Correio Braziliense, n. 19260, 18/02/2016. Brasil, p. 8

Um desafio do tamanho do país

Jéssica Gotlib

O percentual de jovens de 16 anos que concluíram o ensino fundamental e dos jovens de 19 anos formados no ensino médio cresceu na última década, segundo levantamento divulgado pelo movimento Todos pela Educação. O número de adolescentes que terminaram o ensino médio com até 19 anos cresceu 15,4%. Foram 509.485 concluintes a mais — 1.951.586 em 2014 contra 1.442.101 em 2005. No nível fundamental, o crescimento foi de 14,7%, o que representou mais 489.902 adolescentes com até 16 anos formados no 9º ano em relação ao total de 2.596.218 em 2014, O levantamento usou como base os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE.

De acordo com a economista e mestre em políticas públicas, Alejandra Velasco, superintendente do TPE, o relatório mostra dois grandes avanços: o crescimento histórico dos índices e a redução das desigualdades. É que o estudo observou também os dados de acordo com a raça/cor e renda da população e do local de moradia. Houve melhora dos indicadores relacionados à equidade, ou seja, a diferença entre ricos e pobres, pretos e brancos, e moradores das áreas rurais e urbanas diminuíram. “É a primeira vez que o país chega a esse patamar de formação. A distância entre ricos e pobres, brancos e negros, zona rural e urbana, caiu ao longo da última década. Mas combater essas disparidades continua sendo um desafio, pois elas ainda são muito grandes.”

Em relação à conclusão na idade certa, todas as regiões do país melhoraram, mas o progresso foi mais significativo no Norte, que avançou 5,2% entre 2013 e 2014, e no Nordeste, que cresceu 22,4% durante a década monitorada. A justificativa para a melhora nos índices engloba vários fatores, segundo Alejandra. “Em todos os casos, não existe fórmula mágica para melhorar os resultados. É preciso diminuir os índices de reprovação, formar melhor os professores e repensar o ensino médio para que leve o aluno a índices adequados de aprendizado.”

Entre 2007 (primeiro ano comparável) e 2014, as taxas de distorção idade série, aprovação e reprovação apresentaram evoluções. O Distrito Federal (DF) é uma das unidades federativas que cumpriu a meta estipulada para 2014. Naquele ano 72,4% dos jovens brasilienses de até 19 anos concluíram o ensino médio, contra 58,4 em 2005, crescimento de 13,9%, abaixo da média nacional e da região Centro-Oeste, 17,4%.

Mesmo com muitos números positivos, a economista entende que os avanços ocorrem a passos lentos. “É preciso fazer uma análise mais profunda e ver a situação de estados e municípios para entender por que o ritmo de crescimento não é maior. Mas sabemos que muitos lugares não conseguem alcançar as metas anuais”, argumenta. Duas saídas apontadas por Alejandra são melhorar as políticas de reforço escolar e aprimorar a implantação dos ciclos de ensino para que os estudantes não cheguem ao final sem compreender o conteúdo.

Desigualdade
Apesar de continuarem altas, as discrepâncias caíram em todos os fatores avaliados. Do ponto de vista das regiões, a diferença entre o número de concluintes do sudeste, historicamente com os melhores resultados, e do nordeste, região com os números mais baixos, caiu 13%.

Douglas Costa, 13 anos, nunca ficou em recuperação e conta que suas notas variam entre 8 e 10, mesmo nas matérias nas quais têm mais dificuldade, química e português. “Não estudo nem muito nem pouco, apenas o suficiente. Tenho facilidade em aprender. Faço os deveres de casa todos os dias e reviso o que aprendi uma semana antes de cada prova”, completa.