Correio Braziliense, n. 19259, 17/02/2016. Política, p. 5

Novo apelo pela CPMF

CRISE NA REPÚBLICA » Dilma se reúne com integrantes da base aliada e pede a aprovação até maio do imposto do cheque para custear a previdência

 Naira Trindade

 

 

Um dia após fazer um apelo aos senadores para a aprovação da CPMF, a presidente Dilma Rousseff lançou novamente o pedido, desta vez aos líderes da base aliada da Câmara dos Deputados. Argumentando não haver outra saída para elevar a receita a não ser a recriação do imposto e ressaltando ter havido um corte de R$ 130 bilhões no ano passado, a presidente defendeu que os líderes convençam a oposição a aprovar a proposta ou apresentem sugestões para evitar elevar a carga tributária.

Bem-humorada e aberta a dialogar, Dilma se atentou à sugestão apresentada pelo deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA) ao sugerir a estatização dos cartórios, que teriam lucros exorbitantes. Ao ouvir a proposta, Dilma pediu que o baiano a repetisse e afirmou que estudaria o tema. Já o líder do Pros, deputado federal Givaldo Carimbão (AL), sugeriu que se recuperasse viciados em drogas em vez de gastar dinheiro com o caro e insuficiente sistema carcerário do Brasil.

Após três horas de reunião com 24 líderes e vice-líderes da base, Dilma se comprometeu a receber, no Palácio do Alvorada, as bancadas de deputados para jantares, cafés e almoços de segunda a quarta-feira para ampliar as pautas de discussões sobre os trabalhos legislativos. Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o governo quer aumentar o diálogo com o Congresso para conseguir a aprovação da CPMF até maio. “A palavra de ordem é rapidez no diálogo. Temos poucos meses, é ano eleitoral. Tudo nós temos que fazer até maio.”

“A prioridade é o debate. Há uma disposição dela (ao diálogo). Quem tiver ideias, que (as) ponha na mesa, que é disso que o Brasil precisa. Para quem dizia que a presidente não dialogava, em duas semanas ela foi a ao Congresso e está em discussão com as bancadas. É esse nosso ciclo que foi iniciado com a ida da presidente ao Congresso”, elogiou o líder do governo na Câmara, lembrando não haver alternativa para elevar o imposto. “Ela falou: ‘se não querem a CPMF, o que querem? Vão botar o quê no lugar?’”, repetiu José Guimarães.

Na segunda-feira, a presidente pediu apoio dos líderes da base aliada no Senado para a CPMF. Desde setembro passado, uma proposta nos mesmos moldes da antiga tributação tramita no Congresso. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) ainda não recebeu nenhuma votação dos parlamentares. Ao participar da cerimônia de abertura dos trabalhos no Congresso, Dilma defendeu que a CPMF é “a melhor solução disponível” para a economia e acabou vaiada por parlamentares.

Ontem, após receber deputados e ministros, Dilma convidou o Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir a pauta de votações deste ano no Planalto. Renan quis dialogar com a presidente para definir quais propostas deve colocar em votação neste ano. Antes de se reunir com ela, porém, ele sentou-se com os líderes no Senado. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) reclamou da tentativa de aprovação de nova CPMF. “O que nos parece é que o governo da presidente Dilma tem apenas uma proposta para o Brasil, que é a CPMF, portanto, a transferência para a sociedade e para o trabalhador brasileiro do peso do ônus dos equívocos e irresponsabilidades cometidos por esse governo”, afirmou.

Frase

“O que nos parece é que o governo da presidente Dilma tem apenas uma proposta para o Brasil, que é a CPMF, portanto, a transferência para a sociedade e para o trabalhador brasileiro do peso do ônus dos equívocos e irresponsabilidades cometidos por esse governo”

Aécio Neves, presidente do PSDB