Correio Braziliense, n. 19267, 25/02/2016. Política, p. 4

O problema é a má gestão, diz PMDB

Paulo de Tarso Lyra

Dois dias depois de o PT defender, na propaganda partidária, que haja mais otimismo para superar a crise e reconhecer que o partido errou, mas acertou muito mais, o PMDB que se apresentará hoje no rádio e na televisão dirá que o descalabro econômico não é fruto do pessimismo, mas da má gestão. Alegará que o desentendimento político continua, reforçará o “Plano Temer”, conjunto de propostas econômicas elaboradas pela legenda e dirá que a melhor arma do brasileiro para superar o atual momento não é o humor, mas o voto.

Durante debate sobre o setor portuário realizado ontem pela revista Carta Capital, o vice-presidente Michel Temer afirmou que a crise tem graduações. “Pode ser administrativa, com a mudança de ministros, ministros ruins, por exemplo. Crise política, que significa inexistência de apoio para o governo, que se resolve pelo diálogo. Pode ser crise econômica, um pouco mais dramática, mas resolvida mais precisamente com apoio do setor produtivo,” disse ele. Na tevê, Temer voltou a fazer um chamamento por união: “Esta é nossa grande oportunidade de mostrar que somos capazes de fazer valer as instituições que temos gente capaz de corrigir os erros da economia, que estamos unidos e somos uma grande nação”.

Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), o mote da propaganda é “não podemos perder o Brasil para a crise”. Segundo ele, o PMDB quer “ajudar o país, não o governo A ou B”. E confirmou que isso significa, de fato, um descolamento do governo e do PT. “Teremos candidato próprio em 2018 e precisamos ter um discurso para isso”, defendeu.

A relação entre o PMDB, o Planalto e o governo é oscilante. Após o emblemático episódio da carta de Temer à presidente Dilma, no fim do ano passado, os dois decidiram por ter uma relação “institucional e profícua”. Com a prisão do marqueteiro do PT, João Santana, no âmbito da Operação Lava-Jato, o PMDB começou a enviar sinais de que precisa ser mais bem tratado para não reforçar as fileiras do impeachment.

 

Ministério

O primeiro mimo cobrado do governo federal é a nomeação, o mais rápido possível, do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para a Secretaria Nacional de Aviação Civil. Ciente da pressão, o chefe da Casa Civil, ministro Jaques Wagner, prometeu aos peemedebistas que a nomeação sairá até o fim desta semana. “Eu não sei de nada, não me disseram nada. Só sei que o líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) vai ao Planalto para conversar sobre isso”, desconversou Lopes.

O gesto seria uma retribuição aos seis votos dados pelos mineiros peemedebistas para garantir a reeleição do deputado Leonardo Picciani (RJ) para a liderança da bancada. “Picciani venceu por 37 votos a 30. Se os mineiros mudarem de lado, os oposicionistas do PMDB — que são obcecados pela tese do impeachment — ficariam com 36 deputados e Picciani, com 31.

Um possível apoio ao processo de impeachment na Câmara seria, ao mesmo tempo, uma questão de sobrevivência. Se ele ocorrer, Temer assumiria no lugar da presidente. No caso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tanto Dilma quanto Temer perderiam o mandato.

“A questão do impeachment aqui na Casa ainda precisa ser discutida, até porque está paralisado o debate. Eu, particularmente, sou contra. Mas é claro que os peemedebistas que apoiarem a saída pelo TSE terão de, posteriormente, explicar por que trabalharam contra o vice Michel”, afirmou Picciani.

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Cunha ganha sobrevida

O presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), desistiu de retomar ontem a discussão do parecer prévio do relator Marcos Rogério (PDT-RO) que pede a continuidade do processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A sessão de hoje chegou a ser aberta, mas, orientado por outros colegas sobre a possibilidade da “tropa de choque” de Cunha pedir a anulação da reunião porque ela coincidia com a sessão plenária, Araújo suspendeu os trabalhos.

A expectativa era de que a discussão pudesse ser retomada depois das votações, mas o peemedebista esticou a sessão no plenário e sinalizou que poderia levar os trabalhos até mais tarde, forçando Araújo a remarcar a próxima reunião do colegiado para a terça-feira, dia 1º.

Pouco antes de Araújo anunciar que não haveria mais sessão nesta noite, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) fez uma questão de ordem sobre a necessidade de se cancelar uma reunião e não suspendê-la, como fez Araújo nesta tarde. “(O regimento) é claro ao dizer que em nenhum caso o horário das comissões poderá coincidir com a ordem do dia. Indago se os presidentes das comissões podem legislar e criar uma nova hipótese para suspensão para o caso de início da ordem do dia e retomada posterior ou devem, como manda o regimento, encerrar a sessão e proceder uma nova convocação”, disse Feliciano, um dos aliados de Cunha. A questão de ordem foi acolhida e ainda será respondida pela Mesa Diretora.

Ontem, o colegiado completou o 50º dia útil da instalação da representação contra Cunha. Pelas regras internas do colegiado, o processo contra um parlamentar precisa tramitar em 90 dias. Pela previsão do colegiado, o processo precisa ser concluído até 25 de abril. Mesmo com as recentes mudanças entre os titulares do colegiado, nas contas dos aliados de Cunha e de seus adversários, o placar agora está empatado em 10 votos a favor de Cunha e 10 contra — são 21 titulares.

 

FHC ataca “lulopetistas”

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reclamou ontem em vídeo publicado na internet do fato de ser alvo de mentiras dos “operadores lulopetistas” sempre que surge um novo capítulo da Operação Lava-Jato. O tucano não citou nomes, mas fez referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, na semana passada, teve um depoimento suspenso pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). “Todas as vezes, e têm sido muitas, que a Polícia Federal prende alguém ligado ao petrolão, os operadores do esquema lulopetista soltam uma mentira sobre mim, querendo, obviamente, com isso confundir a opinião pública”, afirmou o ex-presidente. “Francamente, virou gozação”, completou.

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Tucano é destituído

Hédio Ferreira Júnior

O Conselho de Ética do Senado destituiu ontem o senador Ataídes de Oliveira (PSDB-TO) da relatoria do processo contra Delcídio do Amaral (PT-MS). A decisão acata pedido da defesa do parlamentar, que alega impedimento do então relator. O sorteio para a escolha do novo relator está marcado para a próxima semana. A representação contra Delcídio do Amaral, preso pela Operação Lava-Jato por suspeita de formação de quadrilha e por atrapalhar as investigações, foi assinada pelo PPS e pela Rede, mas o líder dos tucanos do Senado, Cássio Cunha Lima (PB), chegou a declarar que o seu partido só não assinaria o documento porque tinha interesse em assumir a relatoria. Pelas regras do colegiado, partidos que representam contra um réu não podem ocupar o posto. Diante disso, o PSDB ficará fora do sorteio. Quem assumira relatoria terá como missão analisar a defesa prévia de Delcídio apresentada no último dia 18 e dar parecer sobre a abertura do processa com a oitiva de testemunhas e o recolhimento de provas, ou o arquivamento da ação por quebra de decoro parlamentar.