O Estado de São Paulo, n. 44.676, 11/02/2016. Metrópole, p. A14

Ministério confirma a 3ª morte por zika e amplia dúvidas sobre alcance do vírus

Médicos de Natal, no Rio Grande do Norte, suspeitaram inicialmente que óbito poderia estar relacionado à dengue grave, mas exames deram inconclusivos; governo informou a OMS e sugeriu que os pacientes com a doença sejam tratados ‘com muita atenção’

Por: Lígia Formenti

 

O Ministério da Saúde confirmou a terceira morte provocada pelo zika em adultos no Brasil. A paciente, uma jovem de 20 anos do município de Serrinha, foi internada em 11 de abril no Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, no Rio Grande do Norte, com queixas respiratórias. Morreu 12 dias depois.

Na época, médicos suspeitaram que a morte poderia estar relacionada à dengue grave, mas exames deram inconclusivos. Diante do aumento de casos de zika registrados no País ano passado, o Instituto Evandro Chagas decidiu fazer uma nova análise do material, encontrando, desta vez, confirmação para a infecção por zika.

O achado, considerado de extrema importância por autoridades sanitárias, foi levado à Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora não seja o primeiro diagnóstico de morte por zika, o terceiro caso traz mostras mais robustas de que a doença pode levar a quadros mais graves do que inicialmente se imaginava. Não apenas para bebês infectados no período da gestação, mas para adultos que, até então, não apresentavam problemas graves de saúde. “Vamos percebendo um espectro mais amplo da doença, com maior gravidade”, afirmou o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. Informações obtidas até o momento mostram que a jovem tinha saúde normal até a infecção.

As mortes registradas no Brasil são as primeiras no mundo. O primeiro paciente a ter óbito por zika era um homem do Maranhão. O resultado, divulgado em novembro, foi analisado com cuidado por causa das condições do paciente. Ele apresentava lúpus, uma doença que pode se complicar de forma expressiva quando o organismo é infectado por bactérias ou por vírus, como o zika. No segundo caso, confirmado dias depois, a paciente, também uma jovem, não tinha até a infecção problemas graves de saúde. Os primeiros sintomas apresentados foram dor de cabeça, náuseas e pontos vermelhos na pele e nas mucosas em setembro. Ela morreu no fim de outubro.

 

Orientação. Maierovitch avalia que o fato de a terceira paciente ter apresentado problemas respiratórios não é suficiente, por si só, para que médicos investiguem infecção por zika quando queixas semelhantes surgirem. “Mas a morte confirma a necessidade de que médicos tratem pacientes com suspeita de zika com muita atenção.”

O diretor do Ministério da Saúde afirma não haver ainda uma hipótese para explicar o fato de zika poder levar pacientes adultos - e sem histórico de doenças - à morte. “Essa é mais uma pergunta das inúmeras que ainda precisam ser respondidas sobre o zika”, completou.

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Mutirão de sábado será ato para mídia

Por: Tânia Monteiro

 

Neste sábado, o governo federal vai fazer uma mobilização nacional, só que a operação se limitará a panfletagens e esclarecimento à população. Não haverá entrada nas residências ou colocação de remédios para larvas. Ou seja, não haverá nenhum tipo de limpeza, o que transformará a operação em um ato apenas midiático. Do dia 15 ao dia 19, outra operação será desencadeada com as Forças Armadas - aí sim para agir no combate ao mosquito. /TÂNIA MONTEIRO

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CDC diz que vacina pode ficar pronta em 2017

Por: Cláudia Trevisan

 

A vacina de combate ao vírus zika poderá estar disponível no fim de 2017, afirmou nesta quarta-feira, 10, o responsável por doenças infecciosas do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos EUA, Anthony Fauci. Em depoimento no Congresso americano, ele disse que será possível acelerar o processo de aprovação da vacina, caso a doença continue a se propagar no início do próximo ano.

Segundo Fauci, o governo americano já foi consultado por várias companhias farmacêuticas interessadas em produzir a imunização contra o zika, o que afastaria o risco de problemas em sua comercialização. A aprovação até o fim de 2017 seria “rápida como um foguete”, mas se justificaria em um cenário de persistência do vírus, afirmou.

A fase inicial de teste da vacina - que comprova sua segurança - deve terminar ainda neste ano. Depois disso, haverá duas outras fases para demonstrar a eficácia da imunização, que devem durar entre seis a oito meses. Fauci observou que o procedimento burocrático de aprovação da vacina pode ser encurtado e concluído no fim de 2017.

O cenário poderá mudar se houver redução significativa de casos no início do próximo ano. Se isso ocorrer, o processo deverá ser o regular, que costuma demorar de três a oito anos. Fauci ressaltou que a aprovação acelerada será facilitada pelo fato de já haver pesquisas de boas “candidatas” para a vacina. O CDC trabalha com várias possibilidades, entre as quais a vacina contra a dengue desenvolvida com o Instituto Butantã no Brasil.

Thomas Frieden, diretor do CDC, disse aos parlamentares americanos que o governo brasileiro está tomando as medidas necessárias para tentar conter o mosquito transmissor do vírus. Perguntado sobre viagens ao Brasil durante os Jogos Olímpicos no Rio, ele disse que o governo americano já deu orientações ao público - por enquanto, o CDC sugere que mulheres grávidas evitem áreas afetadas pelo zika.

Frieden observou que 40 milhões de pessoas viajam a cada ano entre os EUA e áreas afetadas pelo vírus, comparado a 20 mil que iam ou vinham de locais afetados pelo ebola. O diretor do CDC descartou a necessidade de checagem de viajantes em aeroportos e disse que a situação das duas doenças é muito diferente - ebola era transmitido entre pessoas enquanto o zika é carregado por um mosquito. “O nosso objetivo é proteger as mulheres grávidas.”

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Governo busca acordo com os laboratórios

Por: Isadora Peron

 

O governo federal discutiu ontem medidas para viabilizar acordos com laboratórios internacionais para a produção conjunta de uma vacina contra o vírus zika. Segundo o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, esse foi o tema da reunião que ele teve com os ministros Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).

As duas pastas estão elaborando um pacote de medidas para o combate à doença. A presidente Dilma Rousseff também já discutiu o assunto com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para que os dois países façam uma parceria.

 

Lei. Outra preocupação do governo é adequar a Lei da Biodiversidade para que o Brasil possa exportar, com menos burocracia, amostras para que outros países estudem a relação entre o zika e outras doenças.