O globo, n. 30131, 04/02/2016. País, p. 4

COMPRA DE COZINHAS REFORÇA ELO ENTRE SÍTIO E TRÍPLEX NO GUARUJÁ

As duas aquisições foram pagas pela OAS e feitas na mesma loja em São Paulo
 

- SÃO PAULO- A compra de cozinhas planejadas da empresa Kitchens liga o tríplex no Guarujá, reservado ao ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o sítio de Atibaia, frequentado pelo líder petista e seus familiares. Investigações apontam que as duas compras, feitas na mesma loja, em São Paulo, foram pagas pela construtora OAS, segundo reportagem de ontem do “Jornal Nacional”.

O triplex, que está registrado em nome da OAS, passou por reformas que custaram R$ 777 mil, entre abril e setembro de 2014. Em 12 de novembro do mesmo ano, foi entregue a cozinha planejada, que custou R$ 78,8 mil.

O ex- presidente confirmou que visitou o apartamento, acompanhado do então presidente da OAS, Léo Pinheiro, mas desistiu de ficar com o imóvel porque não teria privacidade.

Outra compra na mesma loja também teria sido paga pela OAS, segundo as investigações, e foi entregue no sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O pedido é datado de 13 de março de 2014. Além da cozinha planejada de R$ 28 mil, foram entregues um refrigerador de R$ 9,7 mil, uma lavalouças de R$ 9,1 mil, um forno elétrico de R$ 10,1 mil, uma bancada de R$ 43 mil e outros itens. No total, foram pagos R$ 130 mil.

A nota fiscal das compras para o sítio está em nome de Fernando Bittar, um dos sócios do imóvel de Atibaia. Os promotores querem saber por que a OAS pagou pela compra feita por Bittar. As duas aquisições foram feitas na mesma loja, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. A informação foi publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” na edição do último sábado.

O sítio em Atibaia está em nome de Bittar e de Jonas Suassuna, que também são sócios do filho mais velho do ex- presidente Lula, Fábio Luis Lula da Silva, conhecido como Lulinha.

O Ministério Público de São Paulo suspeita que o ex- presidente Lula seja o verdadeiro dono do apartamento no Guarujá. Os promotores questionam o fato de a OAS ter gastado tanto dinheiro numa reforma sem um comprador definido. A construtora não quis comentar o assunto. O Instituto Lula não respondeu às perguntas do GLOBO. Fernando Bittar também não foi localizado.

De acordo com a investigação do Ministério Público, no fim de 2009 nove empreendimentos inacabados da Bancoop ( cooperativa habitacional criada pelo Sindicado dos Bancários de São Paulo) foram assumidos pela construtora OAS. Um deles é justamente o prédio onde o ex- presidente teria um apartamento e onde João Vaccari, em depoimento, disse ser proprietário de outra unidade.

Vaccari, ex- tesoureiro do PT preso na Operação Lava- Jato, presidiu a Bancoop. A defesa do ex- presidente argumenta que ele nunca foi dono do apartamento, mas somente proprietário de cotas de um projeto habitacional da Bancoop no Guarujá. A cooperativa se tornou insolvente, e a OAS assumiu as obras.