Título: Grécia não atinge metas de ajuste
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 03/10/2011, Economia, p. 9
Apesar de medidas como a demissão em massa de funcionários públicos, recessão impedirá o país de reduzir o deficit para 7,6% do PIB
Atenas ¿ Mesmo com todas as medidas de austeridade adotadas nos últimos meses, o governo da Grécia admitiu ontem que não atingirá as metas de redução do deficit orçamentário de 2011 e de 2012 determinadas no plano de resgate da economia do país aprovado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o que pode trazer novas complicações para a relação do governo grego com os credores. Segundo comunicado distribuído ontem pelo Ministério das Finanças, o resultado negativo de 2011 será equivalente a 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ficando acima da meta de 7,6%. No próximo ano, o rombo deve cair para 6,8% do PIB, mas, ainda assim, não alcançará o objetivo de 6,4%.
As projeções constam do esboço do orçamento para 2012, aprovado ontem pelo gabinete chefiado pelo primeiro-ministro Georges Papandreou, que deu ainda sinal verde para o plano de redução do número de funcionários públicos anunciado há duas semanas, pelo qual até 30 mil servidores podem ser demitidos. Esses funcionários serão colocados em uma "reserva trabalhista" e ficarão recebendo apenas 60% dos vencimentos pelos próximos 12 meses. Se até lá não forem remanejados para outras áreas, serão dispensados.
A proposta orçamentária será formalmente apresentada hoje ao parlamento grego e deve ser aprovada até o fim do mês. As novas projeções podem obrigar o governo a cortar mais 6,6 bilhões de euros em despesas públicas por meio de novas medidas de austeridade, se os credores não se revelarem dispostos a continuar liberando os recursos do plano de socorro à economia do país.
Na semana passada, inspetores da União Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI vasculharam as contas do governo para avaliar se está havendo progressos no ajuste das contas públicas. Dessa avaliação depende a liberação de uma parcela de 8 bilhões de euros do programa de ajuda de 110 bilhões aprovado ainda em 2010 para socorrer a economia grega.
"Ainda faltam três meses críticos para terminar 2011 e a estimativa final de 8,5% de deficit do PIB pode ser atingida caso os mecanismos de Estado e os cidadãos respondam de acordo", informou o comunicado, distribuído ao fim da reunião do gabinete. De acordo com fontes do governo grego, o país não conseguirá cumprir as metas de redução do deficit porque enfrenta uma recessão pior que a esperada.
Piora A economia do país deverá enfrentar uma contração de 5,5% neste ano (em vez de 3,8%, como previsto anteriormente) e de 2% em 2012. Esse desempenho está de acordo com as estimativas divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no mês passado, mas é muito pior que as projeções utilizadas em julho, quando foram fechadas as negociações que culminaram com a definição de um segundo pacote de socorro ao país, no valor de 159 bilhões de euros. Na época, acreditava-se que a economia grega entraria em rota de crescimento a partir de 2012.
Com a recessão mais aguda do que o previsto, a arrecadação de tributos não atinge o volume esperado, o que torna mais difícil reduzir o deficit do orçamento. Os credores, por sua vez, alegam que o governo não tem conseguido avançar com as reformas necessárias e cobram um reforço nas medidas de austeridade, o que só tem aumentado os protestos de trabalhadores e da população em geral contra a alta de impostos, o corte de salários e a redução do nível de vida na Grécia.
Alerta de Cameron A Europa deve urgentemente acertar o seu sistema bancário e gerenciar suas dívidas, afirmou ontem o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Ele advertiu que a crise da Zona do Euro pode prejudicar a recuperação da economia da Grã-Bretanha e o crescimento global. Cameron prometeu manter os planos de sua coalizão conservadora-liberal-democrata para redução do deficit, apesar dos sinais de estagnação da economia do país. Ele também sustentou que o Reino Unido deve continuar como parte da União Europeia, decepcionando a direita do seu partido, que vê a crise como oportunidade para encerrar quatro décadas de integração com os parceiros do continente. Cameron, no poder desde maio de 2010, está cada vez mais preocupado com a estagnação na economia britânica.
--------------------------------------------------------------------------------