O globo, n. 30.155, 28/02/2016. País, p. 3

Recanto de militantes

Agência estatal emprega ex-funcionários de campanha de Dilma com salários de até R$ 39 mil

Na contramão da crise econômica e do ajuste fiscal, uma agência vinculada ao Ministério do Desenvolvimento virou reduto de militantes da campanha presidencial de 2014. Eles turbinaram seus salários e têm direito a benefícios, incluindo diárias de viagem superiores às recebidas por ministros, conta VINICUS SASSINE. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) é presidida por Alexandre Teixeira, que coordenou o programa de Dilma e ganha R$ 39,3 mil, salário maior do que o da presidente. Há ao menos mais três casos de exintegrantes da equipe eleitoral abrigados na ABDI. Um é Charles Capella: ex-coordenador do escritório de campanha, ele recebe R$ 25,9 mil como chefe de gabinete. O orçamento da agência este ano é de R$ 108 milhões — a maior parte de contribuições sociais de empresas. O restante vem de outras fontes, como o Orçamento da União. -BRASÍLIA- Um órgão quase oculto no sistema de transparência do governo federal virou reduto de um grupo que atuou na campanha à reeleição de Dilma Rousseff e conquistou emprego com salários turbinados e pagamento de altas diárias em viagens internacionais — uma realidade paralela ao cenário de crise, cortes e ajuste fiscal empreendido pelo Executivo a partir de 2015. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), passou a abrigar esses militantes que trocaram cargos no governo por funções na agência com remunerações equivalentes ao dobro do que recebiam. Salários, vantagens, diárias e resoluções internas da ABDI são mantidos sob sigilo, diferentemente da transparência a que estão obrigados os ministérios e demais órgãos do Executivo.

CLAUDIO BELLI/ 24-09-2014Militante do PT do RS. Alessandro Teixeira assumiu o comando da ABDI em 2015, com salário de R$ 39,3 mil

O presidente da ABDI, Alessandro Golombiewski Teixeira, foi nomeado por Dilma para o cargo em fevereiro de 2015. Militante do PT do Rio Grande do Sul, Teixeira coordenou o programa de governo na campanha à reeleição. Ao assumir o comando da ABDI, com salário de R$ 39,3 mil, o petista abrigou no órgão mais três militantes da campanha, ocupantes de cargos de assessoramento especial da diretoria cujas remunerações variam de R$ 19,4 mil a R$ 25,9 mil. É mais do que o dobro do valor pago a esses assessores quando eles ocupavam cargos comissionados no Palácio do Planalto ou no Ministério do Planejamento.

Teixeira já exerceu a função de assessor especial do gabinete de Dilma, secretário-executivo do MDIC e presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Em junho do ano passado, o presidente da ABDI e demais diretores decidiram editar uma resolução — mantida sob sigilo e sem publicidade no site da agência — reajustando o valor das diárias para viagens internacionais da diretoria executiva. No continente americano, o valor saltou de US$ 400 para US$ 700. Fora da América, as diárias saltaram de € 320 para € 700. Ministros de Estado, por exemplo, recebem entre 220 e 460 de diária, podendo optar por dólar ou euro e com variação de valor conforme o destino da viagem.