O globo, n. 30130, 03/02/2016. País, p. 8

MICROCEFALIA: CASOS CONFIRMADOS SOBEM 49,6% NO PAÍS EM 7 DIAS

Autoridades do Texas relatam transmissão do zika através de relação sexual

 

RENATA MARIZ

renata.mariz@bsb.oglobo.com.br
 
- BRASÍLIA- O número de casos já confirmados de microcefalia subiu 49,6% no país em uma semana, passando de 270 para 404, de acordo com informe divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. Já o número de casos suspeitos subiu 14,4% no mesmo período, de 4.180 para 4.783. Deste número total, 3.670 casos continuam sob investigação das autoridades de Saúde ( 222 a mais que na semana passada) e 709 já foram descartados.

O Ministério da Saúde informou também que em 17 casos de microcefalia ficou comprovada a relação com o vírus zika, embora a Organização Mundial da Saúde ( OMS) ainda não reconheça esta relação oficialmente. Os dados do boletim vão até 30 de janeiro. No Estado do Rio, os registros de casos suspeitos passaram de 122 para 208, um aumento de 70%. Mas, desse total, 10 já foram descartados, e dois, confirmados.

 

MAIS OITO MORTES

As mortes supostamente relacionadas à doença também subiram, de 68 para 76. Em 15 casos foi confirmada a microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso como causa dos óbitos. Para cinco deles, houve identificação do vírus zika no tecido fetal das vítimas. Outros cinco casos foram descartados, e 56 continuam sob investigação.

Segundo o Ministério da Saúde, há 22 unidades da Federação com transmissão interna de zika no país: Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Roraima, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. O Nordeste tem 82% dos casos suspeitos.

Numa conversa do ministro da Saúde, Marcelo Castro, com a secretária de Saúde dos Estados Unidos, Sylvia Burwell, ontem, ficou acertada a vinda de pesquisadores dos Estados Unidos ao Brasil, provavelmente no dia 20 deste mês, para discutir com cientistas do país o desenvolvimento de testes, vacinas e remédios contra o vírus zika. Os estrangeiros trabalharão com técnicos do Instituto Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz) e do Instituto Butantan.

Em outra frente, a presidente Dilma Rousseff fará hoje, às 20h20m, um pronunciamento sobre a epidemia de microcefalia relacionada à zika. Com o auxílio de seu marqueteiro, João Santana, Dilma gravou a mensagem na última segunda- feira. Ela fará um “chamamento” a todos os brasileiros para que ajudem no combate ao mosquito. O governo busca, com a fala presidencial, uma mobilização intensa da população. A presidente também vem exigindo o engajamento de todos os ministérios.

O governo vem batendo na tecla de que evitar o Aedes aegypti é a única forma de combater a epidemia, já que não existem vacina ou remédios para o zika. Marcelo Castro informou durante uma reunião com conselheiros de Saúde, ontem, que o Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um soro e de anticorpos para serem usados por quem contrair a doença no futuro.

Autoridades de Saúde de Dallas, no estado do Texas, Estados Unidos, relataram ontem um caso de transmissão sexual do vírus zika. Um paciente foi infectado após ter relações sexuais com uma pessoa que foi picada por um mosquito na Venezuela, país onde o vírus é disseminado.

“O serviço de Saúde do condado de Dallas recebeu a confirmação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças ( CDC) do primeiro caso de zika vírus sexualmente transmitido no condado de Dallas em 2016”, disse um comunicado: “O paciente foi infectado com o vírus após uma interação sexual com um indivíduo doente que voltou de um país onde o zika vírus está presente”.

Apesar de citado pelo condado de Dallas, o CDC disse que não investigou como ocorreu a transmissão do vírus. A Organização Pan- Americana de Saúde ( Opas), por sua vez, disse que serão necessárias mais evidências para que seja comprovada a possibilidade de transmissão sexual.

A relação entre casos de microcefalia e a infecção do vírus, ainda investigada, foi tratada como emergência internacional pela Organização Mundial de Saúde. Segundo Zachary Thompson, autoridade de Saúde de Dallas, é preciso tomar mais cuidados para evitar a transmissão da doença.

— Agora que nós sabemos que o vírus zika pode ser transmitido sexualmente, isso nos dá mais fundamentos para campanhas educativas voltadas para a proteção da população.

Thompson também acrescentou que o melhor método de prevenção contra a infecção é o uso de camisinhas. A transmissão sexual do vírus teve seu primeiro relato em 2008, quando um pesquisador americano do estado do Colorado voltou de uma viagem ao Senegal com sintomas de zika. Sua mulher, que não saía dos Estados Unidos fazia mais de um ano, também desenvolveu a doença dias depois.