21).

O número de mortes notificadas por microcefalia ou outras alterações no sistema nervoso central — seja após o parto, seja durante a gestação — cresceu 19,74%, passando de 76 há dez dias para 91 agora. Os óbitos confirmados aumentaram de 15 para 24.

O Ministério da Saúde confirma que 22 estados têm transmissão autóctone do vírus zika, ou seja, há registro de que pessoas foram contaminadas dentro do próprio estado, e não depois de voltar de viagem. Estão fora da lista Acre, Amapá, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe. Isso não quer dizer que o vírus não tenha circulado nesses locais, apenas que não houve comprovação laboratorial.

Entre os 765 casos descartados, estão aqueles em que os exames mostraram não haver anormalidades, e também os que foram provocados por causas não infecciosas. O zika — assim como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes viral — é considerado uma causa infecciosa de microcefalia.

Também ontem, o Ministério da Saúde informou que, dos 67 milhões de imóveis a serem vistoriados no país até o fim de fevereiro, dentro do plano de combate ao Aedes aegypti, 23,8 milhões receberam visitas de agentes de saúde e de militares das Forças Armadas (35,6% do total estimado). O balanço é da Sala Nacional de Coordenação e Controle (SNCC) de Enfrentamento à Microcefalia, que atua em sintonia com centros de controle dos estados. O levantamento anterior, de uma semana atrás, apontava 30,8% de locais visitados, que incluem residências e prédios públicos e privados.

 

META DIFÍCIL DE CUMPRIR

No atual ritmo, com aumento de menos de cinco pontos percentuais de imóveis vistoriados em uma semana, será difícil cumprir a meta de visitar 100% dos locais até o fim do mês. O objetivo deveria ter sido atingido em 31 de janeiro, pelos planos iniciais do governo. Mas, diante dos números insatisfatórios, o compromisso foi adiado. A inspeção a 100% dos imóveis no país é uma das medidas adotadas pelo governo depois que a epidemia de microcefalia foi associada ao vírus zika. Do total de locais vistoriados, 3,6% tinham focos do mosquito.

Entre os estados que registraram o maior percentual de imóveis visitados estão a Paraíba e o Piauí, com 79,1% e 77,8%, respectivamente. O Rio aparece em 7º lugar, com 48,6% de locais inspecionados. Em São Paulo, o índice é de pouco mais de 26%. Ao todo, 1.319 municípios ainda não informaram nenhuma visita realizada ao Sistema Informatizado de Monitoramento da Presidência da República (SIM-PR).

O governo não indica, no balanço, se houve alguma entrada forçada em imóveis abandonados ou sem o responsável, embora a medida esteja permitida desde o dia 1º por medida provisória assinada pela presidente Dilma Rousseff. Para ficar comprovada a ausência de quem autorize a vistoria, no entanto, é necessário que o agente realize duas notificações prévias, em dias e horários alternados e marcados, num intervalo de dez dias.