O globo, n. 30.151, 24/02/2016. País, p. 5

Juntos, presos e sorridentes

Marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, sorriem ao chegar ao IML de Curitiba para exame de corpo de delito antes de seguirem para carceragem; sócia do marido declara: ‘ Não vou abaixar a cabeça, não’

Ao avistar os fotógrafos na porta do Instituto MédicoLegal ( IML) de Curitiba na manhã de ontem, depois de ser presa, Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, sorriu.

GERALDO BUBNIAKEscoltado. João Santana esboçou um sorriso, mas preferiu o silêncio

— Não vou baixar a cabeça, não — disse ela, que foi detida pela manhã com o marido no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, onde desembarcaram em voo vindo de Punta Cana, na República Dominicana, em cumprimento a pedido de prisão feito pelo juiz da 13 ª Vara Federal Criminal em Curitiba, Sérgio Moro, na 23 ª fase da Operação Lava- Jato.

Do aeroporto em Guarulhos, os dois foram levados em avião da PF para a carceragem da corporação em Curitiba. Ao se deparar com a imprensa no IML, João Santana preferiu o silêncio. A exemplo da mulher, manteve a cabeça erguida e também esboçou um leve sorriso. No caminho até a carceragem, ambos mantiveram os braços para trás, praxe na escolta feita pela PF.

Os dois desembarcaram no Brasil acompanhados do advogado Fábio Tofic. De acordo com o delegado Igor de Paula, que coordena as investigações da Lava- Jato, Santana estava sem o celular e o notebook. De acordo com o defensor, ele entregará os equipamentos se a polícia os solicitar.

— Não é normal alguém usar celular dentro da prisão, então ninguém se apresenta para ser preso com telefone ou computador — disse Tofic, que classificou as prisões de “absurdas”.

A defesa de Santana foi informada que ele e a mulher prestarão o primeiro depoimento à PF na tarde de hoje.

Os investigadores apuram pagamentos em contas no exterior do publicitário que somam US$ 7,5 milhões, depositados entre 2012 e 2014. Santana foi coordenador das campanhas eleitorais que levaram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff à Presidência.

Parte desses valores, US$ 3 milhões, foi paga pela offshore Klienfeld, identificada pela força- tarefa da Lava- Jato como empresa usada pela Odebrecht para pagar propina a dirigentes da Petrobras. Outra parte, US$ 4,5 milhões, foram depositados pelo engenheiro Zwi Skornicki, representante de um fornecedor da Petrobras citado por delatores como pagador de propinas em esquema de corrupção na estatal.

Tofic espera que a Justiça libere seu cliente após ele prestar depoimento:

— Não tem um centavo recebido no exterior que diga respeito a campanhas brasileiras. Basta lembrar que, de nove campanhas presidenciais feitas nos últimos anos, seis foram fora do Brasil.

O casal está em celas separadas, mas próximas, segundo o advogado. Ele não soube dizer se dividem espaço com outros investigados da Lava- Jato. Ao chegarem à carceragem, Santana e a mulher tomaram banho e comeram a refeição da PF. ( Especial para O GLOBO)