O globo, n. 30152, 25/02/2016. País, p. 4

Ministro nega irregularidade na campanha de Dilma

Tesoureiro em 2014, Edinho acusa oposição de politizar investigação
Por: CATARINA ALENCASTRO

 

CATARINA ALENCASTRO

catarina@ bsb. oglobo. com. br

 

BRASÍLIA - Um dia após a prisão do marqueteiro João Santana, que atuou nas duas campanhas de Dilma Rousseff à Presidência da República, o ministro de Comunicação Social, Edinho Silva, defendeu ontem a lisura da campanha de reeleição da presidente, da qual foi tesoureiro, afirmando que não houve irregularidade alguma. A defesa foi feita à saída do programa “Bom dia, ministro”, da estatal Empresa Brasil de Comunicação ( EBC), no qual falou das ações do governo para combater o vírus zika e sobre Olimpíadas.

— Você tem uma tentativa de politização de uma questão que é técnica, que diz respeito ao cumprimento da legislação brasileira e da Constituição. Setores da oposição fazem tentativa de politizar a investigação. Politizar uma investigação não é bom — afirmou Edinho, referindo- se às contas de campanha.

 

SANTANA TINHA MAIS CLIENTES

Pela primeira vez, o ministro publicamente se aprofundou sobre os pagamentos feitos ao marqueteiro, preso para investigações no âmbito da operação Lava- Jato. Edinho refutou que o valor de US$ 1,5 milhão, que aparece como recebido pelo marqueteiro entre junho e novembro de 2014 ( em meio ao processo eleitoral), possa ser associado à campanha petista. Ele explica que esse valor corresponde a menos de 5% do total contratado, pago e declarado ao TSE. No contrato feito pela campanha de Dilma com Santana consta o pagamento de R$ 70 milhões.

— Você tentar fazer vínculo de uma remessa, que se formos atualizar pelo dólar da época, era de menos de 5% do valor do contrato. Então, temos de ter muito critério ao fazer este tipo de vínculo, porque estamos falando de uma campanha que gastou R$ 70 milhões por geração de conteúdo para mídia, TV, radio, internet — afirmou Edinho.

Um auxiliar de Dilma afirma que seria “burrice” pagar oficialmente R$ 70 milhões e se incriminar, pagando “no paralelo” um montante residual. O discurso no Planalto é que a presidente está tranquila porque Santana não atuava exclusivamente para sua campanha no período desse pagamento em questão, e, portanto, dever ter recebido esse montante de outro cliente. A tese do governo é que a oposição fica tentando se agarrar a todo e qualquer fato novo para manter acesa a fagulha do impeachment.

Na entrevista após o programa “Bom dia, ministro”, Edinho também minimizou os panelaços ocorridos em bairros de diversas cidades do país na noite de terça- feira, no momento em que era veiculado o programa do PT, no qual o expresidente Lula defendeu as realizações dos governos petistas.

— Nós vivemos em uma democracia, democracia é assim. As pessoas têm livre direito de manifestação, de manifestar o que pensam. Há manifestações favoráveis, tem manifestações contrárias. É assim que se constrói democracia — afirmou o ministro.

No Planalto, assessores da presidente consideraram injustas as manifestações sob forma de panelaço. Um auxiliar de Dilma afirmou que a população está se deixando contaminar pelas notícias publicadas pela imprensa, que, segundo essa fonte, vêm “estimulando a propaganda contra o governo”.

Auxiliares da presidente avaliam que embora Dilma não tenha participado da peça petista exibida na TV, não dá para separar Lula de Dilma, e tudo o que afeta o ex- presidente reflete em Dilma.