ANA PAULA RIBEIRO, MARIANA SANCHES E PAULO CELSO PEREIRA
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SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, defendeu ontem a realização de prévias, ou eleições primárias, no processo de escolha de candidatos do partido, inclusive no pleito de 2018 para a Presidência da República. Para Alckmin, que disputa a vaga do partido na corrida presidencial daqui a dois anos, a realização de prévias amplia o debate, oxigena os partidos e permite o surgimento de novas lideranças.
— Eu sou um fã das prévias. Mais até do que prévias, das primárias. Veja o modelo americano: é uma coisa fantástica, permite novas lideranças, oxigena o partido, tem debate, tem divergência, é muito positivo. Se não existissem as prévias, primárias, não existiria um estadista como Barack Obama — disse Alckmin, ao chegar ontem no local de votação nas prévias que o PSDB paulista realizou para a escolha do candidato do partido para a disputa da Prefeitura de São Paulo.
A defesa de Alckmin tem eco em boa parte da cúpula do PSDB. A opinião dos tucanos ouvidos pelo GLOBO, no entanto, é que o tema não deve ser tratado neste ano, seja por causa da grave crise política e econômica, seja por causa das eleições municipais. O presidente nacional da legenda Aécio Neves ( PSDB- MG), que lidera hoje as pesquisas de intenção de voto da disputa presidencial, diz manter o entendimento que tinha em 2010 de que as prévias são o melhor caminho quando há mais de um nome.
— Sempre acreditei que, em havendo mais de uma candidatura, as prévias são o instrumento mais adequado para que qualquer candidatura, em qualquer nível, seja legitimada pelas bases do partido. Mas a prioridade do PSDB neste momento são as eleições municipais — defendeu.
O líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy ( PSDB- BA), é outro que acredita que as prévias podem ser importantes, mas pondera não ser este o momento de abordá- las.
— É sempre positivo você fazer avaliações para uma decisão importante a ser tomada numa agremiação partidária, e as prévias fazem parte dessa lógica — defende.
Membro da Executiva Nacional do partido, o deputado Nilson Leitão ( PSDB- MT) considera que as prévias, além de servirem para a escolha do nome, trazem uma contribuição positiva para o partido: a ampliação do espaço cotidiano na mídia. Ele acredita ainda que o risco de rachar a legenda é pequeno.
AGRESSÃO E ACUSAÇÕES RECÍPROCAS
Em São Paulo, no entanto, o vereador Andrea Matarazzo, o deputado federal Ricardo Trípoli e o empresário João Doria Júnior, os três postulantes tucanos à prefeitura paulista, travaram uma disputa que deixou evidente o racha no ninho tucano paulista. Houve intensa troca de acusações entre os candidatos ao longo da semana passada, e o clima tenso vivido pelo partido ao longo da campanha se traduziu em pancadaria entre militantes apoiadores de Tripoli e um grupo pró Doria, durante votação no diretório do PSDB, no Tatuapé, na Zona Leste da capital.
Cerca de 30 pessoas se envolveram na confusão, que terminou com a urna eletrônica quebrada. Parte dos envolvidos foi encaminhada à 30 ª DP, onde a polícia tenta identificar quem quebrou o computador que armazenava os votos. Neste diretório, a votação foi encerrada mais cedo. No fim da noite, a Secretaria de Segurança Pública abriu inquérito policial para investigar os crimes de ameaça, lesão corporal, dano e roubo.
— Mais grave do que os cavaletes ( da minha campanha) é a agressão contra cinco pessoas. Foi uma agressão contra a minha campanha. O pessoal ligado ao Tripoli apareceu ali ( no diretório) com arma de fogo, mas a memória do computador foi salva, é um ato pontual que não atrapalha a festa — afirmou o candidato Doria Júnior, ao chegar à Câmara dos vereadores de São Paulo, no final da tarde, onde ocorreria a apuração dos votos.
Os cavaletes a que se referiu foram espalhados pela cidade com propaganda a seu favor e causaram intensa reação dos adversários, que o acusaram de abusar do poder econômico.
— Quem está perdendo a eleição reclama de tudo — ironizou o empresário.
Essa tensão entre os candidatos se estendeu além da votação. Na Câmara, grupos a favor de Doria e de Matarazzo ameaçaram confronto físico na sala ao lado de onde a Executiva do PSDB se reúne. Houve provocação de parte a parte, com gritos de “Doria guerreiro do povo com dinheiro” e respostas de “vai pro PSD”. Militantes tiveram que ser contidos, e a polícia da Câmara dos Vereadores precisou intervir.
A apuração dos votos, marcada para às 17h, começou com duas horas de atraso. Houve urnas que demoraram a chegar e uma intensa discussão da executiva do partido sobre filiados que não estavam registrados e foram votar.
Por volta das 20h, o presidente do Instituto Teotônio Vilella José Aníbal e o ex- vice governador Alberto Goldman, respectivamente aliados de Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo, entregaram uma petição ao PSDB em que pedem “o cancelamento da inscrição do pré- candidato João Doria Jr”, além de sanções ao filiado, que pode até mesmo ser expulso caso seja condenado.
No documento, Goldman e Aníbal acusam Doria de abuso de poder econômico, de propaganda ilegal e infração da Lei Cidade Limpa. Ambos afirmam que na véspera da votação, dia 27, o empresário distribuiu cavaletes pela cidade e, no dia das prévias, teria cometido “condutas ilegais, como boca de urna na fila de votação, panfletagem, utilização de camisetas e coletes nos locais de votação e de um carro de som em frente à Câmara”.
Até as 23h não havia sido divulgado o resultado da prévia.