Dilma condena vazamento, mas não comenta acusações

Júnia Gama e Renata Mariz 

03/03/2016

Em resposta à divulgação de trechos do termo de delação do senador Delcídio Amaral ( PT- MS), o Palácio do Planalto divulgou nota assinada pela própria presidente Dilma Rousseff e acionou o ex- ministro da Justiça e novo advogadogeral da União, José Eduardo Cardozo, para rebater cada uma das acusações. Na nota, Dilma afirma que todas as ações do governo têm se pautado pelo “compromisso com o fortalecimento das instituições de Estado, pelo respeito aos direitos individuais, o combate à corrupção e a defesa dos princípios que regem o Estado Democrático de Direito”.

A presidente condenou o vazamento das informações. “Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade. Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. No entanto, repito, é necessária a autorização do Poder Judiciário. Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do país”, afirma a presidente.

“Nós cumprimos rigorosamente o que estipula a nossa Constituição. Em meu governo, a lei é o instrumento, o respeito ao cidadão é a norma e a Constituição é, pois, o guia fundamental de nossa atuação”, diz a nota.

Em entrevista, Cardozo afirmou que o senador “mentiu com muito vigor” para evitar a delação premiada de Nestor Cerveró e que mente agora como “retaliação” ao governo, por ter sido preso no âmbito da Lava- Jato. Cardozo classificou como “um conjunto de mentiras” as declarações atribuídas a Delcídio, cujo teor foi revelado ontem pela revista “IstoÉ”.

Cardozo sugeriu que o senador está tentando uma delação premiada para se livrar de uma nova prisão com base em informações falsas.

— Naquilo que me atinge ou atinge a presidente, há um conjunto de mentiras — afirmou Cardozo, ressaltando não ter conhecimento se Delcídio de fato fez a delação.

Cardozo lembrou que, segundo notícias da imprensa, Delcídio teria manifestado, enquanto estava preso, incômodo com a posição do governo, de não tê- lo defendido publicamente:

— Se Delcídio fez delação, queria sair da prisão e queria atingir certas pessoas. Recebemos mensagens de que ele estava inconformado por ter sido preso e que achava que isso se devia ao fato de o governo não fazer nada a respeito.

O ex- ministro da Justiça disse ainda que, se existir a delação, o senador mentiu aos colegas no Senado. Mentir no exercício do mandato pode ensejar quebra de decoro parlamentar. Delcídio já responde a processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Casa.

— Se existe a delação, ele mentiu aos seus pares no Senado, porque falou que não teria.

O ministro afirmou que as acusações de Delcídio seriam “desejo de vingança contra Dilma” e disse ser “inverossímil” que a presidente tenha se encontrado com o senador para tratar da nomeação de Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça ( STJ). Cardozo também negou que Dilma tenha se encontrado com o presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF), Ricardo Lewandowski, em Portugal, para tratar da Operação Lava- Jato. O chefe da AGU refutou ainda que Dilma tivesse conhecimento dos problemas com Pasadena:

— Ele diz que Dilma, com poderes mediúnicos, sabia. Mas ninguém sabia, está na ata da sessão.

O agora titular da Advocacia- Geral da União reafirmou que Delcídio não tem “credibilidade” e que ele “visivelmente” quer fazer uma “retaliação” e “dividir o ônus” do que fez.

 

O globo, n. 30180, 04/03/2016. País, p. 05