Valor econômico, v. 16, n. 3967, 21/03/2016. Política, p. A7

PP e PR crescem com trocas partidárias

Raphael Di Cunto

Thiago Resende

Encerrada sábado, a janela para que deputados trocassem de partido fortaleceu duas siglas do "centrão" da Câmara dos Deputados e reduziu a fragmentação do Congresso - com praticamente a extinção de duas das novas legendas que surgiram na onda de criação de novas agremiações para burlar a regra da fidelidade partidária e de dois nanicos.

PP e PR foram os que mais cresceram e se tornaram peças importantes no tabuleiro, seja para o PT tentar evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, seja para dar suporte a um possível governo Michel Temer (PMDB). Insatisfeitos com o Ministério da Integração Nacional, os pepistas rivalizam hoje como terceira maior força da Câmara e avançaram de 40 para 48 deputados.

O PR, a frente do Ministério dos Transportes, foi de 34 para 40 deputados. O líder do partido, Maurício Quintella (AL), é cotado para suceder Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no comando da Câmara. Já o PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, vem perdendo capital político: teve saldo negativo de três deputados e está com 31.

Os dois partidos que lideram a coalizão tiveram movimentos opostos. Enquanto o PT perdeu um deputado, o PMDB ganhou cinco. São 59 petistas no exercício do mandato, contra 86 eleitos em 2010. Os pemedebistas agora são 69. Já o PSDB viu a desfiliação de quatro deputados, incluindo o Delegado Waldir, mais votado na história de Goiás, que foi para o PR ser candidato à Prefeitura de Goiânia. Mas ganhou três e ficou com 51.

As mudanças ocorreram por vários motivos: insatisfação com a direção da legenda, candidatura a prefeito e oferta de maior controle sobre as instâncias partidárias ou apoio financeiro. Algumas até por questões ideológicas, como Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo que foi para o PSOL por discordar do apoio do PSB a pautas "conservadoras".

A atual janela serviu ainda ao fortalecimento de uma das legendas nanicas, o PTN, que triplicou sua bancada de quatro para 13 deputados ao deixar PTC, PRTB, PSDC e PMN sem representantes na Câmara, o que reduziu de 30 para 26 partidos no Congresso.

Na contramão do que ocorreu nos últimos anos, com o acentuado definhamento do partido, esta é a primeira janela em que o DEM cresce. A sigla de oposição recebeu seis deputados - todos de partidos governistas- sem perder nenhum. Tem hoje 27 deputados, um quarto do que tinha há 20 anos.

Caso emblemático, o deputado Adalberto Cavalcanti (PE) passou por três siglas nos 30 dias da janela. Ao fim, voltou à sua bancada original, o PTB. Ele já havia se deslocado para o PMB para ser presidente estadual do partido. Mas o PMB foi esvaziado e ficou com menos de nove deputados federais - número mínimo para que candidatos participem de debates eleitorais. Ele almeja a Prefeitura de Petrolina (PE).

Cavalcanti foi, então, para o PTdoB, que ensaiava um crescimento que não se confirmou. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, que é do PTB, convidou Cavalcanti para retornar à legenda, cuja bancada caía para 18 integrantes na Câmara. "Não tinha como eu prever o que iria acontecer com o tamanho dos partidos", justifica.

Um dos partidos pelo qual passou, o PMB, surgiu no fim do ano como opção para quem estava insatisfeito em sua sigla, mas imaginava que o Senado não aprovaria a abertura da janela. 21 deputados se filiaram, garantindo R$ 1,2 milhão de fundo partidário por mês. Mas o descumprimento de acordos por parte da direção nacional levou à debandada. Só sobrou um parlamentar - e opolpudo fundo.

Segundo quem deixou a legenda, a cúpula não honrou o compromisso de dar o comando estadual para os deputados e destituiu aliados indicados para presidir os diretórios municipais. A reclamação é ouvida também de parlamentares que foram para o Pros em 2013 e aproveitaram a janela para pular fora. Dos 11 eleitos e três suplentes, restaram só quatro deputados. Desde dezembro, três parlamentares que exerceram o cargo de líder da bancada resolveram sair.