O Estado de São Paulo, n. 44.694, 29/02/2016. Política, p. A4

Prévias do PSDB para a Prefeitura de São Paulo acentuam divisão na legenda

Eleições 2016. João Doria, apoiado pelo governador Alckmin, e Andrea Matarazzo, apadrinhado por Serra e Fernando Henrique, foram os mais votados e vão se enfrentar no segundo turno da disputa; mobilização de filiados é marcada por agressões e tumultos

Por: Pedro Venceslau / Ana Fernandes / Ricardo Chapola

 

O empresário João Doria, que é apoiado pelo governador Geraldo Alckmin, e o vereador Andrea Matarazzo, que tem como “padrinhos” o senador José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram os mais votados ontem no primeiro turno das prévias tucanas para escolher o candidato do partido a prefeito de São Paulo.

Doria, que obteve 2.681 votos, e Matarazzo com 2.045 votos, vão se enfrentar no segundo turno da disputa, no dia 20 de março. A apuração da votação se estendeu até a madrugada de hoje.

A votação, marcada por episódios de tumulto e agressões entre militantes dos pré-candidatos, escancarou as divisões internas da legenda, deixando claro que a disputa municipal foi contaminada pelo horizonte eleitoral de 2018 e mostrando que o PSDB paulistano terá sérias dificuldades pela frente.

O terceiro postulante, deputado federal Ricardo Tripoli, apoiado pelo deputado Bruno Covas e pelo ex-deputado José Aníbal, ficou em terceiro lugar com 1.387 votos. O resultado do primeiro turno, porém, não foi homologado porque há divergências sobre o resultado de algumas sessões eleitorais, onde ocorreram problemas com as urnas.

 

Impugnação. A mobilização eleitoral, além das brigas de militantes, foi marcada também por trocas de acusações entre os políticos envolvidos na disputa.

Após a votação, no fim do dia, aliados de Matarazzo e de Tripoli se uniram para tentar impugnar a pré-candidatura de Doria.

O ex-governador Alberto Goldman, que apoia Matarazzo, e Aníbal, que preside o Instituto Teotônio Vilela, enviaram à direção da legenda uma petição acusando Doria de “condutas ilegais” de propaganda eleitoral, desrespeito à Lei Cidade Limpa e “abuso de poder econômico”.

Eles pedem que a inscrição de Doria na prévia do partido seja cancelada.

No pedido de impugnação de candidatura, a dupla diz que houve “nítida propaganda ilegal ostensiva, captação de sufrágio,abuso de poder econômico e transporte em massa de eleitores”.

Único dos três pré-candidatos presente na apuração – que aconteceu na Câmara Municipal –, Doria disse que o partido permitiu a prática de propaganda no dia da votação, inclusive com colocação de cavaletes.

O presidente do diretório municipal do PSDB, Mário Covas Neto, disse que avaliará o caso “no momento oportuno”.

 

‘Tapetão’. Em entrevista coletiva ao lado do deputado Silvio Torres, secretário-geral do PSDB, Doria acusou os adversários de tentarem usar o “tapetão” para vencer a disputa. “Mas isso não vai funcionar”, afirmou.

Já na madrugada, Matarazzo respondeu afirmando que o empresário quer ganhar a eleição com “o poder econômico e na mão grande”, declaração que provocou um novo princípio de tumulto entre os militantes que acompanhavam a apuração na Câmara Municipal.

A “aliança” entre Tripoli e Matarazzo foi o último lance de uma sequência de choques entre as alas do PSDB. Pela manhã, o governador Geraldo Alckmin declarou pela primeira vez publicamente que apoia Doria nas prévias do PSDB. Acompanhados por um séquito de assessores e aliados, eles foram juntos a um colégio no Morumbi onde o governador votou. “Sem demérito para os demais candidatos, o meu voto vai para o João Doria. Ele traz uma experiência do setor privado. São Paulo está precisando dar uma acelerada”, disse Alckmin.

“É mais que um apoio formal, porque toda a estrutura do governo (estadual) está mobilizada para isso. De quem é o governo? De uma pessoa só ou do partido? Como é aceitável isso?", questionou Goldman.

