Correio Braziliense, n. 19270, 28/02/2016. Política, p. 3

Dilma esnoba a festa do PT

Luiz Carlos Azedo

A presidente Dilma Rousseff esnobou a festa do PT, irritada com as críticas que sofreu dos petistas por causa do acordo com o PSDB para flexibilizar o regime de partilha para exploração de petróleo e da proposta de reforma da Previdência Social anunciada pelo governo. Estrela do evento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou o conflito e incendiou a plateia ao criticar a oposição e a imprensa e defender seu legado e o governo. Levou os petistas ao delírio ao anunciar a própria candidatura à Presidência em  2018: “Eu estarei com 72 anos, com tesão de 30, para ser candidato!”, declarou.

Ausente, Dilma enviou uma carta na qual ignorou as polêmicas e disse estar “de braços dados com essa aguerrida militância do PT” que, como ela, “tem orgulho de empunhar a bandeira vermelha com a estrela branca”. Na mensagem, Dilma defendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um “patrimônio político” que é “duramente atacado, de forma injusta”.

Em entrevista a jornalistas no Chile, porém, ela havia dito que não governa “só para o PT” e sim para os brasileiros. E confirmou que não iria às comemorações do aniversário de 36 anos do PT no Rio de Janeiro, embora sua presença no evento estivesse sendo muito cobrada pela cúpula da legenda. “Nós vivemos numa democracia. O governo é uma coisa, os partidos são outra. Em que pesem eles serem a base, muitas vezes eles divergem. Isso é normal e tem de ser encarado com normalidade”, justificou.

Dilma almoçou ontem com a presidente Michelle Bachelet, depois de encerrada a visita oficial ao Chile. As duas são amigas e a presidente chilena é uma boa conselheira, uma vez que a socialista exerce a presidência pela segunda vez. Dilma foi muito criticada pelos petistas por não participar da festa de ontem à noite. Os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria-Geral da Presidência, Ricardo Berzoini, no Rio de Janeiro desde sexta-feira, ainda tentaram convencê-la a ir à festa, sem sucesso. O clima no PT local era tão hostil que o presidente regional da legenda, Washington Quaquá, prefeito de Maricá, chegou a dizer em entrevista que não fazia questão da presença dela na festa.

A presidente da República minimizou o contencioso com o PT, que anunciou propostas contra a política econômica do governo. “Sempre pedirei apoio e conto com o apoio deles (...) Um partido é um partido, um governo é um governo. Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros. Eu não governo só para o PT, só para o PSD, só para o PDT, ou só para o PTB, ou só para o para o PMDB. Eu tenho de governar olhando todos os interesses. E como o nome diz, o partido é sempre uma parte”, disse. Dilma negou que estivesse magoada por causa das críticas, embora seu distanciamento da legenda seja um sinal de que as relações com o ex-presidente Lula passam por um novo momento de tensão.

 

Desculpa

 

Na entrevista que concedeu no Chile, disse que não é um caso pessoal: “Não é possível vocês, jornalistas, acharem que essa relação tenha mágoas. Tem concordâncias, discordâncias, tem propostas diferentes e tem amadurecimento do governo, que não é dono da verdade, nem dos partidos, que são donos de sua verdade. Cada um tem a sua verdade e acho que ela tem que ser externada.” E deu uma desculpa para não ir à festa petista: “Gostaria muito (de ir), mas imagino que você perceba que entre o Chile e o Brasil tem um problema de distância”, disse. Em linha reta, a distância é de menos de 3 mil quilômetros, ou seja, 4h15 de voo.