O Estado de São Paulo, n. 44.672, 07/02/2016. Política, p. A7

Eleições já afetam disputa no PMDB

Candidatos a líder do partido na Câmara fazem campanha prometendo verbas federais e convênios para as bases eleitorais dos correligionários

Por: Daniel Carvalho / Erich Decat

 

A eleição municipal começa a contaminar a disputa pela liderança do PMDB na Câmara. Com a proibição de doações empresariais para as campanhas e com as prefeituras carentes de recursos para apresentar obras, os candidatos Leonardo Picciani (RJ) e Hugo Motta (PB) têm se apresentado aos correligionários como melhores interlocutores no Palácio do Planalto para obter recursos federais e convênios para as bases eleitorais dos parlamentares.

Mesmo ligado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por dar início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Motta tem prometido que atuará como “despachante dos deputados perante o governo”. “Temos capacidade de fazer uma melhor interlocução do que ele (Picciani). Vamos ouvir mais os deputados do que ele está ouvindo”, disse.

Por sua vez, Picciani, que tentará a recondução à liderança, tem ressaltado a proximidade que tem com o governo, o que garantiu conquistas para a bancada, como a indicação dos deputados Marcelo Castro (PI) e Celson Pansera (RJ) para os ministérios da Saúde e Ciência e Tecnologia, respectivamente.

“É possível ter uma interlocução aberta, ampla e não uma relação de desconfiança. Minha interlocução é franca. O governo sabe que só farei aquilo definido pela bancada e a bancada sabe que tenho interlocução ampla”, afirmou o atual líder peemedebista.

 

Prefeitos. A vinculação à disputa municipal é relevante porque o PMDB tem como grande aposta neste ano manter-se na liderança dos partidos com maior número de prefeitos eleitos. A legenda conquistou 1.024 prefeituras na eleição de 2012. O partido foi seguido por PSDB, com 702, e pelo PT, com 635. Até o momento, pelo menos 15 dos 67 deputados da bancada peemedebista sinalizaram a intenção de disputar o comando de cidades em capitais e no interior. Além isso, a maior parte dos deputados mantém suas bases municipais por meio de alianças com as prefeituras.

Para o deputado José Priante (PA), que deverá disputar a Prefeitura de Belém, ter as portas abertas com o Planalto pode dar grande peso à campanha. “Se você é um parlamentar que se apresenta como uma ponte de articulação, que aproxima as estruturas de poder mais distantes, que é o caso da estrutura da União para o seu município, é claro que você passa a ser uma peça importante na avaliação das pessoas. Independentemente se o presidente ou o governador está bom ou ruim.”

 

PARA LEMBRAR

Picciani saiu, mas voltou

Em dezembro passado, deputados da ala pró-impeachment do PMDB destituíram o então líder da bancada e aliado do governo Dilma Rousseff, Leonardo Picciani (RJ).Com isso, os 67 peemedebistas passaram a ser liderados pelo mineiro Leonardo Quintão. Essa ala do PMDB protocolou lista com 35 assinaturas, uma a mais que o necessário, para tirar Picciani do posto de líder. Entre eles estava o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), desafeto de Dilma.

O movimento para derruba Picciani teve início após o deputado se negar a indicar peemedebistas antigoverno para a Comissão Especial do impeachment. A substituição de Picciani por Quintão, no entanto, não durou muito. Na semana seguinte após a destituição, em uma operação comandada pelo Planalto, o parlamentar fluminense voltou ao cargo após apresentar lista com assinaturas de 36 dos 69 integrantes da bancada, derrotando a ala pró impeachment da legenda.

 

Bancada

67 é o número de parlamentares do PMDB na Câmara dos Deputados – o partido detém a maior bancada da Casa

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Com crise, interlocução é importante, diz deputado

 

Provável candidato a prefeito de Manaus, o deputado Marcos Rotta (AM) diz que não condicionará seu voto para a escolha da liderança da bancada do PMDB na Câmara a promessas de intermediação de liberação de emendas parlamentares, usadas para obras nos redutos eleitorais. Mas ele admite que, no cenário de crise econômica, a interlocução é importante.

“O líder, em qualquer circunstância, ajuda a bancada. Mesmo sendo de oposição, tem como ajudar sua bancada. Claro que se ele tiver um canal de diálogo mais franco, mais dilatado com o Executivo, torna isso mais fácil, inclusive em um momento de crise”, disse Rotta.

Há, contudo, quem avalie que o agravamento da crise econômica pode secar o acesso a esses recursos. “Acredito que quem for para prefeitura com muita expectativa de recursos federais está jogando errado. Não dá para ficar esperando com o pires na mão”, afirmou o deputado Geraldo Resende (MS), que deve disputar a prefeitura de Dourados.

Para o deputado Lelo Coimbra (ES), que disputará a prefeitura de Vitória, uma aproximação com o governo não garante que as promessas de recursos para os redutos eleitorais estarão asseguradas. “Essa questão, neste momento, não é central do ponto de vista de um diálogo com a sociedade. O governo não representa esse diálogo com a sociedade ao mesmo tempo que não há grandes capacidades de investimentos para se criar grandes expectativas.”

 

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