O globo, n. 30153, 26/02/2016. Rio, p. 10

Ministro diz que saúde atravessa um dos momentos mais difíceis

Governo dará repelente para 400 mil grávidas do Bolsa Família
Por: Evandro Éboli

 

EVANDRO ÉBOLI

eboli@ bsb. oglobo. com. br

 

BRASÍLIA- Em audiência no Senado, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, afirmou que a microcefalia associada ao zika representa “um dos momentos mais difíceis de saúde pública que o país já enfrentou”. A previsão, segundo ele, é que cidades maiores, como as do Sudeste, ainda não afetadas fortemente pela doença, sejam atingidas pelo vírus.

O governo federal anunciou ontem a liberação de R$ 300 milhões para serem usados na compra de repelentes que serão distribuídos a grávidas do Bolsa Família. A estimativa é que 400 mil mulheres recebam o suprimento. Os valores ainda estão sendo negociados com fabricantes de repelentes.

 

MÉDICA FAZ RELATO DRAMÁTICO

Sobre a vacina da dengue, desenvolvida por um laboratório particular francês e liberada pela Anvisa em janeiro, Castro afirmou que não tem como ser aproveitada pelo governo. Ele citou duas razões para descartar, neste momento, o uso do imunizante: não pode ser aplicado em crianças menores de 10 anos, nem em adultos acima dos 45, exatamente o público mais vulnerável, e o custo que seria alto para o governo.

— São necessárias três doses da vacina ( para imunizar uma pessoa). Fica caro. E quem toma a primeira dose nem sempre toma a segunda ou a terceira. De qualquer maneira, ainda não temos uma definição sobre esse aproveitamento — disse o ministro, em audiência pública no plenário do Senado sobre o Aedes aegypti e o vírus zika.

Castro afirmou que os laboratórios que fizeram parceria com o Ministério da Saúde devem desenvolver a vacina contra a dengue em dois anos. A dose contra a zika, que vem sendo produzida a partir de uma parceria entre o Instituto Evandro Chagas e a Universidade do Texas, deve ficar pronta em três anos.

O diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovich, também ressaltou ontem que regiões mais populosas do país podem ser muito atingidas pelo vírus:

— Essa população ( do Sudeste) é suscetível e nunca foi exposta ao vírus.

Adriana Melo, médica que acompanha casos de microcefalia na Paraíba, fez um desabafo durante a sessão no Senado. Segundo ela, as famílias de bebês com máformação sofrem carências graves, de falta de brinquedos à escassez de alimentos. A médica classificou o dia de atendimento dos bebês como de “horror”:

— Queria muito uma ajuda porque não aguento mais a minha sexta- feira. É o dia em que eu faço os exames nas pacientes que tiveram os sintomas. Para mim, é a sexta do horror. Se os senhores chegarem lá, parece que estarão entrando no corredor da morte. Ficam 15 pacientes esperando que eu dê o veredito final, se o bebê vai sair bem ou se o bebê está doente.

Órgãos relacionados:

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Mães devem amamentar bebês

OMS diz que lactação é mais benéfica do que prejuízos do zika

AOrganização Mundial de Saúde ( OMS) liberou ontem um comunicado no qual afirma que mulheres infectadas pelo vír us zika podem amamentar normalmente. De acordo com a entidade, os benefícios da amamentação superam qualquer risco de transmissão do vírus. A recomendação foi feita às autor idades de saúde dos países afetados pela epidemia.

"Segundo as provas existentes, os benefícios da lactação materna para o bebê e para a mãe superam qualquer risco de transmissão através do leite”, diz a nota da OMS.

O vírus zika, transmitido pelo Aedes aegypti, está associado à microcefalia nos recém- nascidos e também à síndrome de GuillainBarré, enfermidade neurológica que pode causar uma paralisia irreversível ou até a morte.

Em seu texto, a OMS lembra que o vírus foi detectado no leite materno de mães contaminadas, mas afirma que não há provas da transmissão do zika para bebês pela lactação. Na quartafeira, a diretora- geral da OMS, Margaret Chan, esteve no Rio e afirmou que a epidemia de zika no Brasil “poderia piorar antes de melhorar".

O documento reforça que o leite materno deve ser a única alimentação para bebês até os seis meses de vida. A OMS observa que mães com zika devem receber apoio de profissionais de saúde para iniciar a amamentação. Os bebês com microcefalia, recomenda a entidade, também devem ser amamentados.