A avaliação generalizada entre os tucanos é que o cenário se degradou a tal ponto que será impossível recompor a base da sigla para disputa de outubro. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso optou por se distanciar da polêmica e votou sozinho em Santa Cecília no fim da tarde.

A desorganização do cadastro de eleitores do PSDB e problemas técnicos em diversos computadores fez com a apuração, que devia ter sido concluída às 18hs, entrasse pela madrugada.

Senadores relacionados:

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No Tatuapé, polícia encerra votação

Urna teve de ser retirada do local sob escolta

Por: Pedro Venceslau / Ana Fernandes / Ricardo Chapola

 

O auge da tensão entre os tucanos nas prévias de ontem foi registrado no ponto de votação do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, localizado em um clube de malha.

O local foi invadido por um grupo de pessoas não identificadas, que quebrou o computador que servia de urna eletrônica e a impressora que imprimia os votos. Em seguida, houve uma tentativa de roubar a urna onde foram depositados os votos de papel. Pouco depois do ocorrido, apoiadores do empresário João Doria e do deputado federal Ricardo Tripoli entraram em conflito na rua e se acusaram mutuamente pela confusão.

A Polícia Militar foi acionada e a votação foi encerrada antes da hora. A urna com os votos de papel foi retirada sob escolta de soldados da PM.

No final do dia a cúpula do partido decidiu descartar os votos da sessão no Tatuapé.

“A confusão começou quando coloquei em ata que estavam fazendo um churrasco e bebendo cerveja dentro do local da votação. Começou então a confusão e um grupo de pessoas ameaçou me arrebentar.

De repente, três menores entraram e quebraram o computador”, disse a presidente do diretório tucano do Tatuapé, Vânia Alves, que apoia o deputado Ricardo Tripoli, um dos pré-candidatos que concorre nas prévias.

Já Maria de Lurdes Silva, militante histórica do PSDB no Tatuapé e apoiadora de João Doria, acusa o grupo do deputado Ricardo Tripoli de ter começado a confusão. “Foi o grupo dele que invadiu aqui”, afirmou ela. “Quem apanhou lá foi a Vânia, que sempre me apoiou”, rebateu o deputado.

Houve registro de brigas, agressões e vandalismo, além de discussões pesadas entre dirigentes do partido, em vários dos 59 pontos de votação espalhados pela cidade e até relatos de ameaças com armas de fogo, o que não foi comprovado.

Atraso. A Executiva Municipal do PSDB atrasou a apuração em mais de duas horas para discutir a crise e definir o que fazer com os votos,que foram computados apenas manualmente, em separado.

Houve relatos de filiados antigos do partido que não constavam das listas nas seções de votação. Eles então votaram, mas apenas em papel. / P.V. e A.F.

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Alckmin defende disputa interna para 2018

Por: Pedro Venceslau / Ana Fernandes

 

Um dos postulantes à indicação como presidenciável tucano em 2018, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu ontem a realização de prévias no partido para definir o futuro candidato ao Palácio do Planalto. “É possível, é necessário e importante (que o PSDB faça prévias nacionais). Veja no modelo americano a importância das primárias”, disse o governador, ao sair de uma escola no Morumbi, onde votou nas prévias do PSDB que definirão o candidato tucano na capital.

A declaração reforça a disposição do governador de repetir uma candidatura à Presidência – em 2006, Alckmin foi o candidato tucano ao cargo, derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Outros nomes do PSDB cotados para concorrer à Presidência em 2018 são os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).

Ao deixar a votação de ontem, Alckmin ainda minimizou a disputa fratricida que marcou as prévias no partido.

“Torcida e disputa fazem parte do processo. Apoiarei com entusiasmo o vencedor.” Alckmin ainda ironizou as declarações de Lula feitas durante a festa de 36 anos do PT, anteontem, de que está “de saco cheio” com as investigações sobre ele, do Ministério Público de São Paulo e na Operação Lava Jato. “Lula está sitiado”, disse Alckmin, referindo- se à polêmica envolvendo o sítio frequentado pelo ex-presidente e sua família em Atibaia (SP). / P.V. e A.F.

 

Mudança

“É possível, é necessário (que o PSDB faça prévias nacionais). Veja no modelo americano a importância das primárias” 

Senadores relacionados:

  • Aécio Neves
  • José Serra