Valor econômico, v. 16, n. 3967, 21/03/2016. Política, p. A6

Kátia Abreu avalia deixar ministério e PMDB

Cristiano Zaia

A crise política que cerca o governo da presidente Dilma Rousseff já ameaça até mesmo a permanência de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura. Amiga de Dilma e um dos ministros mais próximos à presidente, Kátia vive um dilema entre continuar ao lado de Dilma, numa gestão ameaçada pelo risco de impeachment, ou entregar seu cargo como defendem muitos partidários do PMDB, sua legenda e do vice-presidente Michel Temer.

Pressionada por várias entidades do agronegócio que passaram a defender abertamente o impedimento de Dilma, Kátia Abreu, contudo, ainda não tomou a decisão. Mas já avalia sair do próprio partido, onde enfrenta resistências de integrantes da cúpula, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), dizem fontes do governo e do Congresso.

Os pemedebistas, que decidem no fim deste mês se desembarcam ou não do governo Dilma, gostam de lembrar que Kátia se tornou ministra na cota pessoal da presidente e não por indicação do partido.

Amigos, empresários do agronegócio e políticos ligados à ministra relatam que Kátia tem demonstrado bastante preocupação com a instabilidade política do governo, que tem integrantes investigados na Operação Lava-Jato. E que teria perdido o controle de sua base de sustentação política, aí incluída a própria CNA, entidade máxima de representação da agropecuária no país, que ela presidiu por oito anos.

Na última semana, instituições como Aprosoja, Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Sociedade Rural Brasileira (SRB), Federação de Agricultura do Mato Grosso (Famato) e a bancada ruralista do Congresso soltaram notas e comunicados apoiando o impeachment ou demonstrando sua insatisfação com a dificuldade de o governo propor saídas para as crises política e econômica.

Um interlocutor da ministra diz que Kátia, que anteriormente foi filiada a partidos que fazem oposição ao PT e ao governo, também se sente muito desconfortável com a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil.

Segundo uma fonte, a ida de Lula para o governo, "desarruma" a rotina que Kátia tem com Dilma. E a deixa vulnerável, porque se acontecer o impeachment e ela estiver no governo, a sua situação ficará ruim junto ao agronegócio.

A avaliação é de que com a volta de Lula ao poder correm risco vitórias políticas importantes alcançadas por Kátia - como na queda de braço com o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, para ampliar os recursos do Plano Safra no ano passado -, possíveis graças ao fato de Dilma "ter a caneta" e à boa relação construída por ambas.

Kátia inclusive avalia a possibilidade de retornar ao PSD, partido da base aliada do governo, de onde saiu em 2013 para ingressar no PMDB. O Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, apurou que o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que é presidente do partido, já teria convidado Kátia para se reincorporar à sigla e permanecer no governo, caso abandone o PMDB. A ministra tem aspirações políticas de governar seu Estado, Tocantins, e até formar uma chapa para concorrer às eleições presidenciais no futuro.

Essas incertezas políticas já fazem Kátia cogitar uma volta ao Senado, onde ainda teria mais sete anos de mandato pela frente - ela foi reeleita em 2014. Nesse cenário, a senadora também retomaria a presidência da CNA.

Um dirigente sindical do setor agropecuário, que é amigo de Kátia Abreu, avalia que permanecer no ministério seria um sacrifício político muito grande. Segundo ele, a aposta de ficar com Dilma feita por Kátia coloca-a na "frigideira", em função da atual conjuntura política.

 

A ausência de Kátia foi percebida por participantes da cerimônia de posse de Lula como novo ministro na sexta-feira. A ministra estava em Goiânia onde seu pai, que morreu por complicações de um câncer, estava sendo velado. Procurada, a ministra não quis comentar.