O globo, n. 30139, 12/02/2016. País, p. 6

TESTES PARA VACINA CONTRA ZIKA DEVEM COMEÇAR EM 1 ANO

Governo fecha parceria com Universidade do Texas; Dilma comanda mobilização contra mosquito amanhã
 

- BRASÍLIA- Os testes para se obter uma vacina contra o vírus zika poderão começar em um ano. A previsão é do ministro da Saúde, Marcelo Castro, que anunciou ontem uma parceria entre o Instituto Evandro Chagas, no Pará, e a Universidade do Texas para o desenvolvimento da vacina. O governo brasileiro vai investir US$ 1,9 milhão nos estudos.

O prazo de um ano, de acordo com Castro, será apenas para a fase de produção da vacina em laboratório. A partir disso, pelo cronograma, virão os testes clínicos em animais e humanos. Macacos e camundongos, que geralmente passam por experimentos em momentos separados, serão testados ao mesmo tempo, para agilizar o processo. No total, segundo o ministro, a vacina poderá estar disponível para uso em 3 anos.

— Nossos técnicos estão muito otimistas. Dentro de um ano, nós poderemos ter a vacina desenvolvida. Mas não é a vacina para ser aplicada — enfatizou Castro.

Além da parceria com a Universidade do Texas, o ministro apresentou uma extensa programação de estudos em torno do zika e da microcefalia. Segundo ele, chegarão ao Brasil, ainda esta semana, 15 técnicos do Centro de Controle de Doenças ( CDC) dos Estados Unidos.

Nos dias 23 e 24, a diretora- geral da Organização Mundial da Saúde ( OMS), Margareth Chan, também deve desembarcar no país. Entre 25 e 26, o governo receberá representantes de diversos órgãos dos Estados Unidos, como o Departamento de Saúde ( similar ao ministério brasileiro), o CDC e o Food and Drug Administration ( FDA), agência similar à Anvisa.

 

ENTRAVES BUROCRÁTICOS

O governo quer fazer uma parceria com o FDA para agilizar os entraves burocráticos ao desenvolvimento conjunto da vacina contra o vírus zika. A ideia é que a agência americana trabalhe em conjunto com a Anvisa para agilizar as autorizações necessárias, ao longo do estudo, até que seja possível comercializar a droga.

Segundo Pedro Vasconcelos, pesquisador do Instituto Evandro Chagas e representante do Brasil na parceria com a Universidade do Texas, a vacina usará pedaços de genoma do zika, e não o vírus vivo, que serão colocados numa partícula sintética, permitindo a aplicação nas pessoas. A técnica, de acordo com o cientista, assemelhase à da vacina contra o ebola, também foi desenvolvida num prazo curto de tempo.

O ministro classificou como “pequena demora” o atraso de cinco meses na entrega de kits para detecção de dengue aos estados, conforme noticiou o GLOBO ontem. Ele disse que o problema ocorreu devido a um atraso na licitação para compra dos testes, mas garantiu que a distribuição está normalizada.

— São 100 mil testes que estão sendo distribuídos para todos os estados. Quem não recebeu está recebendo — afirmou Castro.

Apenas nas três primeiras semanas de 2015, o número de casos notificados de dengue cresceu 48,2% em comparação com o mesmo período do ano passado. Os casos somaram 73,8 mil no período, contra 49,8 mil no início de 2014.

A presidente Dilma Rousseff viajará amanhã ao Rio, sede das Olimpíadas, para a mobilização nacional de combate ao mosquito Aedes aegypti. Dilma determinou que os ministros se espalhem pelo país, no mesmo dia em que 220 mil militares das Forças Armadas farão ações como distribuição de panfletos e divulgação de informações.

O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, afirmou que o propósito da ação não é provocar pânico sobre o problema, mas, sim, “criar certa tensão”.

— O objetivo não é criar pânico, pavor e nem intimidar. Isso não funciona. Mas é tensionar, criar certa tensão. E transmitir o recado: ‘ Olha, vivemos uma situação que não é ordinariamente normal. Vivemos situação que merece sua atenção’. É uma tensão mobilizadora — disse.

Na avaliação do ministro, não há risco de desistência de atletas nas Olimpíadas por conta da doença. E fez uma comparação com problemas vividos por Moscou e Londres quando sediaram os Jogos Olímpicos.

— Não creio que as Olimpíadas possam sofrer prejuízo por conta disso. Infelizmente, os riscos, não só no Brasil, mas em outros países do mundo, existem. Em Moscou e Londres, se falava em risco de atentado. O mundo vive sob risco, ou de saúde ou de natureza política ou de terrorismo.