O globo, n. 30132, 05/02/2016. País, p. 7

UTC fazia pagamentos periódicos ao Solidariedade, diz tesoureiro

Repasses variavam de R$ 20 mil a R$ 40 mil, em dinheiro vivo, a cada 45 dias
Por: VINICIUS SASSINE

 

VINICIUS SASSINE

vinicius. jorge@ bsb. oglobo. com. br

 

BRASÍLIA - O tesoureiro do Solidariedade, Luciano Araújo de Oliveira, disse em depoimento à Polícia Federal que a construtora UTC fazia pagamentos em espécie ao partido a cada 45 dias, antes mesmo da formalização da legenda, com valores oscilando entre R$ 20 mil e R$ 40 mil. Os repasses eram feitos em dinheiro vivo porque a empreiteira “não desejava operacionalizar por meio de transferências”, afirmou o tesoureiro. Luciano atribuiu os pagamentos à proximidade entre o dono da UTC, Ricardo Pessoa, e o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força ( SP).

O depoimento ocorreu em 26 de outubro, em inquérito no Supremo Tribunal Federal ( STF) que investiga suposta venda de informações privilegiadas do Tribunal de Contas da União ( TCU) ao dono da UTC por parte do advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do tribunal, Aroldo Cedraz. Luciano é primo de Tiago. Os dois já foram sócios e são da executiva nacional do Solidariedade — o advogado é secretário de assuntos jurídicos do partido. Tiago é suspeito de receber R$ 50 mil mensais para vender informações do TCU a Pessoa.

O empreiteiro entregou à Procuradoria Geral da República ( PGR), em delação premiada, uma relação de diversas visitas de Luciano e Tiago à UTC para, supostamente, receberem o dinheiro. Os dois são investigados no inquérito em curso no STF, assim como o ministro do TCU Raimundo Carreiro. Pessoa contou ter feito um pagamento único de R$ 1 milhão a Tiago para obter informações sobre processo da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis ( RJ). O empreiteiro afirmou ter interpretado que o dinheiro seria destinado a Carreiro, relator do processo no tribunal.

O dinheiro não se confundia com doações oficiais. Segundo Luciano, a UTC fez duas doações “oficiais”: R$ 1 milhão em julho e R$ 200 mil em setembro de 2014. “Tais doações foram realizadas via transferência on- line, preenchidos os requisitos da legalidade do ato. Esta não foi a única ajuda ao partido”, disse o tesoureiro à PF. As “ajudas” em espécie ocorreram no ano anterior.