Valor econômico, v. 16, n. 3966, 18/03/2016. Política, p. A8

Bancadas pemedebistas faltam às posses

Vandson Lima

Murillo Camarotto

Daniel Rittner

Os principais articuladores do PMDB não compareceram ontem à posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como novo ministro da Casa Civil.

Em um movimento combinado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o líder do PMDB Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (PMDB-RR) - triunvirato que comanda as ações na Casa e tem se reunido diariamente na residência oficial do Senado para discutir desfechos da crise - optaram por não aparecer na cerimônia. O governo tem em Renan um de seus poucos elos na frágil interlocução com o Congresso Nacional.

Segundo relatos, a revelação dos grampos telefônicos que implicam Lula e a presidente Dilma Rousseff foi decisiva no cálculo dos pemedebistas. Ao chegar ao Congresso, Renan buscou se colocar distante tanto da base do governo quanto da oposição ao justificar sua ausência. "Nada que possa parecer partidarização merece ter a minha presença", justificou.

Durante 2015, Renan se portou ora como franco oposicionista, depois como insuspeito aliado. Agora, diz que pretende se pautar pela neutralidade, até por conta do cenário de crise. "Qualquer presença que permita a leitura de que nós estamos desequilibrando o cenário, perdendo a isenção e partidarizando o debate não é bom para o país e para a democracia. Meu papel precisa ser de absoluta isenção. Não devo ser nem oposicionista nem governista".

A oposição, que compareceu ao Senado em peso para uma quinta-feira, cobrou que o PMDB "saia de cima do muro" e assuma posição efetiva no processo que pode levar à destituição de Dilma. "O que queremos objetivamente é uma posição do PMDB. É o fiel da balança. Argumentos para o impeachment agora estão sobrando, inclusive por obstrução de Justiça, que é crime de responsabilidade. O PMDB tem que sair do muro", disse o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima. Para o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), o PMDB já está ciente de que terá de ter lado na disputa. "A ficha deles já caiu. O povo já derrubou o muro. Não dá para o PMDB ter duas teses".

No plenário do Senado, os ânimos exaltados tomaram conta dos discursos. Parlamentares da base governista e da oposição bateram boca e trocaram acusações. Em dado momento, uma discussão levou o senador tucano Ataídes Oliveira (TO) a chamar para a briga o petista Lindbergh Farias (RJ).

Zezé Perrella (PDT-MG) fazia duro discurso contra Lula, dizendo ter ficado "magoado" com citações do episódio em que um helicóptero da família do senador foi encontrado com 450 kg de cocaína. Perrella e os seus foram inocentados posteriormente. "Para o senhor ver, sr. Lula, como a vida dá voltas. Deu várias entrevistas dizendo: 'o helicóptero é do Perrella, o piloto é do Perrella e ao droga é de quem?'. Os donos das drogas estão todos na prisão, graças a Deus. É o mesmo lugar que espero que o senhor vá", atacou Perrella, dizendo que já chegou a admirar Lula, "mas ele é muito bandido".

O líder da bancada petista, Paulo Rocha (PT-PA), entrou na discussão para fazer a defesa de Lula. De costas para a mesa da presidência, colocou o dedo em riste contra Aécio Neves (PSDB-MG), a quem acusou de tentar insuflar a população contra o governo.

Foi neste momento que o senador Ataídes, que já havia causado conflito no plenário ao chamar Lula de "m***" duas vezes, disse aos berros que Paulo Rocha deveria se virar para frente, pois estava ferindo o regimento da Casa. Lindbergh Farias (PT-RJ) entrou na discussão. "Fica na sua". Ataídes então o chamou para a briga. "Vem, vamos resolver lá fora!". "Eu não te levo a sério, rapaz", respondeu Lindbergh, enquanto outros senadores entraram e apaziguaram.

Na mesma cerimônia em que Lula foi empossado, o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) assumiu o comando da Secretaria de Aviação Civil. Indicado pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o novo ministro, no entanto, não contou com a presença de seus padrinhos na plateia.

Lopes fez elogios ao ex-presidente Lula e garantiu que não corre o risco de ser expulso do partido. Na convenção realizada no último final de semana, o PMDB definiu que nenhum membro poderia aceitar cargos no governo federal por 30 dias, até que a permanência da sigla na base aliada fosse reavaliada. Como foi indicado antes da convenção, Lopes decidiu assumir o ministério e virou alvo da comissão de ética do PMDB.

Ele se diz certo de que não corre riscos. "O presidente [do PMDB] Michel Temer já estava ciente de que eu iria assumir. Estou tranquilo", afirmou Lopes. A seu ver, a proibição de assumir novos cargos foi "precipitada".

 

Apesar de ter patrocinado a indicação de Lopes, a bancada governista do PMDB não compareceu à cerimônia de posse. A justificativa do novo ministro foi de que, no momento da solenidade, os parlamentares estavam definindo a formatação do bloco que participará da comissão do impeachment da presidente Dilma.