Correio Braziliense, n. 19269, 27/02/2016. Política, p. 5

PF vai investigar Fernando Henrique

O Ministério da Justiça divulgou ontem que a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as suspeitas de crimes cometidos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso envolvendo o envio de dinheiro para a jornalista com quem teve um caso extraconjugal, Mirian Dutra, na Espanha por meio de um contrato da empresa Brasif Exportação e Importação S. A .

O inquérito correrá sob sigilo de Justiça e terá como base as afirmações da jornalista em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, na qual ela afirmou que o ex-presidente assinou contrato fictício com a empresa. Pelo acordo, ela teria recebido US$ 3 mil mensais entre 2002 e 2006. Ainda segundo Mirian, o ex-presidente teria enviado, por meio de contas no exterior, dinheiro para sustentar ela e seu filho Tomás quando ainda comandava o país.

A jornalista afirma ainda que chegou a ser “exilada”, pois teria sofrido pressão para não voltar para o Brasil na época em que FHC disputava a reeleição. O ex-presidente admitiu ter contas no exterior e ter dado um apartamento de 200 mil euros a Tomás, filho de Mirian, mas negou ter cometido irregularidades e mesmo ter participado do contrato da Brasif com Mirian. A Brasif foi concessionária das lojas de free shop em vários aeroportos brasileiros até 2006 e hoje atua em diferentes ramos. A empresa também divulgou nota afirmando que FHC não teve participação na contratação de Mirian Dutra.

A decisão foi tomada depois que PT e PCdoB pediram, na última terça-feira, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a PF investigasse as denúncias por supostos crimes de evasão de divisas e contra a ordem tributária, além de corrupção passiva. No pedido de investigação feito a Cardozo, deputados ainda citaram a compra de uma fazenda em Unaí (MG) pelo ex-presidente e seu então sócio e ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998). “As matérias mencionadas levantam dúvidas quanto à conduta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e devem, por esse motivo, ser apuradas”, afirmou o pedido elaborado pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ).

 

O ex-presidente classificou a fala da ex-namorada como “invenção” e, na quarta-feira, ironizou em vídeo postado na internet com o pedido de investigação feito pelos dois partidos. Na ocasião, ele acusou “operadores lulopetistas” de disseminarem mentiras contra ele. “Todas as vezes, e têm sido muitas, que a Polícia Federal prende alguém ligado ao petrolão, os operadores do esquema lulopetista soltam uma mentira sobre mim, querendo obviamente com isso confundir a opinião pública”, afirmou o ex-presidente