O globo, n. 30.155, 28/02/2016. País, p. 8

PSDB vai dividido para prévias em São Paulo

Disputa presidencial de 2018 é pano de fundo na escolha do candidato tucano à prefeitura; 2º turno é provável

Num clima pesado que ameaça deixar feridas expostas para a campanha eleitoral, o PSDB vai às urnas hoje em São Paulo, mas não deverá sair delas com o nome definido do seu candidato à prefeitura paulistana. Pelo menos é o que passaram a cogitar nos últimos dias articuladores dos três concorrentes à vaga — o empresário João Doria, o vereador Andrea Matarazzo e o deputado Ricardo Tripoli. Eles acreditam que a eleição interna irá para o segundo turno. Isso significa dizer que o partido prolongará por mais quase um mês o processo decisório, marcado por intrigas e interesses na eleição presidencial de 2018.

É a segunda vez que o PSDB realiza prévias para escolher seu candidato a prefeito de São Paulo. A primeira foi em 2012, quando saiu vitorioso o então ex- governador José Serra. Entretanto, a disputa este ano, avaliam os participantes, mostra- se diferente por ser mais “para valer”, já que a anterior tinha um resultado previsível.

A rivalidade hoje se concentra nos grupos de Matarazzo e Doria e ameaça deixar sequelas para o período eleitoral. Aliados de ambos demonstram nos bastidores pouca disposição para apoiar a campanha eleitoral do outro, caso saiam derrotados das prévias. Se confirmado, será um retrocesso para o PSDB, dois anos depois do esforço político que o partido fez para unir todas as suas lideranças em seu berço político para a campanha presidencial do senador Aécio Neves em 2014.

Todo o clima de animosidade não é à toa. O que está em jogo nas prévias em São Paulo não é apenas a escolha do candidato para a próxima eleição, mas interesses no jogo eleitoral de 2018. As principais lideranças tucanas no estado se posicionaram conforme seus planos para daqui a dois anos. O governador Geraldo Alckmin decidiu apoiar Doria. Ele não vê em Matarazzo um aliado garantido para a sua cruzada contra Aécio pela vaga de presidenciável em 2018.

Matarazzo, que é amigo de Serra, já afirmou ao governador que, se Serra quiser disputar a vaga de candidato do partido para a Presidência da República, ele ficará a seu lado.

Sabendo que não poderia contar com o apoio de Alckmin nas prévias, Matarazzo tratou de expor seus aliados em jantar público: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores José Serra e Aloysio Nunes e ex-ministros da gestão do PSDB. A reunião foi vista dentro do governo Alckmin como um gesto para constranger o governador, que, até aquele momento, não havia se manifestado publicamente sobre Doria. A iniciativa só fez o clima azedar ainda mais na disputa interna.

— Se esse tom belicoso continuar (depois das prévias), eles vão empurrar o governador para fora do partido. Ele está cansado disso. Ele precisa do partido unido para 2018 — desabafou uma liderança do PSDB em São Paulo.

Tripoli corre por fora tendo como aliados o suplente de senador José Aníbal e o deputado Bruno Covas.

NOMES DESCONHECIDOS DA MAIORIA

O segundo turno está marcado para 20 de março. O PSDB municipal tem cerca de 27 mil filiados, mas estão sendo esperados para a votação hoje cerca de dez mil. O resultado deverá ser divulgado à noite, já que todo o processo de votação será informatizado e com voto impresso para evitar denúncias de fraude.

Seja quem for o vencedor da disputa interna, será a primeira vez na história do partido que a campanha tucana na maior cidade do país será encabeçada por um nome desconhecido da maioria da população. Pesquisas de intenção de voto feitas até agora apontam o PSDB, com cerca de 4% da preferência do eleitorado, atrás até mesmo do prefeito Fernando Haddad (PT), que ostenta um dos mais altos índices de reprovação para um prefeito de São Paulo.

Para piorar o cenário tucano, será uma eleição com menos recursos, por conta da proibição de financiamento das campanhas por empresas, e mais curta, apenas 45 dias.

No campo do debate ético, que promete ganhar espaço na eleição deste ano devido à dimensão que tomou a investigação da Lava-Jato, o PSDB também terá que dar explicações, como a suspeita de envolvimento do governo Alckmin e de filiados no escândalo da máfia da merenda no estado, descoberta este ano, e o cartel dos trens, que segue em investigação há dois anos.