O Estado de São Paulo, n. 44.676, 11/02/2016. Política, p. A6

Silvio Pereira se diz ‘à disposição’ da Justiça Federal

Ex-secretário-geral do PT denunciado no mensalão foi citado em depoimentos do empresário Fernando Moura, delator da Lava Jato

Por: Fausto Macedo / Ricardo Brandt

 

O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira se colocou “à disposição” da Operação Lava Jato. Apontado pelo empresário ligado ao partido Fernando Moura como um dos precursores do esquema de propinas instalado na Petrobrás, em 2003, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Silvinho, como é conhecido, comunicou ao juiz federal Sérgio Moro que se dispõe a “prestar os esclarecimentos porventura necessários”.

A petição ao juiz da Lava Jato é subscrita pelos advogados Mariângela Tomé Lopes e André Augusto Mendes Machado. Eles se reportam a informações divulgadas nas últimas semanas sobre depoimentos de Moura.

No caso do mensalão, Silvinho foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelo crime de formação de quadrilha, mas acabou contemplado com um acordo homologado pela Justiça - o único dos 40 acusados que teve essa oportunidade porque a pena prevista para o delito que lhe foi imputado era inferior a um ano de prisão.

Fernando Moura mencionou o nome de Silvinho na investigação da Lava Jato. Moura foi preso em agosto de 2015 junto com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu durante um dos desdobramentos da operação. Acuado, Moura fechou acordo de delação premiada e foi solto.

Em seus depoimentos, Moura atribuiu a Silvinho papel importante na distribuição e indicação de apadrinhados do governo Lula para cargos estratégicos em estatais e empresas públicas. Narrou, ainda, o pagamento de propinas envolvendo o ex-secretário-geral do PT. O delator afirmou que, certa vez, pegou R$ 600 mil na residência de Silvinho, em São Paulo.

O juiz Sérgio Moro perguntou. “E para o sr. Silvio, (ele) também recebia esses pagamentos? Uma parte para ele?” “Com certeza”, respondeu Fernando Moura. “Por que o sr. diz isso?”, insistiu o magistrado.

“Porque uma oportunidade peguei 600 mil reais na casa do Silvio que ele tinha recebido da GDK e me pediu para entregar para uma outra pessoa”, disse o empresário delator.

 

Contradições. Na petição a Moro, a defesa de Silvinho faz menção ao procedimento do Ministério Público Federal “que tem por finalidade apurar as evidentes contradições” do depoimento de Fernando Moura à Justiça e as declarações no âmbito da delação premiada.

“Se for do interesse da Justiça e pertinente à apuração dos fatos tratados nesta ação penal, o peticionário (Silvio Pereira), novamente, coloca-se à inteira disposição deste juízo bem como dos procuradores da República que integram a força-tarefa”, afirmam os advogados.

Em janeiro deste ano, Moura protagonizou um episódio insólito da investigação. Diante do juiz Moro ele mudou a versão dada em delação, principalmente no trecho sobre a suposta orientação recebida de Dirceu para que saísse do País em 2005, no auge do mensalão.

Chamado à força tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba, base da Lava Jato, Moura disse que recuou porque recebeu uma “ameaça velada” um dia antes de seu depoimento na Justiça. Sérgio Moro o intimou para novo depoimento.

 

Esclarecimentos

“Se for do interesse da Justiça e pertinente à apuração dos fatos tratados nesta ação penal, o peticionário (Silvio Pereira) coloca-se à inteira disposição deste juízo bem como dos procuradores que integram a força-tarefa”

ADVOGADOS DE SILVIO PEREIRA EM PETIÇÃO AO JUIZ SÉRGIO MORO

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PT avalia riscos nos ‘segredos do passado’

Por: Ricardo Galhardo

 

Integrantes da cúpula petista interpretaram a decisão de Silvio Pereira de se colocar à disposição do juiz Sérgio Moro como um indício de que, se pressionado, o ex-dirigente petista poderia revelar segredos do passado. Os petistas, no entanto, minimizam o fato já que Pereira está afastado da vida partidária desde 2005, quando se desfiliou do partido em meio ao escândalo do mensalão.

Apenas um dos atuais integrantes da executiva do PT chegou a exercer cargo na direção nacional do partido na mesma época em que Silvinho, como é conhecido, lembrou um petista.

A maior preocupação quanto a um eventual depoimento de Pereira é em relação a ex-integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva e ao próprio ex-presidente, alvo de investigações da Lava Jato e do Ministério Público Estadual.

Embora tivesse pouco poder de decisão, Silvinho teve papel fundamental nas negociações com partidos aliados e com alas do PT para a composição do primeiro governo de Lula. Amando do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Pereira controlava o mapa de cargos e acompanhava de perto as negociações e conhecia os critérios para nomeações em ministérios e estatais.

Segundo pessoas que tiveram acesso a Silvinho nos últimos dias, o ex-dirigente petista está inconformado com o depoimento do lobista Fernando Moura, que envolveu o ex-dirigente em nomeações para a direção da Petrobrás e disse que o ex-petista recebeu mensalmente dinheiro do esquema – um “cala-boca”. Aos poucos interlocutores, Pereira afirma que Moura está mentindo. No restaurante da família, onde trabalha como cozinheiro, em Osasco, parentes disseram que Silvinho está afastado desde que seu nome surgiu na Lava Jato.

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Grupo dança ao redor de Deputado

Vander Loubet, do PT, foi alvo de manifestantes

Por: Fausto Macedo / Ricardo Brandt

 

Denunciado em dezembro pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva (11 vezes) e lavagem de dinheiro (99 vezes), o deputado Vander Loubet (PT-MS), alvo da Operação Lava Jato, viveu uma cena de constrangimento neste carnaval em Campo Grande, onde reside. Sentado à mesa de uma cafeteria ele se viu repentinamente cercado por manifestantes que dançaram a quadrilha para ele.

“Olha o Lula”, cantavam ao redor do parlamentar. “Olha a Polícia Federal…” Loubet permaneceu em sua cadeira, de braços cruzados, enquanto o grupo se divertia com o protesto.

As imagens de Loubet alvo da quadrilha foram divulgadas anteontem, no site O Antagonista.

O deputado petista é acusado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de recebimento de propinas que somaram R$ 1,028 milhão em esquema de corrupção instalado na BR Distribuidora.

Ao denunciar Loubet criminalmente perante o Supremo Tribunal Federal, Janot atribuiu ao parlamentar ligação com “grupo criminoso” que repassava a ele valores ilícitos “em função da ascendência que o Partido dos Trabalhadores exercia sobre parte da Petrobras Distribuidora S/A”.

“O parlamentar, em conjunto com auxiliares, acabou aderindo à organização criminosa preordenada à prática de crimes de peculato, de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro no âmbito da BR Distribuidora”, afirma o procurador-geral, que pediu ainda à Corte máxima decretação da perda do mandato de Loubet. O deputado não foi localizado para comentar o episódio. Loubet já negou ter recebido vantagem financeira de contratos da Petrobras. /F.M. e R.B.