Vacina Brasil - EUA deve sair em 3 anos

Lígia Formenti 

12/02/2016

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou ontem a assinatura do primeiro acordo internacional para o desenvolvimento de vacina contra zika. Também ontem, o governo divulgou os primeiros números do ano de dengue, que mostram um avanço de 48,2% nos casos – e indicam ainda mais a necessidade de combate ao vetor das duas doenças, o Aedes aegypti, foco de um mutirão nacional marcado para amanhã.

Foram registrados 73.872 casos de dengue de 3 até 23 de janeiro, ante 49.857 no mesmo período do ano passado. Em todo o ano de 2015, houve o recorde de 1.649.008 casos da doença, avanço de 178% em comparação com 2014 (569.160 casos). Os números ainda superaram em 10% os de 2013, com 1.452.489 casos.

O balanço indica, no entanto, redução no número de casos graves – de 80, em 2015, para 9 nas três primeiras semanas de 2016. Além disso, o número de mortes teve redução de 50 para 4. Em todo 2015, a dengue foi responsável por 843 mortes.

Conforme o boletim do ministério, até a terceira semana de janeiro, 22 unidades da federação confirmaram laboratorialmente autoctonia de zika. Além disso, também foram confirmados laboratorialmente dois óbitos por zika vírus no País: um em São Luís (MA) e outro em Benevides (PA).

O ministro ainda confirmou a informação, antecipada na edição de ontem do Estado, da terceira morte de um adulto no País relacionada ao zika vírus. O caso, de uma mulher de 20 anos do Rio Grande do Norte, já foi levado à Organização Mundial da Saúde (OMS) – cuja diretora, Margaret Chan, foi convidada pelo governo e deve visitar o País nos dias 23 e 24.

“Assim como outras doenças infecciosas, não podemos afirmar de forma categórica que o vírus foi a única causa da morte. Mas ele estava presente”, disse o diretor do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. Ele lembrou que o caso despertou atenção pelo fato de a jovem, que não apresentava problemas de saúde anteriores, ter tido uma evolução da doença muito rápida. Outra preocupação também é o avanço de casos de chikungunya, o que configura a temida tríplice epidemia causada pelo Aedes (mais informações nesta página).

Vacina. A parceria contra o zika foi anunciada entre a Universidade do Texas e o Instituto Evandro Chagas, no Pará. A estimativa é de que o produto esteja pronto em dois anos, para dar início aos testes. “Podemos ter a vacina em até três anos. Os pesquisadores estão otimistas”, disse o ministro. Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas, informou que o imunizante será feito com base em trechos do vírus responsáveis por desencadear respostas imunes. Tais fragmentos seriam inseridos em uma espécie de cápsula formada também com material do vírus, mas que não teria risco de provocar a infecção no paciente. “O Brasil ficará encarregado de fazer o sequenciamento do zika e testes em animais”, contou Vasconcelos. O pesquisador afirmou que o sequenciamento já está na fase final.O governo brasileiro deverá investir US$ 1,9 milhão em cinco anos.

Outras duas frentes de pesquisa para desenvolvimento de vacinas estão em negociação. Uma delas temos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, em parceria com o Instituto Butantã de São Paulo. Há ainda possibilidade do desenvolvimento de imunizante entre Bio-Manguinhos e um laboratório farmacêutico.

Castro mais uma vez afirmou que não faltarão recursos para desenvolvimento da vacina. “Dinheiro não é o problema”, disse. De acordo com ele, a fase inicial das pesquisas não demanda grande aporte de recursos. Investimentos mais significativos serão necessários no período dos testes para avaliar a eficácia e segurança da vacina.

Mas ele confirmou a informação, divulgada ontem pelo jornal O Globo, de que os Estados do Rio e de São Paulo teriam enfrentado demora na entrega de kits de diagnóstico para dengue. De acordo com Castro, houve problema na aquisição de testes, que já foi solucionado.

O ministro atribuiu à falta de testes e de treinamento específico o atraso da entrada em vigor da obrigação da notificação de novos casos de zika para autoridades de saúde. De acordo com o ministro, antes de a regra passar a valer seriam necessários a capacitação e o credenciamento de laboratórios em vários pontos do País para o uso de kits específicos. Não há prazo para a regra entrar em vigor.

 

O Estado de São Paulo, n.44677, 12/02/2016. Metrópole, p. A10