O globo, n. 30135, 08/02/2016. Rio, p. 5

CIDADE TERÁ MAPA DO ‘ AEDES’

Agentes da prefeitura farão, enfim, levantamento de lugares com maior número de focos
Por: MÁRCIO MENASCE

 

MÁRCIO MENASCE

marcio. menasce@ oglobo. com. br

     

    O verão começou no dia 22 de dezembro e, com a estação, chegou também o período mais crítico para o combate ao Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chicungunha. Apesar disso, a Secretaria municipal de Saúde só terá dados sobre a infestação do mosquito em cada região da cidade em março, como admitiu ontem ao GLOBO o titular da pasta, Daniel Soranz. É que, ao contrário de outras capitais do país, como Recife e Porto Alegre, o Rio ainda não começou a fazer o Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti ( LIRAa) deste ano. O último divulgado pela prefeitura é de outubro. Segundo especialistas, o conhecimento das áreas onde há focos de proliferação do mosquito é fundamental para o planejamento de um combate mais eficiente e também serve para alertar a população sobre a necessidade de impedir o acúmulo de água parada. De acordo com Soranz, o primeiro LIRAa de 2016 começará a ser feito logo após o carnaval, e deverá demorar um mês para ficar pronto.

    Desde 2012, o município divulgava o LIRAa na primeira semana de janeiro. Pela série histórica da Secretaria de Saúde, são feitos quatro ano. Soranz alegou que a demora para a coleta dos dados em 2016 se deve a uma orientação do Ministério da Saúde ( que determina as datas de apresentação dos resultados) para que os municípios concentrem todos os esforços à luta contra o mosquito, impondo às suas equipes de agentes sanitários a meta de visitar 100% das casas.

    — A coleta das amostras para o LIRAa é feita durante um semana. Neste período, os agentes de controle epidemiológico gastam mais tempo nas visitas às casas, pois precisam colocar o material recolhido em tubos especiais, entre outras tarefas. Esse processo atrasa o agente e diminui a capacidade das equipes de percorrer a cidade — disse Soranz.

     

    SECRETÁRIO RECONHECE IMPORTÂNCIA

    O secretário reconheceu que o LIRA a é o melhor instrumento para identificar pontos de infestação do Aedes aeg ypti, mas ele garantiu que não houve prejuízo para as ações de combate ao mosquito com o adiamento da coleta dos dados:

    — Acredito que a orientação do Ministério da Saúde está correta. Neste momento, é mais importante acelerar o combate à reprodução do mosquito, cumprindo a meta de visitar 100% das residências.

    De acordo com Edimilson Migowski, chefe do serviço de infectologia pediátrica da UFRJ, o LIRA a é fundamental para direcionar o combate ao Aedes aegypti. Ele também afirmou que o levantamento poderia engajar mais a população.

    — Se o poder público souber quais são as regiões em que há mais focos do mosquito, poderá colocar mais agentes para visitar as casas destes locais. Além disso, se a pessoa é informada que está dentro do “barril de pólvora”, ela não vai querer “explodir” lá dentro. Quando o morador de um bairro descobre que vive num dos lugares mais afetados, passa a tomar precauções e alerta os vizinhos — disse Migowski.

    Para Silvia Cavalcantti, infectologista da UFF, a informação é uma das principais aliadas do combate a epidemias.

    — Quanto mais dados os agentes de saúde tiverem, melhor. Eles vão saber onde precisam agir mais, e isso, obviamente, é uma vantagem contra um inimigo poderoso como o Aedes aegypti. O mesmo vale para a população. A inporformação pode nos ajudar a passar de um nível de controle doméstico para o de bairro. As pessoas têm que ser alertadas para observar locais e denunciar os pontos de água parada — afirmou a infectologista.

    Recife, uma das cidades brasileiras mais afetadas pela zika, já divulgou seu LIRAa de janeiro. De acordo com a Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o município entende que é importante ter o conhecimento da infestação por regiões, mesmo com a orientação do Ministério da Saúde para deixar a coleta dos dados para mais tarde. Porto Alegre também realizou o levantamento. Segundo a Secretaria de Saúde da capital gaúcha, o LIRAa deverá ser divulgado na primeira semana após o carnaval. Assim como o Rio, São Paulo informou que começará a coletar as amostras este mês.

    De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio, de 1 º de janeiro até o último dia 3, foram feitas 1.124 notificações de casos suspeitos de dengue na cidade. A região com mais registros é a Zona Oeste. Somente em Jacarepaguá foram 147. Segundo a prefeitura, agentes de saúde vistoriaram mais de um milhão de residências este ano e já foram eliminados mais de 60 mil depósitos de água parada. Outros 160 mil foram tratados com produtos químicos que impedem a presença de larvas de mosquito.