O globo, n. 30154, 27/02/2016. Economia, p. 18

Em crise, Gol receberá até R$ 1 bi da Smiles e cortará sete destinos

No país, serão 3 cidades e deve haver demissões. Aérea sairá da Venezuela
Por: Danielle Nogueira
 
DANIELLE NOGUEIRA
danielle. nogueira@ oglobo.com. br
 

    Com prejuízo acumulado bilionário, a companhia aérea Gol receberá uma injeção de até R$ 1 bilhão de sua subsidiária, a Smiles, em forma de compra antecipada de passagens, informaram as empresas em comunicado ontem. A primeira parcela do aporte, de R$ 376 milhões, é imediata. O restante está condicionado a algumas medidas a serem adotadas pela aérea, entre elas, a suspensão de sete destinos e a devolução de cinco aeronaves.

    Os destinos para os quais a Gol deixará de voar incluem rotas internacionais e domésticas. Para o exterior, serão cortadas as rotas de Miami, Orlando, Caracas e Aruba. No Brasil, Bauru (SP), Imperatriz (MA) e Altamira (PA). A Gol continuará voando para outras cidades fora do país, como Punta Cana e Buenos Aires. Na Venezuela, a empresa vinha enfrentando dificuldade de repatriar divisas e chegou a anunciar que interromperia os voos para a capital da Venezuela temporariamente.

    Segundo a Gol, o encerramento das operações em sete cidades deve levar a demissões. A aérea não informou, porém, quantos funcionários serão dispensados. A redução de frequências de 6% no primeiro semestre deste ano, que já havia sido anunciada, também é condição para o recebimento das parcela.

    Outra condicionante é a revisão no cronograma de entrega de aeronaves. O plano de negócios da Gol previa a chegada de 15 aviões entre 2016 e 2017. Agora, será apenas um. A frota, hoje, é composta de 141 aeronaves. Segundo o comunicado, todas essas condicionantes visam a dar mais liquidez à aérea. Caso elas não sejam cumpridas até 30 de junho de 2017, a Smiles não colocará um tostão na empresa além dos primeiros R$ 376 milhões.

    “Os desembolsos serão realizados até o dia 30 de junho de 2017, ou então deixarão de estar disponíveis, sendo que também estarão condicionados a condições mínimas de liquidez da companhia”, disse a Smiles em nota.

    A Gol esclareceu que há incerteza quanto ao cumprimento dessas condicionantes. “A companhia não pode assegurar que conseguirá tomar todas as medidas que garantam os desembolsos, pois dependem, em parte, de terceiros, e não pode tampouco assegurar a data exata da satisfação das condições para cada desembolso”, informou a aérea em comunicado

    A Gol indicou que poderá cortar mais voos. Em nota, disse que “continuará a avaliar oportunidades em sua malha aérea e estará preparada para outras medidas de racionalização da capacidade e otimização da malha, de modo a ajustar a oferta de voos de acordo com a demanda e atual cenário do setor”.

    Entre as companhias aéreas brasileiras, a Gol é a que está em situação econômica mais delicada, na avaliação de especialistas. Somente nos primeiros nove meses de 2015, a empresa registrou R$ 3,2 bilhões de prejuízo. E o desempenho das ações vai de mal a pior: no ano passado, os papéis da empresa tiveram desvalorização de mais de 80% na Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa). Desde 2011, quando a Gol entrou no vermelho, a desvalorização das ações supera 90%. Ontem, a ação preferencial (sem direito a voto) subiu 15%, para R$ 2,17.

    Em nota, a companhia disse que ajusta a malha continuamente e que iniciou novas rotas e voos partindo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Dentre os destinos que receberam aumento de frequência estão Salvador e Porto Seguro.

    Números

    R$ 376 MILHÕES É o aporte que será feito de imediato

    5 AERONAVES devolvidas e sete destinos cortados são algumas das condições para receber o restante