O Estado de São Paulo, n. 44.676, 11/02/2016. Política, p. A5

Lula aponta momento difícil para o PT

Em mensagem pelo aniversário do partido, ex-presidente diz que petistas erraram e que ‘quem comete erros paga pelos erros que cometeu’

Por: Ricardo Galhardo

 

Em vídeo divulgado ontem para comemorar o aniversário de 36 anos do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o partido atravessa dificuldades momentâneas e manifestou o desejo de que no ano que vem, ao comemorar 37 anos, a legenda esteja mais forte do que hoje.

“Se Deus quiser, apesar de toda dificuldade momentânea, (o PT) vai continuar a ser o grande partido da história deste país”, disse Lula. “Vamos torcer para que quando comemorar 37 anos de idade (em 2017) estejamos mais fortes do que hoje”, completou o ex-presidente.

No vídeo de pouco mais de três minutos Lula não citou as investigações das quais é alvo. O Ministério Público Estadual investiga um tríplex ao qual a família do ex-presidente teria direito no Guarujá e o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, autorizou a abertura de um inquérito específico para que a Polícia Federal apure a relação entre empreiteiras e um sítio usado pelo petista em Atibaia (SP). Sem mencionar nomes, Lula admite de forma genérica erros cometidos por petistas.

“É certo que não fizemos tudo o que tínhamos que fazer. É certo que cometemos erros e quem comete erros paga pelos erros que cometeu, é certo que um partido com esta quantidade de filiados tem gente mais à esquerda, mais à direita, mais ao centro. O PT não é uma seita”, disse Lula.

 

Reflexão. O ex-presidente pediu que a população “faça uma reflexão” sobre a importância histórica do PT - classificado mais de uma vez como o mais importante partido do Brasil - e enumerou exemplos inovadores do chamado “modo petista de governar”, como Orçamento Participativo.

Segundo Lula, a importância histórica do PT decorre do fato de o partido ter sido o primeiro a “dar voz ao povo” brasileiro, trazendo setores antes excluídos para a vida política nacional. “Nossos adversários conservadores não aceitam”, disse.

Diante da revelação do esquema da corrupção na Petrobrás investigado pela Lava Jato e do desempenho ruim da economia e do governo no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o PT atravessa seu pior momento desde que Lula chegou ao poder, em 2003.

 

Defesa. Na avaliação de dirigentes petistas, o desejo de Lula de que o PT esteja mais forte no ano que vem passa pelo destino do próprio ex-presidente frente às investigações das quais é alvo. Por isso o partido saiu em defesa de Lula. Em uma inserção de rádio e TV veiculada na semana passada e em artigo publicado no site do partido, o presidente do PT, Rui Falcão, defendeu o ex-presidente.

Movimentos sociais ligados ao PT prometem fazer uma manifestação na porta do fórum criminal da Barra Funda no dia 17, quando Lula deve prestar depoimento sobre o tríplex no Guarujá. Nos dias 26 e 27, quando o PT vai comemorar o aniversário com uma série de atividades no Rio de Janeiro, o partido fará um ato em solidariedade ao ex-presidente.

Hoje Lula deve se reunir com advogados para definir a estratégia de defesa judicial e política. Dirigentes petistas já manifestaram ao próprio ex-presidente que esperam uma resposta mais contundente em relação ao sítio em Atibaia.

O PT aprovou a entrada dos advogados Nilo Batista na defesa de Lula e Alberto Zacharias Toron como defensor de Fernando Bittar, um dos donos do sítio e sócio de Fábio Luiz, o Lulinha, filho do ex-presidente.

 

Torcida

“Apesar de toda dificuldade momentânea, (o PT) vai continuar a ser o grande partido da história deste país (...) Vamos torcer para que quando comemorar 37 anos de idade estejamos mais fortes do que hoje”

Luiz Inácio Lula da Silva

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Fernando Bittar contrata ex-defensor de empreiteiro

Por: Eduardo Kattah / Pedro Venceslau / Elys Santiago

 

O advogado Alberto Zacharias Toron, que na Operação Lava jato já defendeu o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, assumiu a defesa do empresário Fernando Bittar, um dos sócios do sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família.

O sítio Santa Bárbara, de 173 mil metros quadrados, é alvo de investigação da Lava Jato. A suspeita é que o imóvel tenha sido reformado e mobiliado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht.

Fernando Bittar é filho de Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas e amigo pessoal de Lula. Ele é dono do sítio em sociedade com Jonas Suassuna Filho. Em discussões internas, o nome de Toron chegou a ser sugerido por dirigentes do PT para a defesa do próprio Lula. Parte da cúpula do partido avalia que a defesa do ex-presidente ainda carece de um “nome de peso” no meio jurídico.

“Estou trabalhando na defesa do Fernando Bittar. Acho que isso não tem maior significado no ponto de vista do ex-presidente Lula”, disse Toron ao Estado. “Não me inteirei do caso ainda. Segunda-feira vou para Curitiba examinar os autos.”

O criminalista foi o autor do habeas corpus que tirou da cadeia e levou para prisão domiciliar empreiteiros e executivos de empresas - entre eles Pessoa e José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, da OAS - acolhido em abril do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal. Essa foi considerada a primeira grande vitória das defesas sobre as decisões do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância.

 

Visita. Na segunda-feira, Lula esteve na Baixada Santista, litoral paulista, para uma visita a Jacó Bittar. Conforme vizinhos, o ex-presidente chegou ao edifício localizado no bairro Ilha Porchat, por volta de 13h. A informação é que ele teria seguido para o sétimo andar e passado o dia no local, deixando São Vicente no final da noite. Durante a visita, um carro com seguranças permaneceu fazendo a escolta do petista no estacionamento.

A reportagem esteve na portaria dos edifícios Sanvi Porchat e Guarú Porchat ontem, 10. Aos serem questionados, os porteiros informaram que desconheciam a visita de Lula e também não sabiam dizer se Jacó Bittar residia conjunto. Uma moradora, no entanto, confirmou que o ex-prefeito de Campinas reside no prédio. Segundo ela, Jacó sofre do Mal de Parkinson. Procurado ontem, o Instituto Lula, presidido por Paulo Okamotto, não respondeu aos contatos da reportagem. / EDUARDO KATTAH, PEDRO VENCESLAU e ELYS SANTIAGO, ESPECIAL PARA O ESTADO