O globo, n. 30128, 01/02/2016. País, p. 6

CUNHA É ACUSADO DE RECEBER PROPINA EM CINCO NOVAS CONTAS

Para deputados, peemedebista volta do recesso enfraquecido
Por: Gabriel Cariello/Júnia Gama

 

GABRIEL CARIELLO E JÚNIA GAMA

opais@ oglobo. com. br

 

RIO E BRASÍLIA- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), é acusado de receber propina em cinco contas no exterior que, até o momento, eram desconhecidas. A informação foi publicada ontem pelo jornal “Folha de S. Paulo”, baseada em depoimentos dos empresários Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, após acordos de delação premiada com a Procuradoria- Geral da República ( PGR). Caso confirmadas, as cinco contas se somariam às outras quatro que já haviam sido reveladas. Cunha nega a existência das contas.

De acordo com os empresários, foram repassados US$ 3,9 milhões a cinco contas: Korngut Baruch, no Israel Discount Bank ( Israel); Esteban García, no Merril Lynch Bank ( EUA); Penbur Holdings, no BSI ( Suíça); Lastal Group, no Julius Bär ( Suíça); e Lastal Group, no Bank Heritage ( Suíça). Os repasses foram realizado entre 10 de agosto de 2011 e 19 de setembro de 2014.

Procurado, Cunha afirmou que “não existe qualquer fato novo na matéria que imponha nova manifestação”.

A PGR investiga se Cunha recebeu propina para garantir a liberação de recursos do FGTS para o financiamento das obras do Porto Maravilha, no Rio, conforme já tinha informado o GLOBO em dezembro do ano passado. De acordo com a revista “Época”, o valor poderia chegar a R$ 52 milhões. O consórcio Porto Novo, encarregado da execução do projeto, é formado pela Carioca Engenharia, OAS e Odebrecht.

Em depoimento à PGR, segundo a revista, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior confessaram ter pago suborno a Cunha, em 36 prestações depositadas em um banco israelense. De acordo com a “Folha de S. Paulo”, as transferências tinham cinco bancos como destino, segundo tabela entregue pelos empresár ios à P GR. O documento é mantido sob sigilo.

No dia 15 de dezembro, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na residência oficial de Cunha, em Brasília, e em sua casa e escritório, no Rio de Janeiro.

 

Poder de fogo em xeque na volta do recesso

Depois de um ano no qual Cunha demonstrou grande poder de fogo contra o governo e demais adversários, há dúvidas agora sobre como ele vai retornar do recesso do Legislativo, que termina hoje. Com a retomada dos trabalhos em Brasília, o presidente da Câmara voltará a enfrentar o processo de cassação do seu mandato no Conselho de Ética. Além disso, há o pedido de afastamento do mandato feito pela PGR, que pode ser respondido já em fevereiro pelo Supremo Tribunal Federal ( STF).

Formou- se entre parlamentares e integrantes do governo uma avaliação generalizada de que Cunha — abandonado pela oposição nos últimos meses do ano passado e sob críticas pela forma autoritária como conduziu a Câmara — retoma os trabalhos enfraquecido.

Haverá ainda a disputa pela liderança do PMDB. Cunha será derrotado caso o atual líder, Leonardo Picciani ( PMDBRJ), seja reconduzido. Ele concorre com o deputado Hugo Motta ( PMDBPB), cuja candidatura foi gestada pelo presidente da Câmara.

Auxiliado pelo governo, Picciani vem ganhando apoios. Primeiro, seu adversário Leonardo Quintão ( PMDB- MG), que no ano passado chegou a ocupar a liderança por uma semana com o apoio de Cunha, abdicou da disputa e passou a apoiar a recondução do atual líder. Na semana passada, mais um voto que era tido como certo para a candidatura de Motta migrou para Picciani: o de Newton Cardoso Junior ( PMDB- MG).

Envolvido diretamente na disputa, Cunha mostrou- se irritado com o fato e garantiu a pessoas próximas que trabalhará como for preciso para vencer.

Por outro lado, mesmo não estando em seu melhor momento, o presidente da Câmara estará à frente do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ele comandará os prazos e a formação da comissão especial que analisará o tema, o que lhe confere ainda um poder considerável. Além disso, Cunha dita o ritmo do processo legislativo, com autonomia para pautar os temas de interesse do governo durante um ano em que a aprovação de medidas para reativar a economia será vital. E caso consiga colocar Motta na liderança, verá seu poder de influência ampliado significativamente.

No governo, há dúvidas sobre o afastamento de Cunha do cargo, seja pelo STF, seja pelo Conselho de Ética. Auxiliares da presidente Dilma torcem para que ele continue no comando da Câmara até que o cenário político- econômico comece a dar sinais de melhora. Segundo este raciocínio, é melhor continuar a ter Cunha como antagonista neste momento de crise.

— O ideal é ele sair quando o governo começar a se recuperar, porque hoje a população direciona a ele parte da insatisfação e isso traz certo alívio para o governo — afirma um ministro.