Título: Inflação chega a 7,3% e castiga consumidor
Autor: Martins, Victor ; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2011, Economia, p. 12

Custo de vida tem maior alta desde maio de 2005. No mês, IPCA avança 0,53% e ultrapassa meta central no ano. Risco maior de estourar o limite de 6,5%, porém, não sensibiliza o governo. Ordem é crescer a qualquer custoNotíciaGráfico

A disparada dos preços não tem dado trégua para o bolso dos brasileiros. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,53% em setembro e acumulou alta de 4,97% desde janeiro. O resultado deixou para trás a meta central de 4,5% e ampliou as chances de a inflação encerrar 2011 acima do limite estabelecido, de 6,5%. A despeito do sacrifício dos consumidores, o governo jogou a toalha. O IPCA subiu 7,31% nos últimos 12 meses ¿ maior valor desde maio de 2005 ¿ e, embora o Banco Central mantenha o discurso otimista, esperando uma desaceleração até o fim do ano, o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda já não veem problemas em a carestia ficar acima do teto. Desde que seja garantido, no mínimo, um crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar da piora no cenário da inflação, endossada inclusive pelo próprio BC no último relatório trimestral sobre o tema, a preocupação maior da presidente Dilma Rousseff é garantir empregos e expansão econômica nos próximos anos. Mesmo que não sejam alcançados números exuberantes, a ordem é crescer sempre. Desta vez, com impulso da política monetária ¿ diferentemente de 2008, quando o lado fiscal ditou o avanço do país.

Segundo analistas, o papel de instigador caberá ao presidente do BC, Alexandre Tombini, que, sob a batuta de Dilma, patrocinará uma redução da taxa básica de juros (Selic) "moderada", segundo ele próprio. Para o Itaú Unibanco, o país caminha em direção a uma alíquota de um dígito ¿ para 9% ¿ ao fim de 2012. "O governo tem enfatizado o papel central da política monetária na reação à crise, anunciando uma intenção de não recorrer a estímulos adicionais de política fiscal", destacou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. "A inflação, entretanto, seguirá relativamente alta", completou.

Diante da certeza de que a inflação deste ano está praticamente perdida, o mercado colocou o BC contra a parede e, na bolsa de apostas, acredita-se que, nem em 2012, o IPCA ficará no centro da meta de 4,5%. Apenas em 2013 esse objetivo teria chances de ser alcançado. "As previsões para o indicador em 2012 relutam em cair devido à rigidez da inflação, oriunda, por exemplo, do aumento nos preços de serviços", explicou Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. O salto do IPCA em 2011, segundo Barros, causará grande impacto na carestia do próximo ano.

As pressões sobre o custo de vida vêm de todos os lados. Os serviços têm sido um dos vilões para o orçamento familiar. O cabeleireiro subiu 6,08% no ano, enquanto os serviços bancários avançaram 12,25%. As passagens aéreas foram responsáveis pelo avanço do grupo transporte, ao dispararem 31,48%. Itens indispensáveis na mesa do brasileiro também estão em escalada, como o feijão carioca (6,14%) e o arroz (1,97%). Até a cervejinha ficou 1,34% mais cara.

Substituição O segurança Nilson Lacerda, 45 anos, é um dos consumidores afetados por essas elevações. Ele foi obrigado a cortar as viagens e alguns itens da cesta básica devido à carestia desenfreada. "Saíamos todo fim de semana, agora nos limitamos a sair uma vez por mês", afirmou. Situação semelhante vive a servidora pública Marisa Valença, 53. "Resolvi tirar o hambúrguer da lista e colocar o frango, pois rende mais e, geralmente, está na promoção. O feijão também tive que cortar", desabafou