O Estado de São Paulo, n. 44.685, 20/02/2016. Política, p. A6

Na TV, Lula não cita apurações e fala de futuro

Ex-presidente gravou participação em programa do PT que vai ao ar na terça-feira, no qual lideranças vão reconhecer erros de petistas

Por: Ricardo Galhardo

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou anteontem uma participação para o programa de TV do PT que vai ao ar em rede nacional na próxima terça-feira.

Lula não vai falar das investigações das quais é alvo. Conforme fontes do PT, o foco do programa é o futuro próximo com ênfase na necessidade de retomar o crescimento econômico e restabelecer a estabilidade política. Lideranças da sigla devem, no entanto, reconhecer erros cometidos por petistas tanto na área administrativa quanto na esfera ética.

Segundo fontes que tiveram acesso à gravação, a participação de Lula chancela o conceito central do programa, que tenta passar uma imagem otimista em relação ao futuro do País, apesar da crise, e defende a união nacional em torno de interesses comuns em detrimento da disputa política acirrada notada desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014.Conforme relatos, Lula diz que, apesar da crise, o Brasil tem plenas condições de voltar a crescer e a situação ainda é melhor do que antes da chegada do PT ao governo.

O programa sugere ainda uma reflexão sobre a intolerância que tem marcado o debate político nacional. Na quarta-feira, por exemplo, militantes contra e a favor de Lula entraram em confronto na porta do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, onde estava marcado um depoimento do petista ao Ministério Público Estadual sobre o apartamento tríplex no Guarujá.

 

Frases. Em entrevista ao Estado publicada domingo, o diretor do programa, Edson Barbosa, disse que o novo conceito da comunicação petista mistura uma frase do papa Francisco, que recomendou aos políticos que “baixem o vidro” e ouçam a população, com outra do guerrilheiro Ernesto Che Guevara, “há que endurecer mas sem perder a ternura jamais”.

Numa projeção para o futuro, Barbosa chamou Lula de “Cassius Clay da caatinga”, numa referência ao boxeador Mohamad Ali, que em 1974 recuperou o título mundial contra George Foreman contrariando analistas que decretaram prematuramente o fim de sua carreira.

_______________________________________________________________________________________________________

Sócio de sítio pede suspensão de investigação

Por: Luciana Nunes Leal / Ricardo Brandt / Fausto Macedo

 

A defesa do empresário Jonas Suassuna,um dos proprietários do sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protocolou ontem no Supremo Tribunal Federal uma reclamação com pedido de suspensão da investigação sobre a propriedade.

Os advogados Ary Bergher, Raphael Mattos e Mauro Gomes de Mattos alegam que não puderam fazer cópia do inquérito da Lava Jato que apura a ligação do ex-presidente com o sí- tio e as obras feitas no local por empreiteiras investigadas e que têm contratos com o governo.

Segundo os advogados, a Procuradoria da República no Paraná concedeu “apenas vista do procedimento, condicionada, ainda, a determinado dia e lugar” e não permitiu reprodução dos documentos. Os advogados pedem ainda suspensão do depoimento de Suassuna à força-tarefa da Lava Jato, marcada para o próximo dia 25, se os documentos não forem liberados.

Os advogados de Suassuna pedem o cumprimento de súmula do STF que garante aos defensores acesso aos elementos de prova. Eles sustentam que o Ministério Público Federal impôs “condições abusivas, violando a igualdade de condições entre advogados e membros do Ministério Público”.

No início da semana, os advogados informaram à força-tarefa que Suassuna gostaria de prestar esclarecimentos sobre o sítio e abriria mão dos sigilos bancário e telefônico para facilitar as investigações. Segundo os advogados, Suassuna é dono de parte do sítio e nega qualquer envolvimento de Lula na aquisição do imóvel.

Suassuna comprou o sítio em sociedade com o empresário Fernando Bittar. Os dois são sócios de um dos filhos de Lula, Fábio Luís Lula da Silva.

 

Acesso. A defesa de Bittar pediu ao juiz federal Sérgio Moro acesso ao inquérito da Polícia Federal que investiga a compra da propriedade, em 2010, e as obras realizadas no local supostamente feitas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht, com a atuação do pecuarista José Carlos Bumlai – amigo de Lula.

O criminalista Alberto Zacharias Toron,defensor de Bittar,informa no pedido que, desde que seu cliente foi intimado,“inúmeras” reportagens têm sido publicadas, entre elas notícias sobre suposto envolvimento de empreiteiras investigadas por corrupção na Petrobrás e sobre a abertura de um inquérito específico sobre o imóvel rural.O pedido foi apresentado a Moro no inquérito que apura executivos da OAS. / LUCIANA NUNES LEAL, RICARDO BRANDT e FAUSTO MACEDO

 

Interesse

“Considerando o inegável interesse (de Bittar) no objeto do IPL (inquérito policial) que veio a ser instaurado para apuração de aquisição de sítio de sua propriedade, requer-se vista e cópia do procedimento”

Alberto Zacharias Toron

ADVOGADO DE FERNANDO BITTAR

_______________________________________________________________________________________________________

Vaccari ficará em silêncio sobre tríplex

 

A defesa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, condenado por corrupção na Operação Lava Jato, informou à Justiça Federal no Paraná que ele vai ficar em silêncio caso tenha de depor no inquérito que investiga a suspeita de ocultação de patrimônio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia, envolvendo um tríplex no Guarujá (SP).

Como Vaccari está preso em Curitiba, o Ministério Público de São Paulo precisa solicitar ao juiz Sérgio Moro autorização para tomar seu depoimento.

A audiência, que seria realizada no Ministério Público do Paraná, já estava marcada para o dia 24, mas foi suspensa após um recurso do deputado petista Paulo Teixeira (SP) contra o promotor paulista Cássio Conserino, responsável pelo caso, ser acatado pelo Conselho Nacional do Ministério Público. O órgão suspendeu os atos da investigação – inclusive os depoimentos do ex-presidente Lula e da ex-primeira-dama, marcados para a terça-feira passada.Na petição a Moro, a defesa pede que o depoimento não seja realizado para evitar custos de deslocamento de Vaccari.

 

Bancoop. Marisa Letícia adquiriu cotas do empreendimento da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) no período em que Vaccari presidia a instituição, de 2004 a 2010. A cooperativa, contudo, se tornou insolvente e, em 2009, o empreendimento foi repassado para a empreiteira OAS. O ex-tesoureiro é réu na Justiça Federal de São Paulo no processo que aponta desvio de R$ 70 milhões dos cofres da Bancoop durante sua gestão.

Segundo divulgou o Instituto Lula, com a transferência do empreendimento da cooperativa para a empreiteira OAS, a mulher do ex-presidente não aderiu ao contrato com a nova incorporadora e a família decidiu abrir mão do apartamento e receber de volta o valor investido.

Na próxima terça-feira, o plenário do Conselho Nacional do Ministério Público vai analisar a liminar do conselheiro Valter Shuenquener que acatou parcialmente o pedido do deputado petista Paulo Teixeira e suspendeu os depoimentos da investigação. Os promotores responsáveis pelo caso afirmaram que vão recorrer da decisão do conselheiro para tentar reverter a suspensão das audiências. / F.M. e MATEUS COUTINHO

 

Congresso. Vaccari na CPI dos Fundos de Pensão

Órgãos relacionados:

  • Congresso Nacional