ORIENTAÇÃO PODE MUDAR

A frequência com que é detectado e a quantidade de vírus zika no leite materno ainda são desconhecidas. Nos países com a doença, não há relatos de sintomas de distúrbios neurológicos ou de problemas graves que tenham se manifestado em crianças infectadas pelo vírus depois do nascimento. Qualquer mudança nesse quadro deverá ser cuidadosamente monitorada. Os procedimentos recomendados pela OMS são válidos até o mês de agosto ou até que surjam evidências que ex ijam uma revisão das recomendações.

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Estado já contabiliza 4.746 grávidas com sintomas

Número diz respeito a casos suspeitos desde que notificação se tornou obrigatória em 2015

Subiu o número de notificações de grávidas com suspeita de zika no estado do Rio. De acordo com a Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria estadual de Saúde, desde 18 de novembro de 2015, quando a notificação de gestantes com manchas vermelhas na pele ( exantema) tornou- se obrigatória no Rio, já foram notificados 4.746 casos de grávidas com os sintomas. Na semana passada, esse número estava em 4.152. O aumento foi de cerca de 14%.

Só na última semana, foram 140 novos casos. No entanto, já houve semanas em que mais de 400 gestantes foram atendidas com sinais da doença.

De acordo com o boletim divulgado ontem pela secretaria, do total de notificações de grávidas com exantema, 176 tiveram a confirmação do vírus. Mas ainda não se sabe se os fetos apresentam microcefalia. Na semana passada, eram 164 confirmações. Segundo o órgão, é importante ressaltar que o resultado positivo não configura a existência de microcefalia. Todas as grávidas serão monitoradas até o final da gestação.

Entre 1 º de janeiro de 2015 e 20 de fevereiro deste ano, dois casos de microcefalia associados a infecções congênitas foram confirmados por critérios clínico- radiológicos no estado. Ao todo, 250 casos ainda estão sendo investigados. Os números são consolidados após cruzamento de informações extraídas do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos ( Sinasc) e do Relatório de Emergência em Saúde Pública ( Resp), ambos do Ministério da Saúde.

MICROCEFALIA: 30 MORTOS

O número de casos de microcefalia também subiu em todo o país. De acordo com o boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde na segunda- feira, em uma semana, o número de casos confirmados de microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso subiu 14,8%, passando de 508 para 583. A quantidade de mortes em que houve confirmação de microcefalia também cresceu 11,1%: eram 27 na semana passada e agora são 30. Segundo o ministério, a maioria desses casos tem ligação com o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da febre chicungunha.

Na semana passada, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação dos casos de doenças decorrentes do vírus zika nos serviços públicos e privados de saúde de todo o país.

A notificação permite ao ministério ter uma contabilidade geral da doença, o que até então só vinha sendo feito com relação aos casos de suspeita de microcefalia relacionada ao zika — que já passaram de 4 mil desde o ano passado.

A prefeitura do Rio já registra os casos suspeitos de zika. Em 2016, foram 6.579 casos, sendo 5.830 no mês de janeiro e 749 de 1 º a 18 de fevereiro.

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Japonês que veio ao Brasil volta para casa infectado

Na Flórida há 3 grávidas com o vírus. Governo não disse para onde viajaram

O Ministério da Saúde do Japão registrou o primeiro caso de zika no país. O paciente, que tem entre 10 e 19 anos, estava no Brasil até o último sábado, segundo a rede pública de TV “NHK”. Autoridades japonesas afirmaram que ele apresentou febre e marcas na pele. Morador da cidade de Kawasaki, na província de Kanagawa, o garoto procurou o hospital ontem, mas já está se recuperando em casa. O estado de saúde dele é considerado estável.

Esse é o primeiro caso de zika registrado no Japão, desde o início do surto na América Latina. Em 2013, o país já tinha detectado três pacientes com a doença: um casal diagnosticado com o vírus após retornar de Bora Bora ( Polinésia Francesa) e um homem que havia voltado da ilha tailandesa de Koh Samui, de acordo com a agência EFE.

Na Flórida, o governo também divulgou que três grávidas estão contaminadas com o vírus zika. Elas viajaram recentemente para países que enfrentam surto da doença. Os nomes das pacientes e os locais onde estiveram não foram divulgados.

Os três casos da Flórida estão entre os 14 investigados nos Estados Unidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças ( CDC). O órgão recomenda a mulheres que não visitem áreas infectadas. Grávidas que tenham viajado para um dos 30 países onde o zika circula hoje são orientadas pela agência para fazer ultrassonagrafia.