Valor econômico, v. 16, n. 3966, 18/03/2016. Política, p. A8

Ministério Público "não tem medo de nada", diz Janot

Assis Moreira

O Ministério Público "não tem medo de nada" e o foro privilegiado para Luiz Inácio Lula da Silva não vai mudar em nada as investigações contra ele, avisou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na Suíça, quase ao mesmo tempo em que Lula tomava posse em Brasilia.

Para Janot, ser ministro "não blinda ninguém" e avisou o que vai acontecer a partir de agora: "Vou pegar os processos que estão em Curitiba e vou trazer para o Supremo tal qual aconteceu em Curitiba, sem diferença nenhuma" - ou seja, a firmeza vai ser na linha do juiz Sergio Moro.

Ele destacou que o Supremo Tribunal Federal teve atuação republica no mensalão, notando que quem pensava de outra forma mudou de ideia, e acredita que essa atuação vai continuar nos outros casos de corrupção.

Na Suíça, onde se encontrou com o procurador-chefe desse país, Janot foi enfático em conversa com os jornalistas ao insistir que ninguém está fora de investigação, em referência ao caso que pode ser aberto contra a presidente Dilma Rousseff. Disse que o exame de eventual pedido de abertura de inquérito vai ser feito em base jurídica porque o Ministério Público "não agepoliticamente".

Indagado se se considerou pressionado com as declarações de Lula de que ele era ingrato, Janot afirmou: "Não. O Ministério Público tem que ter couro grosso. Tem que reagir com tranquilidade, tecnicamente, mas destemidamente. O Ministério Publico não tem medo de nada."

Janot foi nomeado o procurador-geral pela presidente Dilma Rousseff. E no grampo liberado pelo juiz Sergio Moro, Lula reclama com um advogado do PT que Janot "recusou quatro pedidos de investigação ao Aécio [Neves, senador por Minas Gerais e presidente do PSDB] e aceitou a primeira de um bandido do Acre contra mim". E completa: "Essa é a gratidão. Essa é a gratidão dele por ele ser procurador."

Em sua resposta a Lula, Janot foi incisivo, procurou salientar que está no cargo por mérito. "Os cargos públicos não são dados de presente e estudei pra caramba", referindo-se aos esforços feitos para se tornar procurador, e deixou claro que é grato à sua família. Disse que entrou no serviço público por concurso e tem 32 anos de carreira.

Diante do clima de tensão no país, Janot pediu calma aos brasileiros, e reiterou que o combate à corrupção vai continuar "firme e forte". "O Ministério Público vai continuar atuando, independentemente de qual instância seja. O Brasil atravessa um problema e temos que ter calma para enfrentar esse problema", disse ele.

 

Para Janot, "a pauta política não pode contaminar a pauta jurídica. E vou atuar dessa maneira, juridicamente e tecnicamente, sem nenhuma contaminação política de um lado ou de outro."