O globo, n. 30134, 07/02/2016. Editoriais, p. 16

É imperioso investigar toda denúncia

 

Não se duvida que a corrupção no Brasil seja pluripartidária. Num país de tão arraigada cultura patrimonialista, em que donos de cargos públicos costumam misturar negócios do Estado com interesses privados, o ofício de surrupiar o dinheiro do contribuinte não haveria de ser exclusivo de algumas poucas correntes político-ideológicas.

Ainda mais depois que o PT e aliados, conhecidos por construir no palanque um discurso pela absoluta lisura no manejo de recursos do povo, terminaram nivelados por baixo nos subterrâneos das traficâncias financeiras mais tenebrosas. A ponto de desestabilizarem a maior empresa brasileira, a Petrobras, num escândalo de dimensões para além das fronteiras. Os malfeitos do lado do PSDB também não podem ser esquecidos. Por exemplo, a primazia de ter sido o partido, na sua seção mineira, em que Marcos Valério, então um lobista e operador financeiro do mundo da política atuando também como publicitário, testou a tecnologia de lavagem de dinheiro desviado dos cofres do Palácio da Liberdade, por meio de campanhas publicitárias fajutas articuladas com empréstimos forjados em bancos mineiros.

A cúpula do PT da campanha de Lula de 2002 se interessou pelo know-how de Valério, e foi assim que surgiu o mensalão mais famoso que o mineiro. O sucesso não foi absoluto porque o tucano de Minas Eduardo Azeredo perdeu a eleição em que atuou o valerioduto, e já foi condenado em primeira instância — renunciou ao cargo de deputado federal, para escapar do Supremo, e levar o processo a percorrer, certamente de forma demorada, todas as instâncias iniciais. E Valério bem como petistas ilustres terminaram presos — José Genoino, Delúbio, José Dirceu. Já no estado de São Paulo, a grande cidadela tucana, a imagem do PSDB já carrega a mancha da conivência com um cartel de fabricantes de trens (Alstom, Siemens) envolvido numa história de denúncias de corrupção em que um dos principais acusados foi chefe da Casa Civil no governo Mário Covas, Robson Marinho, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado. E dono de contas na Suíça.

Por estes dias, enquanto o lulopetismo sangra na Lava-Jato, com revelações sobre o sítio e o tríplex reformado por empreiteiras para agradar (ou ressarcir) a Lula, estourou mais um caso tucano: fraude no fornecimento da merenda escolar, com o suposto pagamento de propinas a gente ligada ao governador Geraldo Alckmin.

O PT não perde a oportunidade de alvejar o governador, um dos prováveis candidatos ao Planalto. O próprio Lula atua no canhoneio, numa tentativa de redução de danos. O importante é que tudo seja investigado, com o mesmo rigor da LavaJato. Sem deixar de lado a menção do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em delação premiada de amigo de Dirceu sobre esquemas em Furnas. Não importa que seja pouco verossímil um tucano ter feito nomeações no governo Lula. Deve-se é checar, sem preocupações com partidos e pedigrees políticos, e punir, como tem sido feito até agora.