Título: Fitch rebaixa dívida de Espanha e Itália
Autor: Martins, Victor ; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2011, Economia, p. 12
Redução da nota dos títulos dos dois países e da classificação de bancos europeus traz a tensão de volta aos mercados
Os mercados internacionais voltaram a ficar tensos, ontem, depois que a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida pública da Itália, da Espanha e de um punhado de bancos britânicos e portugueses, lançando nova onda de incerteza sobre a saúde das economias e do sistema financeiro da Europa. A agência norte-americana cortou a nota da Itália em um degrau, de "AA-" para "A+" e reduziu a da Espanha em dois níveis, de "AA+" para "AA-". E a perspectiva dos dois países se manteve negativa, o que significa que novos rebaixamentos podem ocorrer no futuro.
A agência citou o agravamento da crise de endividamento na Zona do Euro e a frágil situação fiscal das duas economias para justificar sua decisão. "Uma solução crível para a crise é política e tecnicamente complexa, e levará um tempo para entrar em vigência", justificou a Fitch. A maior surpresa foi a piora da nota da Espanha. "Respeitamos a decisão, mas não concordamos com ela", reagiu um porta-voz do Ministério da Economia espanhol. A Itália já havia sido rebaixada na semana passada pela agência Moody"s e, nesta semana, pela Standard & Poor"s. Na Fitch, com a nova classificação, o país governado pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi caiu para o mesmo patamar de países como Malta e Eslováquia.
O anúncio levou o euro a se desvalorizar ante o dólar e reverteu a tendência dos mercados de ações. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, que reagia positivamente aos dados sobre criação de empregos nos Estados Unidos em setembro, que vieram melhor do que o esperado, passou a operar em baixa e terminou o dia com queda de 0,18%. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa) já trabalhava no terreno negativo e ampliou o movimento de baixa, fechando com recuo de 2%.
As bolsas europeias, no entanto, não refletiram a mudança de humor dos investidores porque encerraram os negócios antes que o comunicado da Fitch fosse divulgado. Desse modo, os principais mercados se mantiveram no azul, ainda sustentados pelas notícias positivas do mercado de trabalho norte-americano. A principal bolsa da Zona do Euro, em Frankfurt, teve alta de 0,54%. Também subiram os índices de Paris (0,66%), Madri (1,08%), Milão (1,29%) e Londres (0,23%).
Socorro Mas a Fitch não produziu estragos somente no mercado de dívidas soberanas. A agência também rebaixou a nota de risco de 12 bancos britânicos, alegando que o governo, às voltas com restrições orçamentárias, estaria menos propenso a ajudá-los em caso de necessidade. Entre as instituições afetadas estão dois grandes bancos que receberam socorro milionário do governo britânico durante a crise de 2008 e 2009, o Lloyds Banking Group (LBG), que caiu de "Aa3" para "A1", e o Royal Bank of Scotland (RBS), que baixou dois degraus, de "Aa3" a "A2".
O ministro das Finanças, George Osborne, afirmou que, apesar da degradação, as instituições britânicas "não estão sofrendo os mesmos problemas de alguns dos bancos da Zona do Euro". Em Portugal, nove casas bancárias caíram no ranking da Fitch, entre elas algumas das principais instituições do país, como a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Banco Espírito Santo (BES) e o Banco Comercial Português. A agência avaliou também a situação da dívida soberana de Portugal, decidindo manter a nota "BBB-", mas também a perspectiva negativa dos papéis portugueses. Para completar o cenário de inquietação, no fim do dia a Moody"s anunciou que avalia o possível rebaixamento da dívida da Bélgica.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 08/10/2011 02:33